Busca avançada                              |                                                        |                            linguagem PT EN                      |     cadastre-se  

Itaú

HOME >> ACERVO ON-LINE >> COLUNAS >> COLUNISTAS >> Fabio Betti Salgado
COLUNAS


Fabio Betti Salgado


Fábio Betti Salgado é sócio consultor da Corall, consultoria com o objetivo de catalizar a criação e transformação das organizações para o surgimento de uma nova economia, baseada em bem-estar e felicidade, prosperidade distribuída e uso eficiente de recursos. Iniciou na área de comunicação em 1988, na Johnson & Johnson, e, depois, especializou-se em comunicação interna na Dow Química. Foi sócio da Novacia de 1995 a 2009 e, desde 2010, vem atuando como consultor em processos de transformação cultural, tendo como principal abordagem a cultura de diálogo e a comunicação de liderança. Graduado em Jornalismo (PUC-SP), com pós-graduação em Comunicação Empresarial (ESPM) e diversos cursos de extensão e especialização nas áreas de gestão, marketing e publicidade, Fábio é mestrando em Biologia-Cultural (Universidade Mayor do Chile), formado em consultoria antroposófica (ADIGO) e professor da ABERJE, Escola de Diálogo e Escola Matriztica de Santiago. Escreve regularmente sobre comunicação para sites e associações setoriais. Além disso, mantém um blog pessoal para conversar sobre o diálogo nos diferentes domínios dos relacionamentos.

Narciso S.A.

              Publicado em 09/03/2012

Na reunião estavam os dois diretores da agência, três representantes do cliente, além de mim e um parceiro que também atua em consultoria. O encontro foi agendado para que a agência pudesse apresentar sua proposta para uma campanha institucional. As imagens eram lindas, a direção de arte primorosa. O conceito, no entanto, era equivocado – pior, era mentiroso. Ia muito além do “inspiracional” para prometer algo impossível de ser concretizado.

De repente, me vi transportado para o mundo de “Mad Men”, o seriado que mostra um grupo de inescrupulosos publicitários da década de 60, capazes de fazer qualquer negócio para criar uma imagem consumível para seus clientes. Não, até mesmo os “Mad Men” parecem fichinha perto daqueles dois diretores da agência. Cada um de nós, clientes e consultores, repetia a mesma história, só que usando palavras diferentes, e eles insistiam que o que queríamos não era possível de ser realizado e que eles, entendidos em publicidade, sabiam o que era melhor para o cliente. De tão apaixonados por sua própria ideia, não conseguiam ouvir nada do que falávamos. E ainda sugeriram que criássemos um slogan e um conceito, como uma tentativa para que o briefing ficasse mais claro. Isso mesmo, colegas, ao invés de simplesmente abrir mão de suas ideias, eles preferiram confrontá-las com as nossas – uma brincadeira do tipo “vamos ver quem é melhor?” O que mais me espanta disso tudo é que o cliente parecia visivelmente constrangido por ter de dizer que não concordava com a campanha apresentada. Afinal, quem é que estava pagando a conta ali?

Essa experiência me transportou para uma situação em meu início de carreira, quando fui reclamar para o diretor de Comunicação que os funcionários não estavam nem aí para a linda revista que eu produzia com tanto zelo e dedicação. O diretor simplesmente virou-se para mim e disparou: “Betti, percepção é realidade.” Na hora, fiquei chocado com a falta de sensibilidade de meu chefe, mas, a cada ano que passa, sou mais grato por ter ouvido essa frase. Ela me ajuda a voltar para a realidade quando me perco em meus próprios pensamentos e ideias. Jan Carlzon, em “A Hora da Verdade”, disse, entre outras coisas, o seguinte: “Se você  não serve a um cliente, sirva alguém que serve a um cliente”. Essa frase parece ter sido escrita para nós, comunicadores. Nós não servimos ao cliente. Não produzimos nada que ele consome. Nós apoiamos pessoas que fazem isso e, portanto, devemos servir a elas. Quando escutamos nossa própria voz e servimos a nós mesmos, fazemos, portanto, um desserviço.

Servir tem entre seus significados ajudar, auxiliar, ser útil, servidor, benfazejo.  Sim, faz parte desse processo de servir que apresentemos e defendemos nossas ideias, mas nunca podemos perder de vista que ninguém conhece mais da situação do que o próprio cliente. Precisamos, portanto, aprender a manter nossos ouvidos abertos a ele e estar sempre prontos a abandonar o que antes tínhamos como certeza. Sobre isso, meu querido professor Humberto Maturana, tem uma citação ótima, que venho repetindo como um mantra: “A certeza cega. Quanto mais certeza você tem, menos você vê.”
 


Os artigos aqui apresentados n�o necessariamente refletem a opini�o da Aberje e seu conte�do � de exclusiva responsabilidade do autor. 1580

O primeiro portal da Comunicação Empresarial Brasileira - Desde 1996

Sobre a Aberje   |   Cursos   |   Eventos   |   Comitês   |   Prêmio   |   Associe-se    |   Diretoria   |    Fale conosco

Aberje - Associação Brasileira de Comunicação Empresarial ©1967 Todos os direitos reservados.
Rua Amália de Noronha, 151 - 6º andar - São Paulo/SP - (11) 5627-9090