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Marco Antônio Eid


Jornalista, escritor e executivo da área de comunicação, é Diretor de Conteúdo da RV&A (Ricardo Viveiros & Associados - Oficina de Comunicação).

Copa do Mundo, Olimpíada e as lições do corrupião

              Publicado em 24/08/2011

A grande preocupação do Brasil no tocante às responsabilidades com a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016 refere-se à precariedade da infraestrutura dos estádios, aeroportos e transportes. Muito pertinente, pois se trata de algo crucial para que o País sedie com sucesso os dois maiores eventos esportivos do Planeta e, o que é mais importante, capitalize os investimentos e o legado das competições como fatores de crescimento econômico e desenvolvimento.

Por outro lado, há um aspecto tão relevante quanto a infraestrutura, mas pouco citado: a violência nos estádios, as brigas entre torcidas e até mesmo as crescentes ameaças contra jogadores de futebol e técnicos, que interferem até mesmo no seu sagrado direito de ir e vir. Não bastasse a gravidade intrínseca do problema, ele deve preocupar todos nós, profissionais da comunicação, que temos grandes desafios inerentes à Copa da Fifa e à Olimpíada. Numerosas empresas e organizações às quais prestamos serviços serão patrocinadoras dos torneios e/ou de seleções, fornecedoras de bens e serviços para as competições e/ou delegações e, no mínimo, buscarão agregar sua imagem ao esporte nos próximos anos. Brigas, violência e ameaças conspiram contra tudo isso.

Assim, é importante que pensemos em campanhas integradas de assessoria de imprensa, relações públicas, endomarketing, mídias sociais e propaganda, valorizando o esporte como vetor da solidariedade, diversão saudável, congraçamento entre pessoas, competição e não guerra! Aliás, esses princípios também são significativos para os clubes de futebol, detentores de marcas de imenso valor, que buscam a profissionalização crescente de sua comunicação e do seu marketing. Apenas para corroborar a importância de agregar a imagem “institucional” do futebol e dos esportes à fraternidade, à tolerância, ao lazer, às boas emoções e atitudes politicamente correta, aí vai uma historieta baseada em fatos reais...

.... Há cerca de um ano, aquela vizinhança na Vila Madalena, em São Paulo, acorda ao som do Hino do Palmeiras. O inusitado é que o intérprete não é um dos antigos oriundis do bairro, da estirpe que desce a Pompéia, a pé, em direção ao velho "Palestra Itália",para assistir aos fraldinhas, aos juniores e até à saga dos profissionais na segunda divisão. O cantor é um corrupião, passarinho bonito, bom pulmão, bico afiado e coração verde, como o do dono, o velho Conazeta, em cuja nova pátria, o Jardim Suspenso de Parque Antárctica, sempre acalentou a saudade da infância napolitana, "inclusive nos dias em que alguns atletas torturam o balão com suas canelas duras".

É um relógio o pássaro cantor. Às dez pra seis da madrugada, sem falha, com chuva, calor, frio ou derrota no domingo, "surge o Alviverde Imponente" na atmosfera boêmia da Vila. Só a melodia, porque a letra ele ainda não aprendeu. Aliás, isto não é demérito algum, pois acontece com nove entre dez palmeirenses, dada a complexidade métrica, semântica, gramatical e épica daquele magnífico poema.

Remanescentes das noites nos bares e baladas param para ouvir. De um lado, palestrinos, alegros, ma non tropo, gritam o tradicional "dá-lhe, Porco". Corintianos, santistas e são-paulinos, numa estranha reação química etílico-clubística, retrucam: "Timinho, timinho". E todos comemoram a alegria que o encanto do futebol consegue proporcionar aos espíritos serenos. Os vizinhos palmeirenses, claro, amam o corrupião. Os torcedores de outros times até gostam dele, embora não admitam.

Na última segunda-feira, perdi hora. O Hino do Verdão não enfeitou a madrugada. Acordei preocupado. Minha filha quase não chegou a tempo na faculdade. E tinha prova na primeira aula! Na saída para o trabalho, não resisti. Fui à casa vizinha, onde vivia o passarinho, que jamais conheceu gaiola. Ao contrário do assum preto do antológico Luiz Gonzaga, cantava porque era livre, feliz e palmeirense. O ambiente, porém, era tristeza só. O cantor fora sumariamente apenado, depenado e devorado. Como tantos neste país, pagou caro por suas convicções.

O autor do assassinato foi um gato que acabara de ser comprado por um morador do bairro, um sujeito que nem de futebol gosta, não namora, não têm cônjuge, companheira, companheiro, filhos, bons amigos e time e, na hora de jogo da seleção, assiste àqueles documentários sobre o hábito noturno dos répteis do período jurássico. É aquele tipo que bate a janela ao ver crianças brincando ou jovens se divertindo nas calçadas ensolaradas dos outonos da Vila Madalena. Os palmeirenses, corintianos, santistas e são-paulinos, unidos na indignação, não têm dúvidas de que foi crime premeditado, não do felino, mas de seu proprietário.

O corrupião virou saudade, mas sua história e inglória despedida são legados plenos de lições. Primeira: jamais nos deixemos usar, como ocorreu com o gato, por criaturas mal-intencionadas; segunda: as distinções de time, religião, partido, raça, cor, gênero e ideologia nunca devem separar as pessoas de boa vontade, pois o mal não está nas diferenças.E a terceira - e mais importante - é a de que podemos ser felizes!


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