Você já se deu conta que a história de vida da maior parte dos gestores só teve acerto? Tudo deu certo: infância, escola, amigos, universidade, primeiro emprego... Sei bem que a função arquetípica da figura do herói é ser inspirador, e, então, busca-se revestir esses líderes com partes específicas de suas trajetórias que possam ser vistas como exemplares. Mas se pretendemos, como comunicadores organizacionais, conseguir obter uma conexão entre as chefias e suas equipes, ou entre os contratantes e seus fornecedores, ou entre os entrevistados e os jornalistas, não está mais que na hora de colocar outras verdades nos discursos?
Bem, isso é um pedaço do que tenho estudado em torno do storytelling como narrativa da experiência. Entre as características que cada vez mais têm sido celebradas como novos propulsores de um link emotivo, intenso e memorável entre as pessoas envolvidas numa determinada conversa estão a narrativa em primeira pessoa, o tom confessional, os detalhes pessoais, a fala emotiva, o estilo mítico, o sentido aberto e... as vulnerabilidades!!!
Por vulnerabilidade, entenda-se o conceito vindo do próprio dicionário: qualidade de vulnerável, desprotegido; condição de risco em que uma pessoa se encontra; conjunto de situações mais ou menos problemáticas que situam a pessoa numa perspectiva inferior a uma demanda com que convive e a afeta...
Sabe-se que toda organização tem algo que funciona direito, aspectos que lhe dão vida quando ela é vital, efetiva e bem-sucedida. O problema é fazer desse núcleo positivo a preponderância ou exclusividade de nossas exposições e pontos de interface, mesmo que eles aumentem a energia e inspirem ações de mudança. Chega um ponto em que a retórica organizacional está questionada exatamente pela inabilidade em tratar dos fracassos, das instabilidades, dos retrocessos, dos titubeios.
Concordo que foco em competências essenciais, talentos e habilidades, evidenciando as melhores práticas realizadas, é um caminho. Mas a ideia de construir um ideal é fantasiosa demais para a árdua realidade dos ambientes de trabalho. Só fico imaginando a beleza e a efervescência das histórias de dúvida e o quanto elas podem também ser importantes para se buscar novos comportamentos.
A publicidade vem entendendo e propondo muito bem esse outro enfoque. Recolhi alguns exemplos em VT´s veiculados nas televisões aberta e fechada nos últimos tempos. Todos expõem “fraquezas” de figuras públicas – ator, esportista, cantor -, assumidas a serviço da proposta de um diálogo mais franco de marcas específicas e, certamente, de conexões fortes com os telespectadores em que se considera sua inteligência, para além do humor fácil. Vamos aprender com eles?
O discurso de Steve Jobs, quando foi pela primeira vez homenageado por uma turma de formandos da Universidade de Stanford é outro exemplo da exposição de vulnerabilidades e da potencialidade desse tipo de mensagem receber atenção e repercussão. Veja abaixo.
Steve Jobs - Discurso Stanford COMPLETO