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COLUNAS


Fabio Betti Salgado


Fábio Betti Salgado é sócio consultor da Corall, consultoria com o objetivo de catalizar a criação e transformação das organizações para o surgimento de uma nova economia, baseada em bem-estar e felicidade, prosperidade distribuída e uso eficiente de recursos. Iniciou na área de comunicação em 1988, na Johnson & Johnson, e, depois, especializou-se em comunicação interna na Dow Química. Foi sócio da Novacia de 1995 a 2009 e, desde 2010, vem atuando como consultor em processos de transformação cultural, tendo como principal abordagem a cultura de diálogo e a comunicação de liderança. Graduado em Jornalismo (PUC-SP), com pós-graduação em Comunicação Empresarial (ESPM) e diversos cursos de extensão e especialização nas áreas de gestão, marketing e publicidade, Fábio é mestrando em Biologia-Cultural (Universidade Mayor do Chile), formado em consultoria antroposófica (ADIGO) e professor da ABERJE, Escola de Diálogo e Escola Matriztica de Santiago. Escreve regularmente sobre comunicação para sites e associações setoriais. Além disso, mantém um blog pessoal para conversar sobre o diálogo nos diferentes domínios dos relacionamentos.

Pare de dourar a pílula!

              Publicado em 01/12/2015

Em 1988, quando me formei jornalista pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, concordei, entre outras coisas, em realizar um trabalho em que a produção e a divulgação da informação deviam se pautar pela veracidade dos fatos e ter por finalidade o interesse público. E que isso deveria ser cumprido independentemente da linha política dos proprietários e/ou diretores dos veículos ou da natureza econômica de suas empresas (1). Meus colegas de Relações Públicas, ao se formarem nessa atividade, concordaram em se empenhar para criar estruturas e canais de comunicação que favoreçam o diálogo e a livre circulação de informações (2). Em ambos os casos, citei literalmente alguns dos princípios fundamentais que figuram no código de ética que rege cada uma das referidas profissões.

Daí o meu espanto, portanto, ao assistir episódios frequentes nos quais colegas de profissão pisam, sapateiam, rasgam, incendeiam esses mesmos princípios. Sim, ainda me espanto. E muito. E me envergonho, porque, mesmo discordando e não seguindo as mesmas práticas, atuo no mesmo mercado. E, a cada vez que uma empresa impede o trabalho da imprensa, manipulando e restringindo o acesso a informações de interesse público, a cada vez que um órgão de imprensa atua de maneira não apenas parcial, mas escancaradamente partidária, única e exclusivamente preocupado consigo mesmo, eu também sou levado pelo mar de lama. Os atos de terceiros prejudicam a mim e a você que, repito, a despeito de discordarmos e não seguirmos as mesmas práticas, também somos prejudicados.

O que podemos fazer diante dessa situação que tem manchado de vergonha a profissão que a grande maioria de nós abraçou por amor?

Minha primeira inclinação ao me fazer essa pergunta foi partir para aquilo que mais tenho visto e, infelizmente, eu mesmo, também praticado: reclamar. Qual o problema em reclamar? Em princípio, nenhum. Reclamar é melhor do que ficar quieto, omisso, em um canto. No entanto, reclamar nos leva invariavelmente a um espaço de ilusão onde nos colocamos fora do problema. O problema são os outros. A diretoria, a empresa, o trânsito, o governo.... tudo devidamente colocado na terceira pessoa, de maneira a aliviarmos nossa culpa. Sim, se vivemos no mesmo planeta, somos corresponsáveis por tudo de bom e tudo de ruim que acontece por aqui. E, quando nos definimos como ETs, além do tremendo autoengano, simplesmente, nos colocamos num lugar de impotência. Quem frequenta estádios de futebol já deve ter visto a turma da pipoca, que fica na arquibancada criticando o time – comendo pipoca enquanto os jogadores são os únicos que podem fazer algo de fato para mudar o placar. Se você não faz parte do problema, não tem como fazer parte da solução. Esta é uma de minhas máximas preferidas, porque ela me lembra que, se eu tenho algo a ver com isso, tenho algo a fazer com isso. E meu convite, portanto, é que, todos nós que nos espantamos com o que está acontecendo com nossa profissão de comunicadores, percebamos que também somos parte do problema. Assim...

  1. Pare de reclamar!
  2. Não se culpe, porque culpa e vergonha paralisam muito mais do que o medo. Ao invés da culpa, simplesmente se perceba corresponsável pelo problema.
  3. Pare para pensar! Identifique que pequenos – ou grandes – atos você tem cometido que, direta ou indiretamente, contribuem para a realidade que lhe incomoda.

Quer uma dica? Comece por recusar convites para apresentar algo difícil ou desagradável como uma coisa mais suave e mais fácil de aceitar. Isso mesmo, pare de dourar a pílula! Eufemismo só é bonito em literatura. Na vida cotidiana é enganação. E nós dois, muito menos as empresas para as quais trabalhamos, não queremos ser tachados de enganadores, né?

Fontes:

(1) Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros, FENAJ, 04/08/2007

(2) Código de Ética dos Profissionais de Relações Públicas, CONFERP, 06/11/1985


Os artigos aqui apresentados não necessariamente refletem a opinião da Aberje e seu conteúdo é de exclusiva responsabilidade do autor. 2269

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