Como transformar as histórias em conhecimento?
Em 11 de agosto, realizamos mais um Seminário como parte das atividades do Fórum de Gestão de Conhecimento, Comunicação e Memória.
Este Fórum nasceu do desejo de quatro instituições – Aberje, Museu da Pessoa, Votorantim e ECA/USP – de promover reflexões sobre a memória e seu uso potencial no mundo corporativo. Cientes de que as histórias das empresas e, sobretudo, as narrativas das pessoas que delas fazem parte, são uma fonte única e preciosa para o desenvolvimento do conhecimento, convidamos pessoas que vêm dedicando suas vidas a pensar e aplicar técnicas de storytelling (produção de histórias).
Joe Lambert, palestrante convidado do ano passado, fundador do Center for Digital Storytelling nos falou sobre como as histórias pessoais e os círculos de histórias promovem confiança e empatia entre as pessoas.
Madelyn Blair, fundadora da Pelerei, focou nas palavras. Quais histórias podem surgir a partir das palavras? E, brincando com os termos que compõem as missões de empresas, convocou o público a trocar lembranças suscitadas pelas palavras. Bonito. Uma iniciativa interessante que pode tirar as missões empresariais das paredes e do hall dos elevadores de prédios corporativos e dar-lhes um significado compartilhado. Deu sequência à sua fala e perguntou: qual é, de fato, a relação das histórias com a gestão do conhecimento? Qual é, de fato, o papel da memória nesse contexto?
Madelyn escreveu em um de seu artigos que “a maior parte das ações referentes à gestão de conhecimento foca apenas na primeira parte do assunto, isto é, trata mais do acesso às informações do que do processo para transformá-las em conhecimento. Em geral, o esforço está em sistematizar os dados”. Daí se conclui que o conhecimento está acessível a todos. Mas, ela afirma, não existe conhecimento sem aprendizagem, sem reflexão. Assim como não existe livro sem leitores ou história sem alguém que a escute.
As histórias – pessoais, empresarias – tornaram-se “arroz de festa”. Estão presentes em comerciais, campanhas promocionais e em todos os tipos de relacionamento entre empresas e sociedade. Isto reflete, sem dúvida, uma mudança de cultura. As novas tecnologias, começando pela internet, ampliaram em muito o papel dos indivíduos na produção de conteúdo. De receptores passivos (papel tradicional do público das TVs e dos jornais tradicionais), as pessoas passaram a produzir conteúdos próprios e/ou a intervir em conteúdos alheios. Comentar, votar, compartilhar, publicar... Tantas formas de participação tornam todos autores potenciais. Mas, junto a Madelyn, me pergunto: é isto compartilhar conhecimento? É isto usar nossas histórias para produzir uma memória coletiva mais democrática? É isto trazer as narrativas pessoais para o mundo das corporações?
Existe um desafio muito importante nesse novo contexto. Em um cotidiano pleno de falas e ruídos de informação, como aprender a ouvir? Como produzir SIGNIFICADO?
Acervos de memória, museus, centros de documentação, bases de dados e narrativas só se tornarão conhecimento se forem selecionados, preservados e apropriados por seus públicos. Só existem se tiverem um SENTIDO compartilhado. E, para que este sentido seja criado, é necessário que haja uma ESCUTA. Assim, creio que o grande desafio para que as empresas façam uso de sua memória como ferramenta de conhecimento e comunicação está no silêncio. Neste sentido, falar de storytelling implica em aprofundar o que, em inglês, poderíamos chamar de “storylistening”. Mas acho que esta reflexão não é nada nova. Talvez por que a necessidade da escuta seja sempre importante de ser lembrada. Acho que talvez por isso existam tantos provérbios sobre o assunto. Aqui vão alguns:
"Deus dotou o homem de uma boca e dois ouvidos para que ouça o dobro do que fala." – Provérbio árabe
"Falar sem pensar é o mesmo que atirar sem mirar." – Provérbio espanhol
Os artigos aqui apresentados n�o necessariamente refletem a opini�o da Aberje
e seu conte�do � de exclusiva responsabilidade do autor. 899
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