“Vermelho” é uma peça de teatro que está em cartaz em São Paulo, de um autor americano chamado John Logan, e protagonizada pelo fantástico Antonio Fagundes e seu filho, Bruno. Ela fala sobre Mark Rothko, um pintor russo naturalizado americano, ícone do expressionismo abstrato na década de 40, e grande influenciador da arte na Europa.
Mark tinha um estilo caracterizado pela justaposição de grandes superfícies de cores planas, que evoluiu para uma simplificação, na qual a cor era o principal meio de expressão. Em 1958, ele recebeu uma proposta milionária para pintar um conjunto de nove murais para o Four Seasons, restaurante inaugurado no famoso Edifício Seagram, em Nova Iorque, idealizado pelos arquitetos Mies van der Rohe e Philip Johnson, marco da arquitetura moderna.
Após uma visita ao restaurante para jantar e ver as suas obras, ele pediu para desfazer o negócio e devolveu o dinheiro! A peça é baseada nesse fato real, e propõe, em termos de ficção, diálogos que poderiam ter ocorrido entre o pintor e seu aprendiz, que culminaria com a desistência da venda das telas, e seu suicídio, em 1970.
Os dois atores estão fantásticos em cena, a proposta da peça é muito interessante, já que se aplica a qualquer relação de mestre/aprendiz, pai/filho, chefe/subordinado... Mas quero destacar um conceito abordado sobre a arte, que, em minha opinião, tem tudo a ver com a comunicação nossa de cada dia.
Ao mostrar os seus quadros para seu aprendiz, Rothko pede que ele olhe com calma e sem pressa, com tempo. Diz que não importa a intenção de quem fez o quadro, mas sim a interpretação de quem o vê! Refere, ainda, que essa é a beleza de uma obra, a possibilidade dela adquirir múltiplos significados. Ao presenciar tal diálogo, pensei imediatamente em como a arte e a comunicação são próximas!
Em primeiro lugar, precisamos do tempo do nosso ouvinte, de sua boa vontade em nos compreender. Para isso, ele deve nos ouvir com atenção e paciência, procurando comparar o que dizemos com o seu rol de experiências anteriores. Quando nós somos o ouvinte, é fundamental nos lembrarmos desses conceitos! Quantos mal-entendidos não surgem a partir da displicência de quem ouve... Ao falante, cabe saber que ele sempre pode ser interpretado de múltiplas formas. Assim, é muito importante que ele defina previamente e com convicção aquilo que quer dizer. É necessário que ele eleja a sua mensagem principal, aquela que não pode deixar de ser compreendida. Aí ele precisa escolher a melhor forma de transmitir o seu recado.
Para tanto, é fundamental que ele considere quem é o seu público alvo, qual é o nível de conhecimento, de informações anteriores sobre o seu tema que este público tem. Só assim ele conseguirá selecionar as palavras mais adequadas, os exemplos que farão sentido para as pessoas, as comparações mais fiéis, que tanto auxiliam a percepção da mensagem. Precisa, também, ter convicção para transmitir e atingir o outro. Deve demonstrar o desejo genuíno de se comunicar, aquilo que coloca brilho nos olhos e garante a atenção plena do interlocutor. E precisa saber, que mesmo com todos esses cuidados, corre o risco de ser interpretado de maneira diversa! Mas é exatamente nisso que reside a humanização, a mágica e a beleza da comunicação humana. Assim como na arte.