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COLUNAS


Rodrigo Cogo
rodrigo@aberje.com.br

@rprodrigo

Relações Públicas pelo Curso de Comunicação Social da Universidade Federal de Santa Maria , é especialista em Gestão Estratégica em Comunicação Organizacional e RP e Mestre em Ciências da Comunicação pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. Trabalhou por 10 anos com planejamento e marketing cultural para clientes como AES, Bradesco, Telefonica e BrasilTelecom. Tem experiência em diagnósticos de comunicação, para empresas como Goodyear, HP, Mapfre, Embraer, Rhodia e Schincariol. Atualmente, é responsável pela área de Inteligência de Mercado da Aberje, entidade onde ainda atua como professor no MBA em Gestão da Comunicação Empresarial.

Entre o real e a ficção: a força das histórias

              Publicado em 21/09/2012
Segundo vários pesquisadores sobre contação de histórias em ambiente organizacional, houve o desenvolvimento de dois tipos de relatos de histórias, rotulados de empíricos e ficcionais. É sobre esta questão que converso hoje com você. O tema foi despertado pela matéria “O dilema do escritor: criar ou narrar”, publicado por Elif Shafak no The New York Times na metade de setembro, sobre a Conferência Mundial de Escritores em Edimburgo/Escócia.
 
Ela cita as reflexões da escritora paquistanesa Kamila Shamsie e da escritora egípcia Ahdaf Soueif, inquietas pela opção de vários colegas em continuar na fabulação quando o Oriente Médio enfrenta tantas questões angustiantes. E dizem: “você quer se envolver com isto ou quer escapar? Você quer passar sua vida em uma bolha, ou quer fazer parte da grande narrativa do mundo?”. Soueif completa que, nestes tempos, o trabalho do escritor é “contar as histórias como elas são, ajudá-las a adquirir poder como realidade, e não como ficção”.
 
A narrativa do tipo ‘empírica’, que substituiu a fidelidade ao mito pela fidelidade à realidade, pode ser subdividida em histórica e mimética. O componente histórico sobressai-se pela base na verdade do fato e do passado, buscada na mediação de tempo e espaço e de conceitos de causalidade. O componente mimético foca na observação do presente, a partir de conceitos de comportamento e processos mentais, com uma tendência à ausência de enredo e ao recorte de partes pontuais. O ramo ficcional da narrativa parte para a fidelidade ao ideal e apresenta dois subtipos: romântico e didático. Há uma liberdade em relação à tradição e ao empirismo dos modelos antes aqui mencionados, com preferência para a beleza e a bondade. No mundo romântico, prevalece a justiça poética e as artes e adornos da linguagem. A subdivisão didática diz respeito a um formato discursivo breve, com impulso moral e cognitivo, que deixa um recado significativo. Para Núñez, o caminho do mito leva a algum grau de ficção, mas de cunho pedagógico e não como trivialidade ou mero entretenimento.
 
O debate entre subjetividade e objetividade transformou-se numa oposição
 
entre escrita literária e escrita cientificista. Haveria, segundo analisa Pollak, de um lado o vazio, o seco, o enfadonho, que seria o discurso científico, ainda por cima reducionista e fechado à pluralidade do real, e de outro a história oral seria uma das possibilidades de reintroduzir nas ciências humanas, depois do período estruturalista, uma escrita não apenas subjetiva, mas sobretudo literária. Nas falas, o sociólogo austríaco identifica três tipos de estilo – cronológico, temático e factual. O predomínio no estilo cronológico está correlacionado com a característica de um grau mínimo de escolarização, no sentido de pensar em si próprio em termos de duração, de continuidade e situar-se em termos de início e fim. Já o estilo temático se liga pouco à cronologia e busca inspiração numa parte específica da trajetória do depoente, que embasa todas as rememorações, sendo uma elaboração mais intelectualizada. O estilo factual, por fim, é um relato completamente desordenado, típico de grau educacional baixíssimo. A perspectiva racionalista científica, que nega ao homem a visão mítica, ao mesmo tempo lhe confere uma espécie de vazio existencial pela falta de valores mais profundos conectores com a dimensão cósmica ou transcendente – que exatamente contempla o passado, o presente e o futuro. 
 
Como diz Ribeiro, “a matéria-prima para a constituição da narrativa é a experiência memorizada, que pode ser reinterpretada, reinventada e contada”. Mas é preciso diferenciar as narrativas, conforme se vê em Barbosa: ficcional, historiográfica e cotidiana. Sobre o tipo ficcional é importante destacar que há uma relação de ‘verdade’, ainda que seja criativa e que não deixe de se apoiar numa realidade prévia e num campo de experiência cultural vivida. A narrativa historiográfica é baseada na intenção ou determinação científicas com seus métodos e rigores sobre fatos comprováveis. Já a modalidade cotidiana procura relacionar-se com o real enquanto representação da verdade, mas a “pretensão à verdade é uma relação imanente e interna, é um fator essencial e constitutivo do próprio ato de narrar”, sendo que há uma mistura do tempo vivido ‘antes’ ressignificado pelo ‘agora’. O storytelling é um emaranhado de possibilidades narrativas de cotidiano, ficcionais e historiográficas.
 
White dá contribuição ao tema quando detecta quatro variantes na narrativa historiográfica – a saber, tragédia, comédia, sátira e romance, apontando fortes relações entre literatura e história. De todo modo, destaca que as fronteiras entre narrativas ficcionais e históricas são esfumaçadas: as concepções de que ficção é concebida como representação do imaginável e história como representação do verdadeiro dar lugar “ao reconhecimento de que só podemos conhecer o real comparando-o ou equiparando-o ao imaginável”. Huyssen entende que os limites entre fato e ficção, realidade e percepção se confundem a ponto de ser apenas uma simulação.
E você, o que acha disto tudo?
 

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