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COLUNAS


Rodrigo Cogo
rodrigo@aberje.com.br

@rprodrigo

Relações Públicas pelo Curso de Comunicação Social da Universidade Federal de Santa Maria , é especialista em Gestão Estratégica em Comunicação Organizacional e RP e Mestre em Ciências da Comunicação pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. Trabalhou por 10 anos com planejamento e marketing cultural para clientes como AES, Bradesco, Telefonica e BrasilTelecom. Tem experiência em diagnósticos de comunicação, para empresas como Goodyear, HP, Mapfre, Embraer, Rhodia e Schincariol. Atualmente, é responsável pela área de Inteligência de Mercado da Aberje, entidade onde ainda atua como professor no MBA em Gestão da Comunicação Empresarial.

A narrativa da experiência e a atratividade dos públicos

              Publicado em 24/02/2012

Reproduzo abaixo parte de meu artigo publicado na revista Animus de Comunicação Midiática, do Programa de Pós-Graduação do Curso de Comunicação Social da Universidade Federal de Santa Maria/RS, publicada em setembro de 2011.

A narração é uma prática de linguagem e se renova a cada experiência de recordar, pensar e contar, porque “a narração avança e recua sobre a linha do tempo, como que transbordando a finitude espaço-temporal que é própria dos acontecimentos vividos” (BENJAMIN, 1986a, p.37). A narração doa um tempo e um lugar, uma sequência e uma causalidade às reminiscências. Como diz Schank (apud PEREIRA; VEIGA; RAPOSO; FUKS; DAVID; FILIPPO, 2009, p.101), “a mente pode ser vista como uma coleção de histórias, coleção de experiências já vividas”.

Lucena Filho, Villegas e Oliveira (2008, online) atestam que as histórias acompanham as origens sociais do ser humano na tradição oral e escrita. Sempre que uma história é contada, fala dos atores e dos feitos em contexto particular e apresenta experiências que contribuem para a aprendizagem dos narradores, leitores ou ouvintes. Segundo o contexto no qual é criada/estruturada, a história pode gerar espaços de reflexão do passado e inspiração para a transformação do futuro. Para Terra ([s.d.], online), a humanidade vem contando histórias de forma ininterrupta desde que adquiriu a fala ou mesmo antes disso, desde que aprendeu a gesticular e se comunicar. De fato, muitos antropólogos dizem que é a capacidade de contar histórias que separou o homem de outros primatas ao longo da evolução. Barthes (1971) colabora com um conceito bastante preciso e simples, ao dizer que



a narrativa está presente em todos os lugares, em todas as sociedades; não há, em parte alguma, povo algum sem narrativa; todas as classes, todos os grupos humanos têm suas narrativas, e frequentemente estas narrativas são apreciadas por homens de cultura diferente [...] a narrativa está aí, com a vida (BARTHES, 1971, p.20).




A semiótica, ciência que estuda as estruturas linguísticas e as formas de comunicação, continua Terra ([s.d.], online), relata que o ser humano transmite quase 700 mil sinais físicos distintos, incluindo cerca de 1.000 posturas corporais, 5.000 tipos de gestos e 250.000 expressões faciais, dada sua capacidade natural de transmitir sinais, informações e conhecimento. Sobre isto, Benjamin (1986b, p.220-221) sentencia que a narração, em seu aspecto sensível, não é de modo algum o produto exclusivo da voz, e que, “na verdadeira narração, a mão intervém decisivamente, com seus gestos [...] que sustentam de cem maneiras o fluxo do que é dito”. Ewald (2008, online) fala que, ao enfatizar a conexão entre narrar e lembrar, há uma exposição da “ligação intrínseca que há entre a memória, narrativa oral e ação social”. A história é construída socialmente, através de uma interação, nos momentos de espacialização, por meio da voz, do corpo e das inscrições.
Quando se fala de histórias, está-se dizendo que se inserem em um discurso histórico, em uma meta-história particular caracterizada pela coerência de uma comunidade que vive numa determinada linguagem. Assim, as histórias proporcionam aprendizado à medida que revelam estruturas de coerência nas quais estão incluídos o tempo e os feitos dos atores nele envolvidos (ECHEVERRÍA, 2003, p.363).

À medida que for sendo construída uma ponte entre os conceitos de memória organizacional e de storytelling, poderemos alcançar um formato narrativo que se constitua atrativo para os públicos. As histórias que as pessoas contam sobre as relações sociais nas organizações precisam ser tratadas como narrativas que buscam construir sentido para as ações, tanto passadas como futuras, procurando plausibilidade para as experiências. Ricas em detalhes, as narrações possibilitaram o resgate das opiniões, sentimentos e intenções por trás das ações realizadas.

Esta profundidade e complexidade, porém, parecem passar despercebidas num cotidiano profissional de comunicadores organizacionais e relações públicas ainda absortos no atendimento pontual e sequencial de demandas de setores, o que dificulta a reflexão sobre a extensão dos atos retóricos em ambiente de trabalho e/ou em nome de empreendimentos e negociações multipúblicos. A visão mecânica ou instrumental ainda parece predominar na área, como se estivesse tratando do simples manuseio, mais ou menos estratégico, de produção e distribuição de mídias de contato. Na verdade, esta concepção está absolutamente em questionamento numa sociedade cada vez mais em rede, consciente do poder da inteligência coletiva e da potencialidade da internet no descentramento da fonte emissora. Com pessoas alterando de maneira significativa o foco de suas atribuições de confiabilidade, suprimindo ou atenuando a pretensa influência das grandes corporações, dos governos, das igrejas ou da mídia broadcast, cria-se uma outra ordem de parâmetros para conformar a reputação. Entre os desafios da comunicação nas e das organizações, cresce a importância da conquista da atenção dos interlocutores, para só então buscar a transformação da informação em conhecimento, a mobilização para agir ou mudar e ainda a recomendação, ou mesmo defesa, do negócio, seus produtos, serviços e pontos de vista.

Busca-se afirmar que as reminiscências sobre o percurso histórico de uma organização, destituídas de qualquer obrigatoriedade factual e sucumbência hierárquica e valorizadoras de todas as vozes, constituem um forte argumento para os discursos oficiais nesta arena de alta concorrência de significados e protagonismos. O excesso de objetividade em todas as interfaces oficiais, por obra da supremacia da performance quantitativa e do lucro exclusivamente financeiro, precisa ser revisto não só do prisma comunicacional, mas também de gestão. Assim, seria possível a emergência de um ambiente receptivo à expressão e consideração das subjetividades e à estruturação de narrativas diferenciadas das falas rígidas e manualizadas facilmente encontradas em reuniões, sites, folhetos, entrevistas ou boletins informativos – cuja atratividade e efetiva escuta e leitura são cada vez menores e portanto menos relevantes e memoráveis.


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