Relacionamentos Reais x Relacionamentos Virtuais
Concordo, em parte, com Zygmunt Bauman [1] e Umberto Eco[2]. O primeiro diz que os relacionamentos amorosos e as inter-relações geradas pelas conexões virtuais são efêmeras. O segundo diz que as redes sociais deram voz a uma "legião de imbecis", que antes não prejudicavam a coletividade.
Analisemos: a tecnologia digital nos proporcionou, além do que esses grandes pensadores afirmam, uma relação transversal que inexistia. Quero aqui enfatizar seus aspectos positivos, não considerando somente uma análise niilista dos fatos.
É verdade que as novas tecnologias, incluindo redes sociais, TV a cabo, telefonia e aplicativos digitais deram uma nova cara às relações interpessoais e até mesmo intrapessoais o que, por muitas vezes, causa alienação, isolamento e por consequência a potencialização de doenças psicossociais.
Mas, se nos ativermos aos pontos consideráveis positivos, temos uma técnica dialógica e humanista.
Vamos ao ponto: com as tecnologias analógicas não tínhamos a possibilidade de interagir, ficávamos presos às grades impositivas que nos impossibilitavam de gerar opiniões, por mais "imbecis" que fossem.
Concordo com Eco, quando diz que as redes sociais deram voz a uma horda de imbecis, mas no entanto, se amalgamaram a uma grande legião de pensadores e estudiosos que rechaçam com veemência e veracidade as organizações que eram blindadas pelas técnicas verticais.
Relacionamentos Aleatórios x Relacionamentos Conectados
Há duas décadas, vivíamos a ambiguidade tanto nos nossos relacionamentos amorosos quanto nos interpessoais e intrapessoais.
Nos relacionamentos amorosos, por exemplo, conhecíamos pessoas no trabalho, bares, casas noturnas e outros locais, sem nos atermos, num primeiro momento, à compatibilidade de valores, imprescindível para a continuidade da relação.
Em minha opinião, por mais dúbio que pareça o relacionamento conectado, ele pode nos oferecer, se o selecionarmos de forma estratégica, a consolidação de redes inteligentes e relacionamentos duradouros, sejam eles amorosos ou de conhecimento.
Hoje, temos a opção de escolhermos nos desvincular da submissão analógica. Podemos escolher ao que assistir, devido à tecnologia digital, que nos dá as opções de conhecimento e entretenimento. Assisto a um filme de arte "A grande beleza" de Sorrentino ou a um besteirol "Os mercenários" de Sylvester Stallone?
Antes, a opção era desligar o aparelho. Hoje, podemos optar em progredir e regredir, e não ter a regressão ou o estático como as únicas opções. Os aplicativos que nos mostram tudo o que tem ao nosso redor (restaurantes, bares, estacionamentos, cinema, teatro e outros) nos dão a opção de escolher, e não nos restringirmos ao que nos é comum.
Os aspectos negativos e positivos da modernidade digital são muitos, mas não devemos generalizar, e sim, reinventar. Melhor termos uma coletividade que transita entre uma linha tênue de imbecilidade e de genialidade, do que a neutralidade submissa que não dá voz nem à idiotia nem à metafísica, e sim, à verticalidade de indivíduos e instituições de poder.
“As forças tecnológicas desencadeadas pela engenhosidade humana e a submissão coletiva ao autômato, têm fugido do controle de seus criadores.” Manuel Castells[3]
"Não são as minorias que se opõem as mídias digitais, e sim as organizações, cujas posições de poder, os privilégios e o monopólio, sobretudo em relação a soberania sobre a construção de mensagens, discursos e significados (signos) encontram-se ameaçados pela emergência dessa nova configuração comunicacional” Pierre Levy[4]
[1] Zygmunt Bauman, sociólogo polonês, iniciou sua carreira na Universidade de Varsóvia, onde teve artigos e livros censurados e em 1968 foi afastado da universidade. Responsável por uma prodigiosa produção intelectual, recebeu os prêmios Amalfi (em 1989, por sua obra Modernidade e Holocausto) e Adorno (em 1998, pelo conjunto de sua obra). Atualmente é professor emérito de sociologia das universidades de Leeds e Varsóvia.
[2] Umberto Eco (Alexandria, 5 de janeiro de 1932) é escritor, filósofo, semiólogo, linguista e bibliófilo italiano de fama internacional. É titular da cadeira de Semiótica (aposentado) e diretor da Escola Superior de ciências humanas na Universidade de Bolonha. Ensinou temporariamente em Yale, em Yale, na Universidade Columbia, em Harvard, Collège de France e Universidade de Toronto. Colaborador em diversos periódicos acadêmicos, dentre eles colunista da revista semanal italiana L'Espresso, na qual escreve sobre uma infinidade de temas. Eco é, ainda, notório escritor de romances, entre os quais O nome da rosa e O pêndulo de Foucault.
[3] Manuel Castells Oliván (Hellín, 1942) é sociólogo espanhol. Entre 1967 e 1979 lecionou na Universidade de Paris, primeiro no campus de Nanterre e, em 1970, na "École des Hautes Études en Sciences Sociales". No livro "A sociedade em rede", o autor defende o conceito de "capitalismo informacional”.
[4] Pierre Lévy, considerado o filósofo da cibercultura, é professor da Universidade de Paris e um dos principais pensadores mundiais das relações entre desenvolvimento humano e internet, vivemos uma quarta revolução na comunicação que altera o modo como aprendemos e consumimos informação
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