Crise Starbucks: comunicação interna, psicopatia e outras drogas
Após algum tempo sem escrever para minha coluna, volto ávido para interagir com você, meu leitor. Sugiro que antes de ler este artigo leia o pequeno texto que se encontra no link: Exame.com. Não deixe de visualizar o curto vídeo, que, também, é de grande importância no contexto: https://www.youtube.com/watch?v=t5qMRZNdlOg
O problema não está com a "colaboradora". A prevenção de crises deve começar pela comunicação interna para a boa gestão do ativo institucional. Sem motor um carro não anda. Sem revisão ele começa a dar problemas, e uma hora ele vai nos deixar na mão, inevitavelmente.
O que aconteceu com a funcionária da Starbucks, e a atitude que a "liderança" tomou, foi, sob minha ótica, errônea. Trataram-na como extensão da máquina, como uma peça mecânica com defeito, e a "dispensaram" para ser posteriormente substituída por outra que não apresentasse o mesmo problema. Faz parte da mecânica tradicional. É "fácil" resolver o problema: contate a mídia, redima-se perante os clientes, projete para opinião pública e pronto.
Assim, a Starbucks "comunicou": "Senhorita Chen, essa experiência não é um reflexo do serviço que nossos parceiros entregam aos nossos clientes todos os dias. Alguém da equipe de líderes entrará em contato em breve para desculpar e resolver a situação”. A rede informou que a funcionária foi demitida depois do incidente.
Como funciona a engrenagem:
As organizações continuam se utilizando de práticas atávicas, e, cada vez mais, contribuem para que a sociedade migre da neurose para necrose, como diz o grande pensador Edgar Morin.
Há uns dias, assisti o filme "O Abutre". Não quero entrar no mérito de avaliá-lo (apesar de ser excelente), mas usá-lo como case para a pragmática doentia que assola o mundo.
No trailer, um outsider sobrevive à custa de furtos de arame de cobre para revendê-los a construtoras por um preço muito abaixo do praticado pelo mercado formal. Arrisca sua liberdade diariamente, ganha migalhas e não tem o reconhecimento da sociedade.
A questão primeira que se coloca é ética: quem seria pior, o ladrão ou o receptador de mercadoria roubada?
No decorrer do filme o protagonista encontra uma forma mais eficiente, inusitada e controversa para ganhar a vida: filmar acidentes de carro, assassinatos, incêndios e toda forma de desgraça cotidiana para vender os vídeos para emissoras de televisão os utilizar em noticiários sensacionalistas. Descobre que quanto mais sórdidas forem as imagens, mais mercado terá.
Um excelente negócio que parece dar, finalmente, conta de sua ambição. O personagem começa a prosperar financeiramente, e isso o vai deixando cada vez mais envolvido e eficiente no que faz.
No decorrer do longa, essa ambição de crescer cada vez mais o transforma num verdadeiro sociopata, e desvenda a camuflada existência de outros como ele: "membros produtivos da sociedade".
Assistam. O final é estarrecedor é extremamente realista.
Trailer oficial: https://www.youtube.com/watch?v=Wf8-E7S99ag
Sociedade de Abutres
Nem todos os psicopatas estão nos seriados de TV, em instituições de saúde ou enclausurados em suas casas. Eles também estão em lugares inimagináveis: nos escritórios, "liderando", ouvindo histórias pessoais, espalhando boatos durante o happy hour da empresa.
No mundo organizacional, psicopatas se replicam como vírus, alimentados pela ambição sem limites, por uma ética própria e peculiar, impulsionados por dinheiro e poder, manipulam colegas, geram medo, perseguem e prejudicam quem possa atrapalhar os seus planos.
O psicólogo nova-iorquino Paul Babiak, coautor do livro Snakes in Suits: When Psychopaths Go to Work ( "Cobras de terno: quando psicopatas vão ao trabalho"), sem versão em português, afirma que há muito mais psicopatas em ambientes corporativos do que na população em geral.
Embora associemos o psicopata ao assassino, o comportamento das pessoas com esse distúrbio não está somente relacionado à matança, mas também à ambição, à avareza. Com charme, eles manipulam e coagem subordinados, os persuadem a cometer atos antiéticos e chantageiam sem culpa. O psicopata corporativo vive no microcosmo e tem uma identidade que reflete exatamente o macrocosmo, ou seja, o que se tornou a própria humanidade.
Referências
Babiak, Paul, Ph.D & D.Hare, Robert, Ph.D. Snakes in Suits: When Psychopaths Go to Work
Os artigos aqui apresentados n�o necessariamente refletem a opini�o da Aberje
e seu conte�do � de exclusiva responsabilidade do autor. 1839
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