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COLUNAS


Marco Antônio Eid


Jornalista, escritor e executivo da área de comunicação, é Diretor de Conteúdo da RV&A (Ricardo Viveiros & Associados - Oficina de Comunicação).

A última ditadura e as missões da comunicação

              Publicado em 31/03/2014
Neste 31 de março, transcorrem os 50 anos do golpe de Estado instaurador da última ditadura brasileira. É um triste fato histórico a ser sempre lembrado, como alerta para que não se repita e a sociedade repudie quaisquer movimentos reacionários sadicamente saudosos da tortura, da execução sumária de intelectuais, do êxodo de professores universitários, da intimidação de jornalistas, do atentado à liberdade de imprensa, expressão, de ir e vir e do voto cassado. 
 
Em 2014, também celebramos os 30 anos das Diretas Já, cujos desdobramentos foram muito positivos, como o restabelecimento do poder político civil, o voto popular para a Presidência da República e a Constituição de 1988, marco institucional da redemocratização. A antológica campanha é um episódio a ser comemorado com alegria e consciência, pois evidencia o poder da sociedade organizada e das manifestações pacíficas e ordeiras em prol do Estado de Direito e do atendimento aos anseios e necessidades da população.     
 
O marcante 30º aniversário das Diretas Já torna oportuno lembrar: era a noite de 25 de abril de 1984. Na sala da assessoria de imprensa da sede do governo paulista, o Palácio dos Bandeirantes, Yara Peres, então diretora da Editoria de Rádio e hoje vice-presidente da CDN, Airton Calixto, brilhante redator, e eu, à época diretor da Editoria de Mídia Impressa, nos preparávamos, jornalistas, para acompanhar a cobertura da votação, na Câmara dos Deputados, em Brasília, da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) nº5/1983, apresentada pelo parlamentar Dante de Oliveira (PMDB/MT). O projeto restabelecia a eleição direta à Presidência da República, usurpada do povo brasileiro pelo golpe de Estado de 1964. Ansiosos e esperançosos, aguardávamos, preocupados, o primeiro telefonema de nossa jovem, corajosa e competente equipe no Congresso Nacional, constituída pelas repórteres Cristina Couto, Denise Martinho (hoje também Eid, amor da minha vida) e Enerian Barbosa, sob a coordenação do saudoso colega e amigo José Wilson.
 
Num derradeiro e desesperado arroubo de truculência e autoritarismo, o general Newton Cruz, ex-chefe da ex-Agência Central do SNI (Serviço Nacional de Informações) e então comandante militar do Planalto, fazia ameaças, apontava tanques para a sede do Parlamento e conseguia cortar linhas telefônicas. Nosso intrépido time driblou tudo isso. Num dos poucos (senão único) telefones liberados, o da enfermaria da Câmara Federal, a grávida Enerian, que “passara mal”, precisando “repousar”, recebia informações de Cristina, Denise e José Wilson, perfilados entre o plenário e o posto médico. Voto a voto, recebíamos as informações em São Paulo. 
 
Na assessoria de imprensa do Palácio dos Bandeirantes, tabulávamos a marcha das apurações, alimentávamos a mídia e também transmitíamos as notícias ao governador André Franco Montoro e ao placar instalado na Praça da Sé, onde uma multidão reivindicava o direito ao voto livre. A emenda Dante de Oliveira sofreu uma derrota naquela noite. Porém, a redemocratização foi inevitável, irresistível! 
 
Voluntariamente, em paralelo às nossas atribuições na assessoria de imprensa do governo paulista, passamos a cobrir no dia a dia a campanha das Diretas Já. Num grande esforço de jornalismo, enviamos numerosas matérias dos memoráveis comícios da Praça da Sé e do Anhanbaú, bem como da cotidiana mobilização suprapartidária pró-democracia, para emissoras de rádio e jornais do Brasil todo, em especial aos que não tinham acesso às notícias sobre aquele momento histórico do civismo e da política, num tempo em que não havia celulares e internet.
 
Essa história demonstra a importância e o alcance do trabalho dos assessores de imprensa e profissionais da comunicação. Em qualquer organização ou cargo, jamais devemos nos dissociar dos valores inerentes à democracia, inatos à nossa natureza profissional. Quem trabalhou em redação nos anos da ditadura sabe o quanto era desconfortável reproduzir press releases “chapa branca” para tapar lacunas das matérias censuradas. Também deveria ser constrangedor para muitos dos colegas que tinham de produzir tais conteúdos.
 

Que bom que hoje vivemos em um país no qual podemos e temos de gerenciar crises com a mídia, defender o direito ao contraditório, desenvolver estratégias complexas para a visibilidade positiva de nossos clientes, produzir conteúdos de extrema qualidade, agir com transparência, absoluto profissionalismo e respeito à imprensa! Sim, democracia valoriza o trabalho de jornalistas e relações públicas nas empresas, governos, organizações da sociedade civil e veículos. Integramos a comunidade global da comunicação, cuja essência é a liberdade! 


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