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COLUNAS


Marcos Ernesto Rogatto
marcos@vistamultimidia.com.br

Jornalista e Mestre em Multimeios pela Unicamp. Trabalhou na TV Manchete, Revista Veja e TV Globo São Paulo. Foi diretor de Comunicação da Prefeitura de Campinas e colaborador da Gazeta Mercantil. Há 25 anos trabalha com vídeos e multimídias corporativas. Atualmente é Diretor da produtora Vista Multimídia e participa do Grupo de Estudos de Novas Narrativas/GENN.

Uma boa História é outra História

              Publicado em 19/05/2015

Cada vez mais a memória se fortalece como valor cultural. Não apenas no sentido de relembrar vivências e sensações de tempos passados. Mas, também como capacidade de resgatar, contar e preservar histórias.

Em recente encontro no Genn (Grupo de Estudos de Novas Narrativas) tive boa noção de como o ato de contar pode transformar uma História. Isabel  Penteado, coordenadora da ONG Fazendo História, abordou os meios para que crianças ou adolescentes - que estão em serviço de acolhimento - conheçam e se apropriem de suas histórias. Um belo trabalho de registro das trajetórias de vida desses meninos e meninas que, na ausência dos pais, tem dificuldades em desenvolver narrativas sobre si mesmas.

Através de leituras, com a mediação de um adulto, elas passam a registrar suas memórias. Às literaturas se somam brincadeiras e atividades lúdicas para despertar o prazer pelo mundo dos livros. São incentivadas a serem os autores de suas próprias histórias que vão construindo a cada dia em um álbum desenvolvido pela ONG.

A criança e o adulto se encontram semanalmente, durante um ano, para atividades que culminam com a construção do livro / álbum. Uma espécie de costura de retalhos, a partir de relatos, fotos e desenhos que fazem parte de sua vida. Um processo que remete aos Griots, indivíduos que preservavam e transmitiam histórias, conhecimentos e canções de seu povo.

O antropólogo Lévi-Strauss utilizou o termo bricolage para definir um tipo de conhecimento até então chamado de primitivo. O tipo de pensamento que se guia pela intuição e pela vontade de conhecer o que está no mundo. Trabalhar com a bricolagem pressupõe produzir um objeto novo a partir de fragmentos de outros objetos, no qual se podem perceber as partes ou pedaços dos objetos anteriores.

Para uma criança, em situação de acolhimento, o auxílio didático na junção dos pedacinhos de sua vida se transforma em um livro, que vira memória e que ela  guarda para o resto da vida. (Veja, como é o processo, no vídeo da matéria da TV Globo clicando abaixo ou direto nesse link: https://www.youtube.com/watch?v=HG8ycJ6Qr8Q )

 

 

Esse storytelling, ou o “tell a story" se espalha nas internações hospitalares de crianças doentes. Atividade lúdica para melhorar o ânimo dessas crianças. Em uma pesquisa, sobre o estado emocional e as queixas de dor de crianças hospitalizadas, quinze crianças com neoplasias malignas foram observadas e seus pais entrevistados antes e depois da visita dos contadores de histórias. Entre os resultados ocorreu a diminuição das queixas de dor, maior calma e melhor aceitação dos alimentos.

A metodologia do Programa Fazendo Minha História promove o envolvimento das crianças com os livros. O site da ONG afirma que a literatura é uma criação universal, que surge a partir da necessidade humana de elaborar, expressar e construir sentidos para aquilo que é vivido e experimentado. As crianças e adolescentes encontram nas histórias que os livros contam um lugar seguro e com muitos elementos simbólicos para que possam elaborar questões relativas à sua própria vida. A partir da leitura experimentamos papéis, descobrimos possibilidades nunca antes pensadas, refletimos sobre determinadas situações coletivas e individuais e somos impulsionados a sonhar e recriar a vida. O livro é um objeto transformador, que torna possíveis ações impossíveis; que transporta o leitor para um mundo fictício, onde pode encontrar respostas para muitas de suas perguntas do mundo real.

O professor da Unicamp, Jaime Pinsky, em seu último livro Por que gostamos de História, afirma que as pessoas gostam de História desde a infância, motivadas principalmente pela curiosidade. Quando crescem, continuam se interessando pelo tema, mas com outro objetivo. “Elas procuram compreender o passado para se entenderem melhor e para buscar explicações sobre o aqui e agora”, diz o autor.

A memória é a matéria prima do historiador e visitar o passado é uma boa tentativa de explicar o presente. Um olhar sobre nós mesmos, que nos ajuda a situar e até transformar a História. No caso das crianças, que puderam passar pelo programa dessa ONG, esse fato efetivamente ocorreu. Nesse processo cognitivo de evocação de informações, conhecimentos, acontecimentos e sentimentos cria-se um livro / álbum de memórias. O resultado é a aquisição de novas aprendizagens e a mudança da história daquela criança. 


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