Sociedades "leves" e "líquidas", conforme cunhou Bauman, perderam o sentido de solidez e estabilidade. Se a história é hoje uma série de presentes, e esse presente é permanentemente transitório, é preciso agora conviver com o sentimento de incerteza.
“Hoje, o ‘tempo real’ se constitui no padrão em relação ao qual todos os outros tempos são comparados. O valor supremo é a imediatez. Somente o tempo vivido cotidianamente parece e é sentido como ‘real’. Tudo aquilo que reside no ‘passado’ e no ‘futuro’ foi descartado. Nossas vidas, por assim dizer, são uma sucessão de ‘momentos presentes’", Bauman
Para Weil, não possuímos outra vida, outra seiva, senão os tesouros herdados do passado e digeridos, assimilados, recriados por nós. De todas as necessidades da alma humana, não há nenhuma mais vital do que o passado, o futuro depende da existência e da posse do passado. Daí o perigo do desenraizamento como aniquilação desta existência pregressa e a necessidade de estar em sintonia com a natureza, numa integração com a coletividade, o território e sua própria história. O ser humano desenraizado é expropriado de sua própria vida, perde a capacidade de conduzi-la e de encontrar sentido. É preciso um reencaixe do homem em pontos simbólicos de pertencimento, como podem tornar-se as ações organizacionais de história e memória. Só que, como pontua Nassar, uma organização voltada somente para a produtividade desqualifica e empobrece as experiências e vivências de seus membros. Neste ambiente, a supremacia do exato e do objetivo enfraquece as relações simbólicas.
Talvez por tudo isto pesquisadores, como Huyssen, apontem que a aceleração da história levou as massas dos países industrializados a ligarem-se nostalgicamente às suas raízes e, por isto, vê-se hoje em dia movimentos de moda retro e dos brechós, novas terapias de vidas passadas, revalorização da arqueologia, filmes históricos, interesse pela confecção de árvores genealógicas, estímulo ao folclore e restaurações de patrimônio, numa espécie de “comercialização em massa da nostalgia”. Mesmo em outros domínios a atenção pelo passado desempenhou papel importante, como no caso da psicanálise, dominada pelas recordações inconscientes, pela história oculta dos indivíduos e pelo passado mais longínquo, ainda que seja um passado reconstruído pelas recordações dentro de um novo contexto.
Halliday apresenta uma definição fundamental para a área, fazendo esta conexão entre comunicação, organização, história, memória e storytelling, ao dizer que “a comunicação organizacional é um conjunto de atos retóricos cuja argumentação evoca o passado, justifica o presente e prepara o futuro”. Os processos comunicacionais são determinados pelo tempo e espaço vivenciados pelos sujeitos. Portanto, são influenciados por muitas variáveis, como o clima organizacional, conflitos existenciais, condições de trabalho, relações de poder, expectativas profissionais, vaidade, ambição, desejo, sonhos, frustrações – enfim, pela história de vida dos interlocutores.
Não vejo momento melhor para ações de história e memória, reposicionando as pessoas em suas coletividades e em suas interdependências, em direção a um homem social, ligado à natureza e que busca seu estar no mundo de maneira mais transcendente e marcante. Fico na expectativa das inscrições na categoria de Memória e Responsabilidade Histórica do Prêmio Aberje 2012, quando interessantes cases são mostrados para dar vazão, mais do que à comunicação institucional, à crença de que somos um continuum de energias, vontades e disposições.