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COLUNAS


Francisco Viana
viana@hermescomunicacao.com.br

Jornalista, Doutor em Filosofia Política (PUC-SP) e consultor de empresas.

 

Prisões que sugerem nova estratégia

              Publicado em 24/06/2015

As prisões dos presidentes das construtoras  Odebrecht e Andrade Gutierrez , na semana passada,  sugerem,  aos que lidam com a comunicação estratégica, uma pletora de questões. A primeira, e certamente a mais crucial, é que comunicação e política caminham lado a lado, hoje, e que o modelo de negócios não pertence, há muito, a um mundo e as leis  a outro mundo, radicalmente diverso.

Não, representam um único universo, geralmente áspero, sitiado por leis e que assiste a maré montante da opinião pública, saturada de denúncias e casos objetivos de corrupção. Por isso,  a estratégia precisa levar em conta um novo contexto em que as leis passam a existir para serem cumpridas e as prisões não mais poupam ricos, muito ricos ou riquíssimos. Dois dos mais influentes empresários  brasileiros foram presos, como parte das investigações da Operação Lava-Jato, e nada aconteceu,  salvo o noticiário, as vezes apocalíptico – anunciando o fim da república – e nada mais.

A segunda reflexão se relaciona ao estilo da comunicação interna. Antes da prisão do seu presidente, os mais de cem mil funcionários da Odebrecht receberam uma carta, de larga divulgação na mídia, criticando a operação. A pergunta que fica no ar, é: foi oportuna? Sinalizou no rumo de um confronto com a Operação e, consequentemente, com a Polícia Federal e a Justiça ou pode ser caracterizada como uma atitude defensiva?

Imagino que o mais coerente, e discreto, seria a comunicação envolvendo grupos de lideranças, sem expor a empresa. Da forma com que a comunicação foi feita, a espaço de negociação para que não ocorresse a prisão do presidente e de executivos de alto escalão praticamente se volatilizou. Deixou aos responsáveis pela Operação duas alternativas: ou agiam ou ficavam desmoralizados. A resposta da Odebrecht após as prisões, também, seguiu nessa linha. O seu calcanhar de Aquiles é que não deixa alternativas intermediária: ou a empresa é culpada ou inocente.

Seria assim? Pode-se argumentar que o presidente da Andrade Gutierrez foi presos, mesmo sem ter feito nada semelhante. É um argumento válido que se revela a complexidade do tema, mas que mostra acima de tudo a necessidade de coerência na linha comunicacional.  Comunicação é estratégia e esta sempre é dilemática. Contudo, a verdade é que o cenário atual para as construtoras se revela dos mais adversos e cada passo precisa ser avaliado a partir da previsão de uma centena de passos seguintes. É como caminhar em campo minado. Um pequeno equivoco e, logo, o caminho explode, tudo voa pelos ares.

O tempo é sempre o senhor da razão. De qualquer forma, é preciso perguntar se os assessores de comunicação, por mais qualificados que sejam, possuem o condão de influenciar seus assessorados da cúpula das organizações. Ou se falam como se tivessem ficado em silêncio ou, o que é pior, nunca são sequer chamados para as chamadas grandes decisões. No mundo das organizações, criou-se uma contradição inexplicável: o mesmo empresariado que se mobilizou em defesa da abertura democrática, foi aquele que se retraiu quando a abertura se transformou em democracia.

Por quê? O resultado é que se passou a acreditar em negociações diretas com os governos, sem que a politica se transformasse na mediadora das relações. Eis uma realidade que precisa mudar. As prisões feitas pela Operação Lava-Jato, certamente, chegarão ao Congresso Nacional dada a avalanche de denúncias que sitia número expressivo de parlamentares, alguns em posição de liderança. Se isso acontecer, e tudo indica que acontecerá, a República não vai ruir, evidentemente. O que se faz necessário é que os hábitos negociais-políticos mudem e que a comunicação passe a ser ouvida nas organizações. Acumulou experiência e sabe ler o tempo, tempo que ao se metamorfosear muda também as vontades. E as interpretações da lei. 


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