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Marco Antônio Eid


Jornalista, escritor e executivo da área de comunicação, é Diretor de Conteúdo da RV&A (Ricardo Viveiros & Associados - Oficina de Comunicação).

Letras que falam

              Publicado em 17/11/2011

Num país de culturas tão diversificadas como o Brasil, permeado de regionalismos, sotaques e gírias, a linguagem escrita tem a especial missão de conferir identidade coesa à língua. Trata-se de tema muito importante para todos nós profissionais de comunicação. Afinal, pela própria natureza de nosso trabalho, temos imensa responsabilidade quanto ao zelo e bom uso do maravilhoso e complexo idioma que herdamos de nossos colonizadores e enriquecemos com elementos indígenas, italianos, árabes, espanhóis e de outros povos presentes em nossa sociedade.

É interessante lembrar que os escritos formais — no jornalismo, correspondências oficiais, cerimoniais, ofícios, memorandos e na comunicação empresarial como um todo — pouco utilizam as peculiaridades da linguagem oral. Assim, por exemplo, as alterações pronominais comuns no Sul, no Rio de Janeiro e na Baixada Santista, no litoral de São Paulo, normalmente não são transportadas para os textos. O mesmo ocorre com alguns italianismos dos paulistanos e certas maneiras muito peculiares de construir as frases no Nordeste.

É verdade que expressões locais aparecem em textos jornalísticos e oficiais de cada região brasileira. Nem poderia ser diferente. Porém, a linguagem escrita nacional tem bastante uniformidade gramatical, sintática, semântica, fonética, pronominal e léxica. A grande exceção nessa realidade é a comunicação informal pela internet, nos e-mails, inclusive nas relações profissionais, e todas as mídias sociais. Além dos caracteres específicos que a juventude desenvolveu para essas mídias, com abreviaturas e símbolos, é instigante observar que a sua linguagem, embora escrita, é exatamente a oral.

Correspondências na Web, o que, curiosamente, não acontecia com a mesma intensidade nas antigas cartas enviadas pelos correios, são constituídas por letras que falam, literalmente. Trata-se de uma linguagem fortemente onomatopeica, na qual “ouvimos” com clareza as múltiplas formas dos regionalismos idiomáticos do País, viajando de Norte a Sul, de Leste a Oeste, pelos maravilhosos sotaques e diferentes maneiras de se colocar os pronomes, conjugar verbos e construir frases.

Obviamente, não podemos e nem devemos prescindir da norma padrão da Língua Portuguesa, em especial no exercício do jornalismo e da comunicação empresarial. Isso, contudo, não significa abdicar do delicioso informalismo regional da internet, que é literatura popular democratizada pela tecnologia!


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