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COLUNAS


Fabio Betti Salgado


Fábio Betti Salgado é sócio consultor da Corall, consultoria com o objetivo de catalizar a criação e transformação das organizações para o surgimento de uma nova economia, baseada em bem-estar e felicidade, prosperidade distribuída e uso eficiente de recursos. Iniciou na área de comunicação em 1988, na Johnson & Johnson, e, depois, especializou-se em comunicação interna na Dow Química. Foi sócio da Novacia de 1995 a 2009 e, desde 2010, vem atuando como consultor em processos de transformação cultural, tendo como principal abordagem a cultura de diálogo e a comunicação de liderança. Graduado em Jornalismo (PUC-SP), com pós-graduação em Comunicação Empresarial (ESPM) e diversos cursos de extensão e especialização nas áreas de gestão, marketing e publicidade, Fábio é mestrando em Biologia-Cultural (Universidade Mayor do Chile), formado em consultoria antroposófica (ADIGO) e professor da ABERJE, Escola de Diálogo e Escola Matriztica de Santiago. Escreve regularmente sobre comunicação para sites e associações setoriais. Além disso, mantém um blog pessoal para conversar sobre o diálogo nos diferentes domínios dos relacionamentos.

O problema são eles

              Publicado em 26/08/2011

Já não sei mais por quantos anos ouço a mesma história: a gerência média bloqueia a comunicação, tanto a que vem de cima, quanto a que vem de baixo. Ela é o gargalo da organização. E, desde os tempos idos, quando essa imagem apareceu pela primeira vez, a solução para o problema invariavelmente é a mesma: isolar esses estranguladores dos fluxos de comunicação em salas de treinamento e ensinar a eles como é que se deve fazer. As empresas são bem intencionadas, os cursos são ministrados por profissionais bem preparados, os participantes costumam sair com algo que possa ser aplicado em seu dia a dia. Por que é então que o problema não se resolve nunca?

A equação não fecha, primeiro porque comunicação não é algo que se aprende fazendo um curso, assistindo a uma palestra ou lendo um livro. Comunicação se aprende comunicando, ou seja, praticando. O que significa que vontade é mais importante do que talento, disciplina mais do que conhecimento. Segundo - e, na minha opinião, este talvez seja o maior erro -, os problemas de comunicação não estão NAS pessoas, mas ENTRE AS pessoas. A não ser que se trate de um esquizofrênico capaz de conversar consigo mesmo ou, na outra ponta, de alguém treinado em práticas de meditação para estabelecer diálogos entre seus vários eus, a comunicação é algo que acontece com a participação de duas ou mais pessoas. Logo o problema só pode ser resolvido na presença das partes envolvidas.

Se o problema, portanto, é que a comunicação que vem de cima emperra no meio, junte os de cima e os do meio e os coloque para conversar. Ah! Os de baixo podem se inibir na presença dos de cima... Este até que é um bom argumento para justificar deixar as coisas como estão, porém já existem muitas técnicas disponíveis no mercado para preparar grupos diversos para diálogos robustos.

Certa vez, co-facilitando um workshop com uma turma de alta diversidade hierárquica, um analista disparou para o CFO o que, afinal, fazia o comitê executivo da empresa para ficar o tempo todo em reunião. Em outros tempos, uma pergunta dessas poderia ser encarada como uma provocação, passível até de demissão. No caso do CFO em questão, ocorreu justamente o contrário: ele agradeceu a pergunta, dizendo que aguardava ansioso por uma oportunidade para respondê-la, e passou a explicar características da natureza da direção da empresa que a maioria das pessoas na sala desconhecia. A pergunta, de repente, humanizou-o, nivelando, naquele momento, a analista e o executivo.

Como escreveu Margareth Wheatley em Liderança em Tempos de Incerteza, “quando nos abrimos para diferenças que nos pareciam perturbadoras, descobrimos que as interpretações que os outros têm do mundo são essenciais à nossa sobrevivência.” E esse raciocínio se complementa com Ximena D’Avila que, junto com o biológico Humberto Maturana, escreveu o Habitar Humano: As organizações querem se conservar e querem ser produtivas. A única coisa que podemos fazer nessa situação é gerar espaços para reflexão, por meio de redes de conversações, para que as pessoas deixem de ser robôs e possam ter ideias para colaborar” – algo que só acontecerá quando se abaixar o dedo que aponta o culpado e o olhar de reprovação, substituindo-os pela mão que ajuda e o ouvido que escuta.


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