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Rodrigo Cogo
rodrigo@aberje.com.br

@rprodrigo

Relações Públicas pelo Curso de Comunicação Social da Universidade Federal de Santa Maria , é especialista em Gestão Estratégica em Comunicação Organizacional e RP e Mestre em Ciências da Comunicação pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. Trabalhou por 10 anos com planejamento e marketing cultural para clientes como AES, Bradesco, Telefonica e BrasilTelecom. Tem experiência em diagnósticos de comunicação, para empresas como Goodyear, HP, Mapfre, Embraer, Rhodia e Schincariol. Atualmente, é responsável pela área de Inteligência de Mercado da Aberje, entidade onde ainda atua como professor no MBA em Gestão da Comunicação Empresarial.

Contribuindo com a compreensão sobre storytelling organizacional - parte 2

              Publicado em 23/05/2014

Dando continuidade à primeira parte deste texto, publicada em abril, tenho a proposta de trazer mais pesquisadores e estudiosos sobre storytelling organizacional, para auxiliar você que se interessa no tema.

Para Alfeneu Domingos, o storytelling é uma tentativa de humanização do espaço de interação. O storytelling tem um papel importante nas sociedades contemporâneas, pois ouvir, coletar e compartilhar histórias de vida são elementos críticos dentro do processo de democratização. As narrativas tratam de assuntos diversos, como a vida dos grandes empreendimentos, ou mesmo narrativas ficcionais que possam servir para exemplificar um estado de espírito capaz de colocar toda uma empresa em interação comunicativa. O objetivo é formar uma atitude pragmática e viva nas relações de trabalho, acrescido de forte valor não só intelectual, mas também ficcional. As personagens podem tornar-se suportes vivos de histórias vivas, onde se concretizam e encarnam ideias que, mesmo que complexas, podem se tornar acessíveis a todos. Não se trata, portanto, de qualquer narrativa de entretenimento, mas sim aquela que tem também o objetivo de formatar pensamentos e veicular significações.

São textos narrativos que produzem efeitos diretos nos grupos que as praticam, de modo individual ou até mesmo global, nas dinâmicas de mudanças, de inovação, ou de clima relacional nas organizações e sociedades em rede. Produtos puros da imaginação, embora sempre baseadas nas experiências com o real. Domingos formaliza que storytelling é “uma antiga arte de transmitir fatos, reais ou ficcionais, em diferentes tipos de suporte, de modo verbal ou não, a fim de emocionar e informar grandes públicos”. O storytelling, na esteira de pensamento de Maurício Mota, é um formato cross-mídia e de marketing desenvolvido pelas organizações, notadamente de mídia em seus núcleos de dramaturgia. É um processo que resulta de uma prática recuperadora do passado como alvo de inspiração e de recriação argumentativa, na proposta de estabelecer um trampolim para manter diálogos produtivos com diversos públicos no presente e até obter vantagens sobre concorrentes no futuro. Para José Cláudio Terra, storytelling é o ato de contar histórias de forma deliberada e sistemática como forma de transferir conhecimentos, cultura e valores. E também inspirar, gerar coesão social e conectividade emotiva entre os indivíduos.

Na visão de Yannis Gabriel, storytelling diz respeito a narrativas com enredos e personagens, gerando emoção em narrador e plateia, através de uma elaboração poética de material simbólico - pode ser um produto da fantasia ou da experiência e implica conflitos, impasses, provações e crises que exigem escolhas, decisões, ações e interações. As histórias no ambiente de negócios têm esta potência de comunicar a um público específico exatamente o que é preciso, em uma linguagem que todos entendam cuja mensagem traduzida e individualmente apropriada na medida certa, a partir de sua experiência, seu ouvido pessoal e único. Há uma função múltipla nas histórias, envolvendo motivar e integrar pessoas, instigá-las sobre os desafios de um novo projeto, conscientizar sobre metas, dentro de um entendimento de que, como diz Gyslaine Matos, os contos tradicionais e as histórias criadas com a finalidade de atender às necessidades da organização são hoje uma ferramenta imprescindível na gestão do conhecimento, na construção da memória organizacional e na humanização do ambiente de trabalho.

Através das histórias seria possível estudar políticas organizacionais, cultura e mudanças e como elas são comentadas pelos membros. Não raro, elas agregam e disseminam uma sabedoria milenar com conteúdo de alto poder transformador. E com isto os valores da organização vivem nas histórias que são contadas, revividas e relembradas a cada momento. Convém destacar aqui que o texto organizacional não tem significado fixo, porque contém formas simbólicas, abertas a leituras múltiplas e ilimitadas. A contação de história, através da coloquialidade, procura estabelecer conexão, onde os atos do discurso e a análise conversacional, na metáfora do discurso, são ligadas a improvisações. Segundo Stephen Denning, citando constatações de etnologistas, a cultura corporativa é transmitida principalmente por histórias – anedotas, piadas, comentários, lições de moral, provérbios – que recontam sucessos ou fracassos das equipes em ambiente de trabalho, numa interpretação do senso comum. E complementa: as histórias contadas e recontadas em uma organização são experiências de aprendizado – positivas ou negativas – para os participantes. Estão entre os principais meios pelos quais as pessoas são integradas à cultura da empresa, pelo simples fato de traduzirem, em situações cotidianas e de fácil assimilação, os valores circulantes.

As histórias sistematizam as experiências na construção e no desenvolvimento de projetos corporativos, as soluções encontradas diante de obstáculos e os insights que podem contribuir para ocasiões futuras. Afinal, as histórias cruzam as fronteiras da razão e se enraízam entre aqueles que as compartilham, criando laços de afeto e cumplicidade que reafirmam suas jornadas e desafios em comum. Sem preocupar-se em diferenciar narrativas da experiência e histórias ficcionais, Gyslaine Matos postula que as histórias são eventos do território do imaginário, mesmo quando partem de fatos reais, porque serão inevitavelmente reconstruídas pelos ouvintes. Esse processo envolve a criação e o acesso a conteúdos internos de cada um, permitindo como se fosse uma experimentação do ato criador, a partir da conexão com emoções e significações próprias.

Muito é dito sobre o tema. E é melhor, para dar consistência para nossa percepção e nossas falas, de fato ler bastante sobre ele.


Os artigos aqui apresentados não necessariamente refletem a opinião da Aberje e seu conteúdo é de exclusiva responsabilidade do autor. 2173

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