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Mônica Alvarenga
monica@monicaalvarenga.com

Coach e consultora em Comunicação e Relacionamentos Organizacionais, graduou-se em Comunicação Social pela UFRJ, Letras (FEUC), especializando-se em Marketing (FGV), Comunicação Corporativa (Syracuse University, NY) e Mídias na Educação (UFRRJ). É diretora da Múltipla Comunicação. Escreve para portais e blogs sobre relacionamento e comunicação. 

www.monicaalvarenga.com

Você está em busca do "novo"?

              Publicado em 29/07/2011

Comunicação estratégica não é mais novidade. Mas, para que a atividade logre esse status, é preciso preencher alguns pré-requisitos. O mais básico deles talvez seja a clareza, afinal, quem consegue pensar em estratégia sem clareza de intenções e expressões? E porque um dos fatores mais importantes desta comunicação dita estratégica ainda recebe tão pouca atenção – de fato – nas empresas? Infelizmente, a comunicação clara ainda não é senso comum e a dissonância entre o que se pensa e o que se fala ainda é um dos grandes geradores de conflitos dentro dos ambientes organizacionais.

De onde vem essa dificuldade de comunicar-se claramente, que podemos localizar, se fizermos uma busca honesta e profunda, em todos nós? Ela está fundamentada na forma como nos estruturamos como indivíduos e como empresas, o que inclui nossos sistemas pessoais (e corporativos) de crenças e valores. É bom lembrar que, na comunicação verbal, só por parte do emissor, pode-se observar três níveis de significados: o que se fala, o que se quer dizer com o que se fala, e a maneira como se fala. Já o receptor decodifica a mensagem a partir de seu conjunto de códigos, fazendo uma interpretação própria em cada um desses níveis.

Imaginem a seguinte situação: o departamento jurídico de uma indústria acaba de implantar um novo processo para regularização e manutenção das exigências legais da atividade. O gerente do departamento está satisfeito com o andamento do novo processo, mas percebe que há muitos ajustes a serem feitos para reduzir ainda mais as chances de sanções pelo descumprimento da legislação que rege a modalidade da operação. Após uma semana do dia da implantação, um dos integrantes da equipe pergunta o que o gestor está achando do novo processo, enquanto pensa que ele não deve estar gostando, já que não comentou nada com nenhum dos colaboradores. O gestor afirma que o processo precisa de ajustes e fala de todos os furos que observou ao longo da semana, enquanto pensa que a equipe trabalhou muito bem, apesar da pouca experiência do grupo. O subordinado concorda e sai da sala pensando: “o chefe nunca está satisfeito. O grupo trabalhou mais de 12h por dia nos últimos quinze dias e, ainda assim, ele só consegue apontar defeitos”.

Já temos aqui um cenário perfeito para insatisfação, conflitos e propagação de rumores. A percepção obtida na conversa é repassada aos colegas, que, quase sempre, acabam contaminados e reagem mal às mudanças propostas pelo líder. Este, por sua vez, percebe que há algo errado com sua equipe, mas julga que estejam fazendo “corpo mole” porque trabalharam mais do que queriam na última semana. Em pouco tempo, poderá pensar que o time não está engajado ou que um ou outro colaborador está desmotivando os demais.

Dá para imaginar o tamanho da confusão?  O exemplo repete-se de diferentes formas nas organizações, e poderia ter sido evitado com a mesma simplicidade com que começou. Bastaria o líder ter sido mais claro no que falou, sem esquecer de reconhecer os esforços empreendidos por toda equipe, apesar de não terem logrado os resultados esperados. Ou o colaborador, o receptor da mensagem naquele primeiro momento, ter abandonado o papel passivo de receptor de mensagem, para, num fluxo dinâmico, perguntar o que não havia ficado claro. “Mas o que você achou, de fato, do novo processo? Percebe alguma melhoria?” Isso bastaria para que o líder falasse de suas percepções acerca de todo o trabalho.

Para que a comunicação seja clara e profícua, as duas partes têm papel ativo, ou seja, ambas são igualmente responsáveis. Se, por um lado, isso alivia o papel do gestor; por outro, não o exime de esclarecer à sua equipe o quanto todos são ativos no ato de comunicar. Assim, para as pessoas cooperarem (isto é, literalmente trabalharem juntas), precisam ser capazes de criar algo em comum: alguma coisa que surja de suas discussões e ações mútuas, em vez de algo que seja transmitido por um a outros que se limitam à condição de instrumentos passivos. A comunicação só pode levar a algo novo se as pessoas forem capazes de ouvir livre e ativamente umas às outras, deixando de lado preconceitos e o objetivo de influenciarem-se mutuamente. Isto significa SER verdadeiro, sem abrir mão da coerência, deixando de lado ideias e intenções antigas. Assim, todos permanecem prontos para seguirem um rumo diferente (e novo) quando necessário.

Se, contudo, duas pessoas querem trocar ideias e pontos de vista como se fossem simples fragmentos de informação, esse encontro fracassará quase que inevitavelmente no intuito de produzir inovação. Cada uma delas ouvirá a outra por meio do filtro dos seus pensamentos, os quais tentará conservar e defender, não importando a coerência. Neste caso, teremos não só um “problema de comunicação”, mas também a impossibilidade da cooperação. Portanto, se você está em busca do “novo”, vale lembrar o grande potencial existente dentro da própria empresa, que surge através da cooperação que a comunicação clara e ativa propicia.


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