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Francisco Viana
viana@hermescomunicacao.com.br

Jornalista, Doutor em Filosofia Política (PUC-SP) e consultor de empresas.

 

No século XXI, com práticas do século XIX

              Publicado em 09/11/2015

Em As Ilusões Perdidas, o personagem Luciano de Rubempré diz a um jovem discípulo: “O fato não é pois mais nada por si mesmo, consiste inteiramente na ideia de que os outros formam a seu respeito. Vem daí, jovem, o segundo preceito: ‘Tenha um belo exterior! esconda o avesso da sua vida...” Hoje, esses conselhos – que Napoleão, ainda segundo o romance de Balzac, chamava “lavar a roupa suja em casa” – perdeu força e sentido. Basta olhar o caso das contas do presidente da Câmara dos Deputados na Suíça para curvar-se à nova realidade. Ao contrário do século XIX, nessa primeira metade do século XXI tudo se sabe e o que não se sabe logo será descoberto e tornado público.

O fato, antes limitado a um círculo restrito de pessoas, geralmente consideradas ilustres, agora são de domínio universal. Em fugazes três décadas, o volume diário de informações no mundo foi multiplicado por quatro. “Algo como ler 175 jornais cotidianamente”, na comparação feita pelo neurocientista americano Daniel Levitin, autor  de A Mente Organizada[1]Uma interpretação: o homem precisa mudar e, com ele, as organizações, isto se quiserem preservar a reputação. Como mudar é extremamente difícil, o que temos assistido é que as reputações são ceifadas na mesma velocidade em que cresce a avalanche de informações.

 

O Brasil é um caso típico. A idoneidade ética, dia após dia, revela-se um mito. O descompasso entre a prática das lideranças políticas ou empresariais e a velocidade acelerada da informação inspira, no mínimo, questionamentos sempre que alguém surge no cenário pregando a moralidade ou se apresenta como uma espécie de “reencarnação” do velho Diógenes.[2] Não fosse assim, os líderes políticos não estariam recorrendo a artifícios tão primários como os atuais. Uns justificam suas práticas não éticas acusando os outros: se o filho de um é acusado de corrupção, o outro acusa o inimigo de empregar filhos ilicitamente; se um participa de um esquema de corrupção e tráfico de influência, este acusa o inimigo de fazer o mesmo ou algo pior. O argumento de perseguição pela mídia – o que para alguns não é de todo fora do lugar – serve de panaceia contra todos os males da reputação. Acreditam que a ditadura das leis restritivas resolve o drama do povo nas ruas. Não resolve. E se deparam constrangimento de limitarem o acesso a documentos comprobatórios de irregularidades e logo serem obrigados a volta atrás. Erro crasso. Primário.

 

De acusação em acusação, a questão que ganha corpo e é atirada como alternativa a um mundo carcomido e em chamas, os hábitos do século XIX em pleno século XXI, pode ser assim resumida: o que é na atualidade um autêntico representante da sociedade? Conservador ou não, o seu primeiro compromisso é com a ética. Se não tiver uma vida ilibada, não deve cultivar o hábito de atirar pedras no telhado alheio. As contradições que envolvem a hipocrisia, e a realidade demonstra, conduzem  a caminhos pantanosos e malcheirosos. Como hoje tudo se sabe, os erros são logo cobrados e não é preciso ter dons oraculares para saber o que acontece com os corruptos. São julgados pela opinião pública e execrados, inclusive por aqueles tidos como “amigos” ou aliados. Não têm futuro. E o presente é assustador. A alternativa que resta é mudar.  Por que o único argumento contra as reputações é a realidade incontestável dos fatos, justamente o contrário do receituário do ilustre personagem de Balzac. Mudar os homens, mudar os partidos, mudar a forma de fazer política. É essa dialética da mudança que a comunicação de massa, alavancada pelas mídias sociais, torna imperativa e inescapável.

Leitura: BALZAC, Honoré De. As ilusões Perdidas. Tradução Ernesto Pelanda e Mário Quintana. Introdução Paulo Ronai. São Paulo: Abril Cultural, 1978.

 

[1]  GUIMARÃES, Lúcia, A Arte de Esvaziar. In: Folha de São Paulo, Aliás. São Paulo, 13 de setembro, domingo, 2015, p.  1-2.

[2] Diógenes (413- 323 a.C): filosófo da escola dos cínicos, conhecido pelo seu desdém quanto as convenções sociais, riquezas e poder, que andava sempre descalço, mal vestido e morava num tonel. 


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