O cavalo e o executivo
Esboço de Leonardo da Vinci para o monumento equestre que recebeu o nome de “Gran Cavallo” e que não chegou a ser concretizado
“Viciada em trabalho, exigente com prazos e metas e difícil no trato com os subordinados”. Foi assim que a revista Veja, em sua edição de 1 de fevereiro, apresentou Graça Foster, a nova presidente da Petrobras. No subtítulo, destaca-se que a mulher “terá de ser implacável para acelerar o pré-sal”. E a reportagem ainda esclarece que Graça foi catadora de papel e “costuma creditar à infância pobre seu jeito algo rude”. Não bastasse isso, a nova presidente, menciona Veja, “de tão temida, nos corredores da empresa ganhou o apelido de Caveirão, em referência ao blindado do Bope que aterroriza os bandidos das favelas cariocas.”
Levanto a suspeita se a presidente da Petrobras realmente age como propala Veja. Sei apenas que toda vez que vejo um executivo sendo descrito como um ser cruel que inspira medo, me assombro para valer. Mas me assombro mais ainda quando esse mesmo perfil é apresentado como modelo a ser seguido. Oras, será que precisa acontecer mais alguma tragédia para percebermos que essa cultura baseada em comando, controle e punição instalada nas organizações desde a revolução industrial já deu o que tinha que dar? Quantos talentos as empresas ainda terão que perder para acordarem de um modelo que não serve mais a ninguém?
Engana-se, no entanto, quem pensa que esses são valores carregados e transmitidos apenas pelos mais velhos. No meio de um workshop, ouvi a seguinte pergunta de uma jovem profissional de comunicação que tinha o desafio de implantar um novo canal junto à liderança: “Que mecanismos de controle podemos usar para garantir que os líderes realmente façam o que se espera deles?” A resposta veio a cavalo: “É só colocar a tarefa como meta formal. Se ele não fizer, é punido na avaliação de desempenho”, disparou outra jovem profissional.
Não se trata, portanto, de um choque entre gerações. Ainda estamos todos impregnados de crenças que não contribuem para a construção de grupos de trabalho mais colaborativos, autônomos e tolerantes com o erro, justamente o tipo de coisa que qualquer organização que busca sua sustentabilidade mais necessita. Não basta baixar um decreto escrito “cumpra-se”. Ninguém nem qualquer organização inova na base da porrada. E sistemas de controle e punição até podem funcionar durante certo tempo, nada, no entanto, que a engenhosidade humana não dê conta.
Cavalos são animais que acompanham os homens há milhares de anos. Domesticados, já foram nosso principal meio de transporte. Costumam ser bastante sociais, vivendo em grupos liderados por fêmeas. No horóscopo chinês, o signo do cavalo é associado à rapidez, talento, elegância e zelo. Encontram-se poucos registros que classificam cavalos a animais brutos que saem por aí pisoteando o que encontram pela frente. Portanto, até mesmo quando um executivo é comparado a essa característica pejorativa do equino, há esperança de que ele tome consciência de outras atitudes que possam contribuir para torná-lo um líder realmente eficaz.
No clássico best-seller de James C. Hunter, “O monge e o executivo”, o personagem do monge defende que a base da liderança não é o poder e sim a autoridade, conquistada com amor, dedicação e sacrifício. E diz ainda que respeito, responsabilidade e cuidado com as pessoas são virtudes indispensáveis a um grande líder. Ou seja, para liderar é preciso estar disposto a servir. Uma das citações que mais gosto nesse livro é de Vince Lombardi, o primeiro treinador campeão do Super Bowl americano, que coloca os pingos nos “is” no que seria um líder servidor: “Não tenho necessariamente que gostar de meus jogadores e sócios, mas como líder devo amá-los. O amor é lealdade, o amor é trabalho de equipe, o amor respeita a dignidade e a individualidade. Esta é a força de qualquer organização.”
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