Eu trabalho com a comunicação das pessoas. No contato com elas busco identificar os sinais que elas emitem, sonoramente, corporalmente, por meio de seus recursos verbais e não verbais. Observo e forneço feedbacks sobre a importância de ter a consciência de seus atributos positivos, a fim de ressaltá-los e de criar, a partir deles, sua marca própria, seu estilo pessoal. Chamo a atenção também para os eventuais pontos a serem melhorados, para se evitar ruídos na transmissão da mensagem, para garantir que a construção da percepção seja positiva. Aí geralmente proponho intervenções, por meio de técnicas e exercícios, que aperfeiçoam a comunicação e produzem impacto mais satisfatório. As pessoas se sentem felizes, contentes com o resultado, e atendidas nas suas necessidades e expectativas.
Mas geralmente eu proponho ainda ir um pouco mais adiante. E costumo ilustrar essa proposta a partir das palavras do grande Ruben Alves:
O que as pessoas mais desejam é alguém que as escute de maneira calma e tranquila. Em silêncio. Sem dar conselhos. Sem que digam: “Se eu fosse você”. A gente ama não é a pessoa que fala bonito. É a pessoa que escuta bonito. A fala só é bonita quando nasce de uma longa e silenciosa escuta. É na escuta que o amor começa. E é na não escuta que ele termina.
O cuidado com o ouvir é essencial nas interações humanas. Nós sempre nos ocupamos do falar, buscamos aprimorá-lo, nos avaliamos a partir dele e das reações que provocamos nas pessoas. O ouvir costuma ser menos considerado. Mas nas nossas interações, no nosso contato com o outro, a sua importância é muito grande.
Ouvir o outro é uma arte, uma habilidade, e requer muita disciplina; exige autocontrole e muita, muita boa vontade! Há certas regras implícitas numa conversação, e estas parecem ser assimiladas inconscientemente pelas pessoas: sabemos o momento de falar, aproveitamos as “deixas” para tomarmos a palavra, prestamos maior atenção quando o outro sinaliza mais convicção... Mas às vezes é necessário, é desejável que reflitamos sobre como tem sido o nosso comportamento perante o outro num mundo cada vez mais apressado, com tanto bombardeio de informações, com tanta urgência de tudo. É importante nos treinarmos para ouvirmos com atenção, com empatia. Isso é muito mais do que escutar; é entender a mensagem do outro, perceber todo o contexto e os sentimentos e emoções envolvidos.
Há algumas barreiras que devem ser evitadas. Evite comparar-se com quem está falando, sobrepor-se ao outro com uma história ainda melhor. Cuidado para não tentar ler a mente do outro, achar que já sabe o que ele vai dizer! Esforce-se para não submeter o que é dito ao seu filtro, e assim só ouvir o que te interessa. Evite criticar e julgar, colocar-se como o “dono da verdade”. A maioria das conversas busca apenas a troca saudável de ideias, portanto poupe os seus conselhos, controle a sua vontade de dirigir a vida do outro.
Procure desenvolver reações mais positivas, mais assertivas! Ouça com interesse genuíno, demonstre a sua atenção total, sua vontade de compreender. Substitua hábitos ruins por bons hábitos! É a melhor maneira de corrigir alguma coisa...
Faça perguntas e peça esclarecimentos sempre que não entender bem. Parafraseie seu interlocutor, ou seja, repita o que entendeu com suas palavras, a fim de certificar-se que está correto.
A demonstração de atenção e interesse em ouvir espelha o nosso cuidado com o outro. Ao se sentir assim considerado, nosso interlocutor coloca-se em tal condição favorável, que todas as possibilidades de entendimento se ampliam. É nessa escuta amorosa que a harmonia se cria, e que a comunicação cumpre mais esse papel, o de aproximar as pessoas e colocar em prática a experiência do amor.