Nos processos de fusão e aquisição, em que uma nova cultura organizacional será formada, entender e trabalhar além do briefing é um importante diferencial
Um dos grandes desafios da comunicação no universo corporativo é a fusão ou incorporação de empresas, que traz “no bojo” a integração de culturas.
Integração de culturas é o jeito bonito de se dizer que 1 + 1 = ? ? ? Por mais planejamento, provisões e outros instrumentos preditivos que existam, quando a coisa começa a acontecer na realidade as variáveis incontroláveis muitas vezes variam incontrolavelmente, e o processo que parecia controlado fica imprevisível.
Aí que entra a comunicação. Que não resolve tudo sozinha, mas dá um belíssimo impulso para a disseminação de uma nova cultura, a divulgação de novas diretrizes e, principalmente, a mobilização e o engajamento de todos os envolvidos.
Os processos de fusão e aquisição, por sua bagagem política e afeita, assim, naturalmente, a fofocas, previsões, avaliações e outros quetais, são períodos bem turbulentos, em que está sendo construída uma nova plataforma, um novo jeito de trabalhar e de se posicionar. Isso amplifica angústias, medos, entendimentos distorcidos e comportamentos imprevistos.
Encarar o desconhecido é um dos maiores medos do homem, em todos os tempos. Temos que nos apoderar de um espírito aventureiro e desbravador e parir para cima, sem saber, na maioria dos casos, aonde o túnel irá dar.
No mundo empresarial, o papel das lideranças, nesse contexto, é mais que vital, é para garantir a sobrevivência. Deles, da equipe e, por consequência, de uma cultura corporativa. Os gestores tem que transmitir as informações necessárias para que todos compreendam que as coisas estão mudando. E que a mudança é inevitável e é preciso trilhar um novo caminho, além do horizonte.
Nesse processo, temos que exercitar e aguçar a nossa resiliência, ou seja, a habilidade de absorver altos níveis de mudança, com uma mínima disfunção comportamental. Essa capacidade faz com que as pessoas recuperem o seu equilíbrio mais rapidamente, mantenham um maior nível de produtividade, permaneçam física e emocionalmente saudáveis, alcancem seus objetivos e compreendam os impactos da mudança. Enfim, é um poderoso instrumento em prol de nossa adaptação a novos tempos.
Na integração de duas culturas existentes, nasce uma nova cultura, que será sedimentada a partir da construção de consensos, valores e práticas. Porém, isso não se ergue da noite para o dia. O ser humano tem uma tendência de encarar o dia a dia de forma linear, com rotinas e comportamentos pré-estabelecidos. Essa postura faz com que as pessoas achem que tudo aquilo que é diferente do processo mental habitual seja encarado com restrição – no todo ou em parte.
Esse mecanismo provoca outro sentimento: a resistência. Vencer a resistência das pessoas é um desafio enorme para qualquer processo de integração, e aí, mais uma vez, a comunicação é primordial, para ajudar a criar um ambiente favorável, estabelecer portos seguros, fincar novos paradigmas. É um processo gradual, que exige muita paciência e perseverança.
Os profissionais de comunicação têm de estar atentos a todas as necessidades de comunicação do processo de mudança e de integração. Deixando claro o papel de cada veículo a ser usado e a sua forma de funcionamento e divulgação. É um momento em que o foco tem que estar na difusão de informações relevantes e úteis para todos, de forma transparente e objetiva. É o que garante o sucesso do entendimento da nova estratégia.
Nessa fase, é crucial que o comunicador tenha a sensibilidade para encontrar a dose certa na emissão das mensagens. Nenhum processo de integração se sustenta sem a participação efetiva das pessoas. Por isso, as estratégias de comunicação têm de ser certeiras.
Com isso, qualquer briefing de comunicação tem que ser pensado “muito além do briefing”. Muitas coisas importantes no processo de comunicação não são ensinadas na escola ou nos livros. O feeling e o bom senso contam muito. Descobrir o que está além do briefing é um exercício contínuo e desafiador. Todos os significados – aparentes, ocultos, subliminares – contidos nas mensagens que nos são passadas para a construção de um processo de comunicação têm de ser levados em conta para se perceber a verdade verdadeira da essência que precisa ser comunicada.
Quando realizamos uma comunicação, um valor é criado, e esse valor deve ser percebido pelas pessoas. Quando isso acontece, está garantido o sucesso da comunicação. Mas, para acontecer, no início de tudo temos que entender “além do briefing”!
As sutilezas que se escondem em um briefing podem fazer a diferença para se gerar uma comunicação assertiva e que atenda aos anseios de quem comunica e à necessidade de informação de quem recebe a comunicação.
Cada etapa tem seu tempo e não é papel da comunicação acelerar e estressar o sentido das coisas. Achar a medida exata não é tarefa das mais simples, mas o jogo se ganha quando achamos o ponto de equilíbrio em que não haja sonegação nem sobrecarga de informações.
Nesse passo, é possível contribuir de forma mais efetiva para a construção de uma nova cultura organizacional, que será elemento primordial na formação da identidade da nova organização.
Trabalhar muito além do briefing, assim, é mais do que uma necessidade. É um diferencial estratégico para esses processos.