"Quem não se comunica, se trumbica!"
A célebre frase – ao menos para quem tem mais de 30 anos – era constantemente dita pelo Chacrinha. Dos trintões e trintonas para cima, são raros os telespectadores da TV brasileira que não assistiram aos programas do comunicador Abelardo Barbosa, considerado um dos mitos da televisão brasileira.
O apresentador / humorista / performer, nasceu na zona do agreste pernambucano. O “velho guerreiro”, como também ficou conhecido, tocou bateria e percussão e estudou Medicina. Trabalhou em várias rádios, na TV Tupi, TV Rio, TV Bandeirantes e Rede Globo, na qual lançou vários sucessos da música brasileira como Estúpido Cupido, de Celly Campelo. Ao menos durante duas décadas todos os “artistas” e as aspirantes ao posto queriam ir ao seu auditório. Chegou a fazer dois programas semanais de sucesso: Discoteca do Chacrinha e Buzina do Chacrinha. Eram programas divertidos e quase psicodélicos, em que apresentava calouros, mandava ver nas buzinadas, dava abacaxi como troféu, bacalhau de presente para a platéia e perguntava: Vai para o trono, ou não vai?
Alcançou grande popularidade com os seus programas de calouros, o humor debochado, bordões e expressões que se tornariam populares, como "Teresinha!", "Vocês querem bacalhau?", "Eu vim para confundir, não para explicar!", "Como vai, vai bem? Veio a pé ou veio de trem?", "Cheguei, baixei, saravei".
Os jurados ajudavam a criar o clima de farsa trash no qual se destacaram Carlos Imperial, Aracy de Almeida, Rogéria, Elke Maravilha e Pedro de Lara. Outro elemento para o sucesso eram as chacretes, as dançarinas que faziam coreografias para acompanhar as músicas e animar os programas. Para coroar a brincadeira elas recebiam nomes exóticos como Rita Cadillac, Índia Amazonense, Fernanda Terremoto Suely Pingo de Ouro, Vera Furacão etc. Algumas delas fizeram parte do universo erótico de gerações de espectadores adolescentes.
Eu gostava muito da oralidade e da figura do Velho Guerreiro. Sempre lembro dele na época do Carnaval, não só pelo seu apelo festivo como pelo fato de realmente carnavalizar a sua forma de comunicar. Também tem o fato de que anualmente lançava em seu programa uma marchinha para o Carnaval que virava grande sucesso.
Em 1987 ele foi homenageado pela Escola de Samba carioca Império Serrano com o enredo "Com a boca no mundo - Quem não se comunica se trumbica". No mesmo ano recebeu título de "doutor honoris causa" da Faculdade da Cidade, no Rio de Janeiro. Justas homenagens, pois o seu estilo de comunicar cativava milhões, fugindo totalmente das regras televisivas. Um comunicador nato que, se estivesse vivo, seria um bom palestrante para empresas que buscam a melhoria da Comunicação.
Afinal, usando um neologismo, seria importante “chacrinizar” um pouco as formas atuais com que a companhias falam com seus colaboradores. O que tenho observado são formatos sisudos, oficiais e caretas em jornais, revistas e vídeos corporativos. Muda o papel, mas se reproduz o jeitão da grande imprensa. Nas TVs o velho formato bancada e cenário tapadeira dos telejornais tradicionais. Nos murais, agora de plástico, as mesmas folhinhas A4 grudadas em tachas percevejos.
A comunicação foi o atributo que permitiu a evolução e o surgimento da sociedade humana. Evoluímos da comunicação oral para a escrita; vieram invenções como o telégrafo, telefone, fax, celular, e-mails e redes sociais. Mas, evoluímos porque melhoramos a nossa capacidade de comunicação ou apenas as maneiras de fazê-la ? Será que aumentamos a capacidade de comunicar ?
Os povos não se entendem e os grandes conflitos são causados muitas vezes por falta de diálogo. Conflitos pessoais e profissionais são bastante comuns também pela falta ou erro de comunicação. Cada vez mais temos novos canais e mídias para nos comunicarmos, mas o que sobra em quantidade falta em qualidade.
Em carnavais ou em crises de comunicação sempre me lembro desse personagem e de seu bordão “Quem não se comunica, se trumbica!”. E como diz a música Aquele Abraço, de Gilberto Gil, “Chacrinha buzina a moça e comanda a massa”. E como comandava. Infelizmente o último programa Cassino do Chacrinha foi ao ar 1988, ano de seu falecimento.
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