Passado, presente, futuro? Ou presente no passado do futuro?
As novas tecnologias vem transformando, de maneira cada vez mais rápida, as nossas sensações de presente e passado, assim como nossos sentidos de pertencimento, comunidade e território. De alguma maneira, as novas possibilidades de conexão e compartilhamento de nosso tempo presente estão revertendo a nossa relação com a memória. Tudo passa a ser potencialmente digno de registro, não sendo mais necessário algum esforço “extra” de retenção. Qualquer momento passa a ser digno de tornar-se parte de nosso “passado”, ao mesmo que se torna necessário criar um “presente” por meio de uma mídia. Isso nos leva a estar permanentemente ausente do momento presente para mantermos a sensação de “presença” no mundo virtual.
Há menos de uma década, essa “mistura” cotidiana entre presente e passado seria tema de um conto de ficção científica. Até que ponto essas novas tecnologias transformarão, de fato, nossas formas de percepção do tempo? Segundo Einstein, a noção de passado, presente e futuro são apenas ilusões. Etiquetas que nós atribuímos aos instantes. O mundo não transcorre, mas simplesmente “existe", disse o matemático Hermann Weyl. Talvez essas percepções decorram de nossas capacidades cognitivas, e outras são construções culturais, como por exemplo, a noção bastante presente no mundo ocidental de que a História é linear, progressiva e tem um único sentido.
No entanto, no dia a dia e em nossas vidas, o passado é um “fato”. Quase podemos tocá-lo, senti-lo. É dele que se define o que a sociedade valoriza. E os grandes museus históricos, aqueles que visitamos quando estamos na escola, se encarregam de criar imagens e narrativas sobre as quais derivam nosso sentido de grupo.
Memória resulta de significado. História é o que dá significado. Assim, no final do século passado era necessário um esforço para registrar, preservar e transmitir seja o que desses fatos/narrativas e percepções eram entendidos como importantes. Os grandes museus, os grandes monumentos traduzem esse esforço. E, em nossas famílias, organizávamos álbuns de família, fotos de aniversários que, de alguma maneira, garantiam a transmissão da narrativa familiar para as novas gerações.
Mas, isso tudo mudou. Internet, digitalizações, facebooks, celulares, conexões potenciais produzidas a cada instante em todos os lugares do mundo. Registros, registros, registros. A tecnologia trouxe novas possibilidades de registro e compartilhamento de nossas vidas privadas e de reescrita de nossa História. Mas ela apenas trouxe a possibilidade de ampliar nossas formas de registro? Ou todos esses artefatos mudam nossa percepção do que é significado, do que é passado, presente e futuro?
É provável que os sentidos da memória, assim como suas funções sociais, estejam se transformando enormemente. Mas é exatamente neste momento que devemos parar para fazer uma reflexão mais aprofundada de que e para que serve a memória, seja esta individual, seja esta coletiva, e retomar seu sentido mais profundo que é o de reter e dar sentido e significado à nossa existência, como indivíduos e como parte de um grupo.
Andrew Hoskins, professor de pesquisa interdisciplinar da Faculdade de Ciências Sociais/ segurança Global da Universidade de Glasgow, foi nosso convidado para fazer uma palestra na oitava versão do Fórum Permanente de Gestão do Conhecimento, Comunicação e Memória. Ele pesquisa as transformações que derivam das novas sociedades digitalizadas nas áreas de memória, media, conflitos, segurança pública, privacidade entre outros inúmeros assuntos que sofrem o impacto das novas mídias. Vale a pena conferir (clique aqui).
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