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Francisco Viana
viana@hermescomunicacao.com.br

Jornalista, Doutor em Filosofia Política (PUC-SP) e consultor de empresas.

 

New York

              Publicado em 11/10/2012
Os gestores de crise sabem que gerir múltiplos e graves problemas a um só tempo é o caminho mais curto para a queda. Crises dentro das crises é o princípio do fim. Não é o que acontece com o imperdível Arbitrage, com Richard Gere, que chegará ao Brasil, por esses dias,  com o título A negociação. Ele, Gere, interpreta um falido magnata das finanças, enredado com a polícia – não vou contar o filme, claro - e com sérios dramas familiares, mas que em nenhum momento perde o controle da situação, nem se afasta da linha principal do seu objetivo maior, superar a crise.
 
Por isso, o filme é imperdível. Saí do cinema, no Lincoln Center, me perguntando sobre as lições do filme. Quais? Fui andando até o hotel, cerca de 1, 5 quilômetro, , pensando por que todo comunicador deveria ver o filme. A primeira é que o personagem de Gere,  o endinheirado Robert Miller que viu sua fortuna desaparecer por força da crise americana, em parte, evidentemente, não perde a calma, em nenhum momento demonstra pressa. Nem quando negocia sua empresa, que vale muitos milhões à menos  do que ele se propõe a negociar. E nem quando se vê, de repente, ameaçado de ser preso por força de um drama pessoal. Como um financista pode ser preso no momento em que fecha um grande negócio? Seria o fim, não? 
 
Evidentemente, comete erros, mas não é necessariamente o que interessa para quem assiste ao filme com olhos de comunicador. Não é também o exercício do poder como poderoso álibi. Não, nada disso é relevante. Relevante é o controle das emoções. Sem esse controle é impossível gerir crises. Antes de protagonizar o filme, Gere conversou com muita gente do mundo financeiro. Não deu lá muita atenção para os detalhes das negociações, fixando-se na emoção de cada um. Queria o que sentiam, como viviam a vida, como lidavam com os afetos, os contratempos.
 
Vilão? Sim. Há dois tipos de inteligência nas crises, como na vida. Uma é aquela que valoriza os fatos, que se rende a uma visão ética da realidade; a outra é aquela que despreza os fatos, que manipula, que faz os fatos trabalharem a seu favor. Gere é parte da segunda inteligência. Ele manipula, despreza os fatos, faz as coisas caminharem do seu modo. Não é o que deve ser feito, mas fica a pergunta: como faria um gestor de crise lidando com um cliente como o endinheirado Miller? É apenas uma provação.  Essa é uma resposta que só pode ser formulada na prática.  Na teoria, sim. Mas, na prática, é muito diferente. Nada mais difícil e complexo do que a prática, sobretudo em momentos de crise. Talvez, seja essa a pergunta a ser feita, intimamente, por cada um num trabalho que, de cara, se sabe que não foi feito para anjos e arcanjos, embora existam, e não poderia ser diferente, limites éticos. O filme sugere essa instigante questão. Não perca.
 

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