Os Novos Navegantes
O falecimento recente de um amigo gerou uma série de manifestações no Facebook, com postagens das mais variadas mensagens, fotos e vídeos. Alguns souberam ali do ocorrido, outros o homenageavam, lamentavam ou, mesmo, duvidavam. Para mim foi uma inédita experiência de observação da rede social.
Com o aumento do uso dessas redes em todo o mundo creio que manifestações como essas serão cada vez mais comuns. Usuários tentarão perpetuar a permanência do outro, publicando em seu mural, resgatando fatos, fotos, vídeos e momentos vividos.
Nos EUA já surgiram empresas que ganham para cuidar da rede social do falecido, manter a sua memória em boas mãos e evitar que a conta seja invadida, com as informações pessoais usadas sem consentimento dos familiares.
Recentemente, o Facebook criou aplicativo que faz a morte ficar “mais tranquila”, pelo menos para os frequentadores do ambiente. O App se chama “If i Die!” e permite que o usuário arquive previamente mensagens em vídeo ou texto para compartilhar com seus amigos quando morrer.
Estudo conduzido pela Universidade de Londres apurou que uma a cada dez pessoas do Reino Unido deixa suas senhas em testamentos. Descobriu-se também que mais de um quarto dos ingleses têm muitos filmes ou músicas armazenadas no computador. E eles gostariam que seus familiares tivessem acesso ao material e às senhas dos Facebook, Twitter e Google+. Querem suas contas administradas por alguém de confiança, ao invés de deixá-las vagando pela rede.
Hoje, cartas pessoais se espalham em e-mails; diários se transformam em blogs; fotos de curtições são expostas no virtual; onde o fulano está e para onde ele irá também costuma virar publicação nas redes sociais.
Será que tantos pedaços de muitas vidas ficam on-line para nos sentirmos mais vivos? E como fica essa vivência virtual, esses rastros e pegadas de nossa existência depois que morremos?
Todos esses fenômenos são muito recentes, até porque há menos de 10 anos (precisamente em fevereiro de 2006) o Facebook passou a permitir que estudantes secundaristas adicionassem universitários. Inicialmente, a rede social – fundada por Mark Zuckerberg, Dustin Moskovitz, Eduardo Saverin (um brasileiro) e Chris Hughes, ex-estudantes da Universidade de Harvard – só permitia a adesão dos estudantes de lá.
A rede Orkut foi criada em 2006 pelo projetista Orkut Büyükkökten, um engenheiro do Google. O objetivo era ajudar seus membros a conhecer pessoas e manter relacionamentos. O alvo inicial era os Estados Unidos, mas hoje a maioria dos usuários é do Brasil e da Índia.
As redes sociais já fazem parte do cotidiano para 90% dos internautas brasileiros, sugere um estudo apresentado recentemente pela ComScore. Tanta exposição traz excessos e riscos não só após a morte, mas durante a vida também. Mais de 10 por cento dos pais, ao redor do mundo, afirmaram que seus filhos sofreram bullying na Internet e quase um quarto conhece um jovem que já foi vítima das intimidações na Web, segundo uma pesquisa da Ipsos/Reuters.
A pesquisa online, que englobou mais de 18 mil adultos em 24 países, mostrou que o veículo mais utilizado para o ciberbullying são redes sociais como o Facebook, citado por 60 por cento das pessoas. Embora a pesquisa tenha mostrado que a conscientização sobre o ciberbullying é relativamente alta, com dois terços das pessoas afirmando que ouviram, leram ou viram informações sobre o fenômeno, a pesquisa mostrou que há muitas diferenças culturais e geográficas a respeito dele.
De acordo com a Serasa Experian, o Orkut ainda é a rede social com maior audiência no Brasil (dados de julho de 2011). Mas, o Relatório Ibope Nielsen Online mostra que o alcance do Facebook foi maior que o do Orkut em agosto de 2011: 68,2% contra 64%, respectivamente. Naquele momento o Facebook registrou 30,9 milhões de usuários únicos contra 29 milhões do Orkut. O Twitter também manteve tendência de crescimento, com 14,2 milhões de usuários únicos. Lideranças à parte a realidade é que grande parte dos brasileiros que navegam na Web mantém página(s) na(s) rede(s) social(is). Mais que isso, pesquisa divulgada em setembro passado mostra que os brasileiros navegaram por 7 horas e 14 minutos mensais nas redes sociais.
É audiência e fidelidade invejáveis. Números que impressionam como os brasileiros, esse novos navegantes, adotaram as redes sociais. Na saúde ou na doença, alegria ou tristeza, na vida ou na morte os usuários estão lá publicando suas mensagens. Esse casamento só não está sendo bem entendido pelas empresas brasileiras.
Pesquisa do Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação e da Comunicação (CETIC.br), o “TIC Empresas 2010”, verificou que o perfil de uso da Internet pelas empresas não tem se diversificado ao longo do tempo. A quase totalidade das empresas (98%) usa a Internet sobretudo para enviar e receber e-mails. Além disso, elas também buscam informações sobre produtos e serviços (90%), buscam outras informações e realizam atividades de pesquisa (85%) e aproveitam serviços bancários e financeiros (81%). Em outro patamar estão as atividades realizadas por pouco mais da metade das empresas: busca de informações sobre organizações governamentais ou autoridades públicas (63%), monitoramento de mercado (58%), uso de mensagens instantâneas (57%) e a oferta de serviços ao consumidor (53%). Por fim, treinamento e educação (34%), telefone e videoconferência por VoIP (20%) e a entrega de produtos on-line (13%) são as atividades menos citadas.
Os mercados de atuação com maior presença de sites são informação e comunicação, artes, cultura, esporte e recreação e outras atividades de serviços (72%), enquanto no comércio a proporção é a mais baixa (43%). A proporção média de funcionários que têm acesso aos computadores, nessas empresas, chegou a apenas 48% em 2010.
Outra pesquisa, aplicada pelo Instituto Brasileiro de Inteligência de Mercado (Ibramerc), aponta que 65% das grandes empresas já estão presentes nas redes sociais. Apesar da alta adesão, apenas 7% consideram que utilizá-las seja imprescindível. A maioria encara apenas como uma iniciativa desejável (47,9%). As redes sociais de maior destaque entre as empresas são: Twitter (84%), YouTube (62%) e Facebook (61%). Para 45% dos pesquisados, o fortalecimento da marca foi apontado como o maior benefício trazido pelas redes sociais. Esse número se coloca em oposição aos 44% que alegam que as redes ainda não trouxeram nenhum benefício. Segundo a pesquisa, as práticas mais comuns são: monitorar o mercado (46%), o comportamento dos clientes (45%) e a concorrência (39%).
Uma análise das empresas que criam esse tipo de mídia social para o mercado de trabalho mais dinâmico do mundo, os Estados Unidos, mostra o potencial do negócio. Lá, duas grandes fornecedoras de soluções para redes sociais corporativas – a Salesforce.com e a Yammer.com – têm, juntas, 230 mil empresas como clientes. Só entre julho de 2010 e julho de 2011 o número de usuários da Yammer saltou de um milhão para três milhões. A rede pode agilizar a comunicação e ajudar a descobrir vocações entre os colaboradores. Isso facilita a comunicação interna e o surgimento de novos projetos.
Emular, no ambiente virtual, a comunidade que é uma empresa não pode ser visto como uma doença que pode matar a produtividade. Hoje a navegação na Web e em suas redes sociais é parte do cotidiano e ajuda a moldar a nova face da humanidade. O seu bom uso pode aumentar a qualidade do trabalho, a amistosa convivência entre os públicos e a transparência nas relações. Permitir que as pegadas da empresa sejam acompanhadas no on-line também é uma maneira de perpetuar a sua existência.
Os artigos aqui apresentados n�o necessariamente refletem a opini�o da Aberje
e seu conte�do � de exclusiva responsabilidade do autor. 2336
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