Primeiro a invejável Kodak, cujas ações já estiveram entre as “blue chips” da bolsa de Nova York, pediu concordata. Foi em janeiro desse ano que a companhia, fundada em 1888 e pioneira nos processos fotográficos, jogou a toalha. Consequência da concorrência no segmento fotográfico, acentuada pelo surgimento da tecnologia digital. A inventora das máquinas de mão resolveu parar de fabricar câmeras, filmadoras de bolso e porta-retratos digitais para cortar custos. A proposta, a partir de agora, é core business em serviços on-line de encomenda para ampliação.
Já no mês de março, depois de 244 anos de publicação ininterrupta, a Encyclopedia Britannica anunciou que deixaria de ser impressa. A empresa, que tem no nome a palavra enciclopédia, abandonou o papel. Quem tem mais de três décadas de vida provavelmente já foi visitado por algum vendedor da Britânica. Era um sonho de consumo ter na estante seus volumosos livros, fontes de pesquisa e estudos pré Web.
Primeiramente dedicada aos monarcas britânicos, ela teve 15 edições para “sistematizar todo o conhecimento humano”. Afinal, 20 chefes de Estado já escreveram para a coleção e 110 ganhadores do Prêmio Nobel assinaram seus verbetes, do físico Albert Einstein ao arcebispo Desmond Tutu. A 15ª edição tinha belos 35 volumes, que tinham dorso verde (Propædia), dorso vermelho (Micropædia), preto (Macropædia) e ciano (Book of the Year). De agora em diante o grupo editorial se dedicará a serviços digitais, como os softwares educacionais, que respondem por 85% da receita.
Mais recentemente, no mês de outubro, a Newsweek anunciou para o final de dezembro o encerramento de sua versão impressa. Isso depois das sólidas oito décadas de conceituada circulação. Nos últimos anos os números da revista norte-americana estavam decrescendo: em 2001 eram 3,16 milhões de exemplares vendidos e distribuídos para assinantes. Uma década depois o número cairia para menos da metade.
Como hoje 39% dos norte americanos buscam informações online, diversos jornais regionais dos Estados Unidos resolveram suspender as edições impressas. Outro fato: são 70 milhões de tablets já vendidos nesse mercado. Frente a essa realidade, a Newsweek pretende ampliar sua presença em plataformas digitais e reverter a queda do número de leitores da versão impressa.
Todas essas três companhias, gigantes mundiais, seculares e famosas tiveram reviravoltas frente à internet. Agora se reinventam tendo como base de sustentação justamente o que as abalou. Com a Web, as Fênix Digitais procuram novos e poderosos nichos.
A força do virtual está aí para alegria de uns e derrota de outros. No Brasil o faturamento da internet já supera o da TV por assinatura. A transmissão ao vivo de shows e eventos esportivos transforma sites e portais em concorrentes diretos da televisão. No final de outubro, mais de seis milhões de pessoas assistiram ao “Especial Planeta Terra”. Transmitido para 18 países, foram 4,7 milhões de brasileiros online, um aumento de 30% em relação à edição de 2011.
O uso crescente das redes incrementou a venda de softwares, bem como os serviços de monitoramento dos consumidores e de seus comportamentos. Gestão de relacionamento de empresas, no ambiente digital, é uma promissora modalidade de negócios que passa pela área da comunicação. Pode ajudar a prevenir descontinuidades, prever cenários e manter perenidades. Mas isso não pode se restringir meramente a monitorar a percepção da empresa ou do produto nos “Faces” da vida. Mais que presença de marcas nas redes sociais, tem-se que pensar na forma como se relacionam com as pessoas nesses ambientes.
Kodak, Britannica e Newsweek são bons exemplos às agências de comunicação e aos profissionais da área. Todos nós devemos nos deparar com grandes mudanças. Uma delas é o abandono do papel e a migração total para os meios digitais. Afinal, sustentabilidade, imediatismo e inovação são fundamentais no setor. Em tempos de branded content é preciso mais que fazer jornalzinho, atualizar a intranet, monitorar redes e redigir blog do presidente.
Além da trajetória dessas três companhias, vai se tornar histórico o recente projeto
Red Bull Stratus. Maravilhoso exemplo de utilização da Web para comunicar ação e fazer marketing de produto. No salto do paraquedista radical, Felix Baumgartner, os touros vermelhos da marca foram à estratosfera e se tornaram o próprio conteúdo. Não gerenciou crise alguma e extrapolou o que temos como mídia. Uma certa mistura de ícone, índice e símbolo.
Sem gasto algum em mídia, a Red Bull teve matérias em 77 redes de TV, em quase todos os jornais do mundo e em 280 sites que transmitiram o evento supersônico ao vivo. E, ainda, quebrou o recorde de visualizações simultâneas no Youtube, com oito milhões de pessoas conectadas. Em uma semana já tinha 50 milhões de views.
A internet pode destroçar ou ativar uma marca. Kodak, Britannica e Newsweek sucumbiram com a internet e agora renascem com ela. E, com o projeto Stratus, a Red Bull deu ao mundo um belo exemplo de comunicação digital, marketing 3.0 ou coisa que o valha.