E o "Chef" me virou de cabeça pra baixo
Era “só” um filme. Chef me parecia um filme autoral, simples, leve, divertido, gostoso. Não me decepcionou. Foi um bom passatempo para o fim de semana. Só não imaginava que fosse me atravessar de jeito. Custei a associar a dor de cabeça do dia seguinte ao incômodo que o filme de alguma forma me causara. É isso mesmo. O eixo é gastronomia ou “comida de rua”, mas Chef fala da vida que se renova de todas as formas. E através das escolhas e dos caminhos do chef, tocou em temas que me inquietam: inovação, comunicação, satisfação, realização, plenitude, superação, liderança, relacionamentos, trabalho em equipe e tantos outros, que bastaria mudar a profissão do personagem principal e estaria ali na tela a minha vida e, provavelmente, a de mais uma porção de gente. E foi aí que Chef me virou de cabeça pra baixo!
Entendo pouco ou nada de cinema, mas pelo que sei sobre o diretor (e protagonista do filme), Jon Favreau, Chef deve ter sido um momento de “refresh” em sua carreira. A identificação começou por aí. Se eu fosse um teclado, F5 seria uma tecla com destaque das demais. Nem sempre é fácil renovar e inovar, mas, para mim, é uma necessidade. E o filme, sem eu perceber de imediato, estava ali, lembrando-me disso.
Depois de 15 anos atuando em comunicação corporativa, a maior parte do tempo prestando serviços ao mercado, precisei respirar novos ares. Nos últimos anos, os movimentos de inspirar e expirar ganharam novos significados. Fiz novos cursos, criei novas possibilidades de atuar junto à essência da comunicação, que são as pessoas, e sigo nesse caminho feliz, inquieta, aprendendo todos os dias. Não há como fazer mais do mesmo. Mas o padrão é forte, as velhas crenças também, e quando não me dou conta de que estou repetindo alguma fórmula que não me serve mais, surge um filme no caminho. Quem viu, sabe que logo no início o “mais do mesmo” se mostra desastroso. Ou não. Porque na visão do dono do restaurante, manter-se no mesmo lugar é uma meta. O desastre seria abandonar uma posição confortável já conquistada, os clientes fiéis.
Está tudo certo. Cada um de nós, no trabalho e na vida pessoal, faz suas escolhas. Repertórios e necessidades são individuais; possibilidades, também. No entanto, escrevo a partir das minhas percepções e do meu próprio repertório e, por isso, arrisco dizer que, se o objetivo é mesmo manter, há que se ousar. Para não correr o risco de perder. Perder mercado, mas também perder colaboradores talentosos, relacionamentos bacanas, qualidade de vida, satisfação cotidiana. E se o objetivo é crescer, evoluir, então há que se ousar muito mais. No cenário dinâmico em que vivemos, catapultados por redes sociais e comunicações instantâneas, o novo é servido sem pudores e rapidamente no café da manhã. Ganham os destemidos, que enfrentam os medos e deixam-se levar por novas ondas, novas cores, novos sabores. Aproveitam o que emerge das crises para dar novos passos.
Fluir com leveza em tempos de grandes mudanças é um objetivo pra lá de ousado. Mas as tentativas já compensam e rendem surpresas inusitadas, em e para todos os sentidos. Já não me preocupo com esse “modo automático” que insiste em ocupar espaços quando, por alguma razão e por muitos afazeres, perco a conta do dia, das horas, das respirações. Há a arte. Quando a alma ficar aflita, presa a um cotidiano que dia a dia vai perdendo o sentido sem que se perceba, haverá um filme, uma cor, um sabor, um som, uma forma ou uma palavra para me lembrar de que há novos caminhos, de que posso fazer diferente e muito, muito melhor.
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