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Rodrigo Cogo
rodrigo@aberje.com.br

@rprodrigo

Relações Públicas pelo Curso de Comunicação Social da Universidade Federal de Santa Maria , é especialista em Gestão Estratégica em Comunicação Organizacional e RP e Mestre em Ciências da Comunicação pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. Trabalhou por 10 anos com planejamento e marketing cultural para clientes como AES, Bradesco, Telefonica e BrasilTelecom. Tem experiência em diagnósticos de comunicação, para empresas como Goodyear, HP, Mapfre, Embraer, Rhodia e Schincariol. Atualmente, é responsável pela área de Inteligência de Mercado da Aberje, entidade onde ainda atua como professor no MBA em Gestão da Comunicação Empresarial.

Pense sobre mitos e performances no conteúdo e no formato da comunicação corporativa

              Publicado em 07/10/2011

A semiótica, ciência que estuda as estruturas linguísticas e as formas de comunicação relata que o ser humano transmite quase 700 mil sinais físicos distintos, incluindo cerca de 1.000 posturas corporais, 5.000 tipos de gestos e 250.000 expressões faciais, dada sua capacidade natural de transmitir sinais, informações e conhecimento. Sobre isto, Benjamin (1986, p.220-221) sentencia que a narração, em seu aspecto sensível, não é de modo algum o produto exclusivo da voz, e que, “na verdadeira narração, a mão intervém decisivamente, com seus gestos [...] que sustentam de cem maneiras o fluxo do que é dito”. Há uma exposição da ligação intrínseca que há entre a memória, narrativa oral e ação social. A história é construída socialmente, através de uma interação, nos momentos de espacialização, por meio da voz, do corpo e das inscrições.

Quando se fala de histórias, está-se dizendo que se inserem em um discurso histórico, em uma meta-história particular caracterizada pela coerência de uma comunidade que vive numa determinada linguagem. Assim, as histórias proporcionam aprendizado à medida em que revelam estruturas de coerência nas quais estão incluídos o tempo e os feitos dos atores nele envolvidos.

Postula-se que os relatos contenham uma atmosfera de mito. Vale dizer que, em grego antigo, os termos mythos e istoria tinham em comum o sentido do discurso ou narração, sendo que o primeiro traz noção de trama e conto e o segundo de interrogação e exame (PASSERINI, 1993, p.29). É sabido que Tucídides, ao conceituar a história, faz uma distinção clara entre uma ciência de análises cuidadosas e os mythódes, ou sejam as tradições orais conectadas com o reino do fabuloso. Os mitos, diferentemente da história, são narrações que tentam exprimir dimensões divinas ou sobrenaturais no entremeio da abordagem racional, buscando ser mais agradáveis e utilizando um discurso que dispensa demonstração. Ora, “as histórias de vida podem ser vistas como construções de mitobiografias singulares, usando opções de recursos diversos, que incluem mitos, combinando o novo e o antigo em expressões únicas” (PASSERINI, 1993, p.39).

Como assinala Eliade (2001, p.72), o tempo considerado sagrado e forte é o tempo da origem, da cosmogonia, da criação da realidade, que serve como inspiração permanente. Projetos de memória podem funcionar, portanto, como reatualizações rituais do tempo original e não meramente como comemoração festiva de acontecimentos passados. Os ritos e rituais são embasados exatamente nesta premissa de recitação, onde o regresso ao tempo de origem é simbolicamente nascer de novo e retomar energias, dado que “a vida não pode ser reparada, mas somente recriada pela repetição simbólica da cosmogonia” (ELIADE, 2001, p.74). Os participantes dos rituais tornam-se contemporâneos do acontecimento mítico retratado – saem do tempo histórico (constituído pela soma dos eventos profanos, pessoais e intrapessoais) e reúnem-se no tempo primordial e indestrutível. Nas festas, haveria uma experimentação da santidade da existência humana como criação divina, já que no resto do tempo há sempre o risco de esquecer-se do que é fundamental. Completa o autor: “o mito conta uma história sagrada, quer dizer, um acontecimento primordial que teve lugar no começo do tempo. Mas contar uma história sagrada equivale a revelar um mistério, pois as personagens do mito não são seres humanos: são deuses ou heróis civilizadores” (ELIADE, 2001, p.84).

O mito é a história do que se passou na origem, a narração do que seres divinos fizeram, tornando-se verdade absoluta. A função mais importante do mito é, pois, ‘fixar’ os modelos exemplares de todos os ritos e de todas as atividades humanas significativas. É interessante registrar o conceito de mito em Lévi-Strauss (1970, p.140), para quem “mito é, ao mesmo tempo, uma estória contada e um esquema lógico que o homem cria para resolver problemas que se apresentam sob planos diferentes, integrando-os numa construção sistemática”. A tentativa de estudar e interpretar o mito é importante para a compreensão do papel assumido pelo sistema simbólico, tanto como elemento integrador e definidor da identidade da empresa, como revelador dos mecanismos de poder.

Estas são questões que podem ser levadas em conta no fazer diário dos comunicadores, qualificando seus pontos-de-vista, seus planejamentos e suas práticas em direção a uma narrativa mais intensa e envolvente, que leve a uma experiência memorável e replicável para seus públicos de relacionamento. Afinal, no reino da obsolescência e na guerra de discursos onde vivemos, tudo se candidata a cair na vala do esquecimento, atropelado por mais e mais conteúdo no segundo seguinte. A não ser que tentemos fazer diferente.

Referências
ECHEVERRÍA, Rafael. Ontología del lenguaje. 6a. ed. Santiago, Chile: J.C.Saéz, 2003.

BENJAMIN, Walter. O narrador: considerações sobre a obra de Nikolai Leskov. In: BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. Obras escolhidas. Vol.1. 2ª.ed. São Paulo: Brasiliense, 1986b, p.197-221.

ELIADE, Mircea. O sagrado e o profano: a essência das religiões. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

PASSERINI, Luisa. Mitobiografia em história oral. Projeto História, São Paulo: Revista do Programa de Estudos Pós-Graduados em História e do Departamento de História da PUC/SP, n.10, p.29-40, dez. 1993.

LÉVI-STRAUSS, Claude (Org.). Mito e linguagem social: ensaios de Antropologia Estrutural. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1970.


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