Executivos sim, mas sempre jornalistas!
Outro dia, entrevistado por talentosos alunos do curso de Jornalismo das Faculdades Integradas Rio Branco, mantidas pela Fundação de Rotarianos de São Paulo, deparei-me com pergunta sobre o impacto da tecnologia em nossa profissão. Abordei as facilidades de acesso e transmissão de informação e dados propiciadas por toda a parafernália cibernética da era do silício, de fato um imenso avanço, que dispensa análise mais aprofundada.
Contudo, como disse aos atentos estudantes, acredito que o maior efeito refira-se ao poder de comunicação que a internet e as redes sociais conferiram a cada indivíduo e à sociedade como um todo. Sem dúvida, trata-se de um fator de transformação histórica. Há cerca de cinco mil anos, a humanidade criou a escrita, na Mesopotâmia, viabilizando contratos, registro mais preciso de memórias das seguidas gerações e novas possibilidades de absorção do conhecimento; há 550 anos, na Europa, surgiu a imprensa de Gutenberg, grande ferramenta de democratização da leitura - e os impressos foram a mídia do Renascimento e da formulação do capitalismo moderno; num curto espaço de tempo, surgiram o rádio e a TV, outra revolução; e hoje, a internet desbanca ditadores, mesmo nos mais radicais bastiões do conservadorismo e do autoritarismo, como os antigos regimes do Egito e da Líbia.
Os indivíduos têm o Verbo, estabelecendo-se um inusitado e irresistível equilíbrio de forças na comunicação. Não há mais o leitor, ouvinte ou telespectador passivo ante a impossibilidade de acesso a múltiplas fontes de informação para checar e fazer análise do conteúdo de jornais, revistas, rádios e televisões. O mesmo se aplica no contexto da comunicação interna das empresas. Os recursos humanos, no âmbito de cada organização, e a sociedade como um todo formam uma imensa comunidade de informação, crítica e conhecimento, com gigantesca capilaridade, sinergia e alcance.
Esse processo obriga a mídia (seja ela um grande veículo ou a newsletter dirigida aos funcionários de uma empresa) a redobrar o zelo com a qualidade de seus conteúdos, pois eles serão sempre checados, questionados e colocados à prova. A responsabilidade, portanto, cresceu muito, suscitando, aliás, uma inequívoca oportunidade de aperfeiçoamento.
Assim, os jornalistas têm especial missão, com ênfase para a síntese de sua responsabilidade neste novo mundo: garantir a qualidade da informação. Para isso, são insubstituíveis as técnicas de apuração, entrevista, redação, edição e revisão dos conteúdos e, quando não na execução direta dessas tarefas, o compromisso quanto à sua idoneidade e excelência. O exercício da profissão em sua plenitude, portanto, é o que diferencia o jornalista de todos os indivíduos no ambiente virtual, tornando-o, inclusive, o mediador de grandes polêmicas, versões desencontradas do mesmo fato e histórias mal contadas na indomável Web.
A internet e as redes sociais removeram as últimas fronteiras e implodiram os derradeiros obstáculos à liberdade de expressão e pensamento. Nessa incontrolável, indiscreta e incensurável rede, a sociedade espera que a assinatura de um jornalista seja equivalente a um autêntico selo de qualidade e confiabilidade. Estes são atributos desejáveis na atitude de todos os que utilizam espaços públicos para divulgar ou escrever algo. No caso dos jornalistas, é obrigação, dever de ofício, responsabilidade e compromisso.
Na mesma proporção da tecnologia, a profissão cresceu e se diversificou. Atuamos, além das redações dos veículos de comunicação, nas assessorias de imprensa e PR, departamentos afins de empresas, companhias transnacionais, ONG’s e governos, somos diretores de relações com o mercado e de comunicação nessas mesmas organizações e até ministros de Estado. Em qualquer dessas funções, contudo, jamais podemos deixar de exercer o jornalismo e seus princípios técnicos e éticos. Tal consciência é decisiva para a qualidade da civilização pós-Web.
Os artigos aqui apresentados n�o necessariamente refletem a opini�o da Aberje
e seu conte�do � de exclusiva responsabilidade do autor. 1863
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