Busca avançada                              |                                                        |                            linguagem PT EN                      |     cadastre-se  

Itaú

HOME >> ACERVO ON-LINE >> COLUNAS >> COLUNISTAS >> Mônica Alvarenga
COLUNAS


Mônica Alvarenga
monica@monicaalvarenga.com

Coach e consultora em Comunicação e Relacionamentos Organizacionais, graduou-se em Comunicação Social pela UFRJ, Letras (FEUC), especializando-se em Marketing (FGV), Comunicação Corporativa (Syracuse University, NY) e Mídias na Educação (UFRRJ). É diretora da Múltipla Comunicação. Escreve para portais e blogs sobre relacionamento e comunicação. 

www.monicaalvarenga.com

Descanso no trabalho, uma forma de presença

              Publicado em 25/08/2015

“Precisamos aprender a descansar enquanto trabalhamos.” Escutei essa frase de Prem Baba, um guru brasileiro, com discípulos por todo o mundo e ashrams na Índia e em São Paulo. Passou pelo Rio de Janeiro para lançar seu último livro, “Amar e ser livre”, e inaugurar a casa Awaken Love Rio, em Santa Teresa. Awaken Love é o movimento que ele lidera, cuja causa maior é despertar o amor essencial nos seres humanos. No dia da inauguração da casa carioca, exaltava o trabalho e a dedicação do grupo de seguidores que organizou a instituição e o evento, dando partida à programação que ocupará o antigo casarão carioca. “Há muito trabalho a ser feito e não há tempo pra descansar, por isso sempre ensino aos que trabalham comigo a descansar durante o trabalho”, falou com sua voz pausada.

Sentada aos pés do guru, fiquei curiosa com o que viria depois. Afinal, não sou só eu que ando às voltas com o tempo, fazendo malabarismos para encaixar todo o trabalho na agenda e terminando alguns dos meus dias exausta. Também é comum ouvir dos meus coachees reclamações sobre a dificuldade de liberar espaços na agenda para simplesmente relaxar e descansar. Por isso, “descansar enquanto trabalhamos”, pareceu-me uma grande descoberta. Na prática, Prem Baba sugere a seus seguidores que estejam realmente presentes em tudo o que fazem e que cada ação seja, na verdade, uma meditação. Isso significa que, enquanto estou respondendo a um e-mail, por exemplo, este seja meu único foco e minha única atenção. Durante essa simples ação, estarei totalmente focada – de corpo e alma, se preferir – nesta simples ação de enviar um e-mail. O guru assegura que transformar cada ação cotidiana em uma ação meditativa, ou seja, que concentre toda a presença e atenção, é uma prática capaz de recuperar e energizar o corpo, possibilitando o tal “descanso durante o trabalho”.

Simples? Muito! Mas experimente. Falo por mim: enquanto escrevia este artigo, interrompi várias vezes para responder e-mails, conferir o Facebook, isso sem falar do pensamento que fugiu outras tantas vezes para outras tantas coisas que teria que fazer. Tanta distração reduz meu rendimento e me deixa mais cansada ao fim do dia. Mas como definir e exercitar essa “presença”?

Quando falo sobre esse assunto em palestras e workshops, sugiro começar pelo outro. Claro que adoraria que todos os meu coachees meditassem diariamente e fossem, assim, gradualmente, aprendendo a esvaziar a mente e conectar-se à sua própria fonte de energia interior. Mas como, muitas vezes, não consigo enfrentar os poderosos paradigmas “falta de tempo”, “minha mente não para” e “não tenho paciência”, tenho sugerido que o exercício comece com o outro. A comunicação ou as conversas que temos com outras pessoas podem nos ensinar muito sobre o que é estar presente.

Criador de um modelo de liderança inovadora chamado Teoria U, Otto Scharmer, professor e pesquisador do Massachussets Institute of Technology (MIT), afirma que as conversas são um metaprocesso para construção do mundo. Para mim, também são um grande exercício de presença. “Às vezes, é útil examinar as conversas como se elas fossem seres vivos, entidades vivas, e perguntar: se nosso trabalho como participantes nessas conversas é ajudá-los a se desenvolver e progredir a partir de etapas de evolução e consciência menos desenvolvidas para mais desenvolvidas, o que veríamos e faríamos diferente?”

Para quem deseja aventurar-se no campo das conversas, chegando ao que considero o clímax – a presença -, Shcarmer oferece um mapa de diferentes maneiras de “ouvir”. Na primeira, e mais tradicional, encontramo-nos com o outro e conduzimos nossa conversa a partir dos padrões que já conhecemos. Muitas vezes, nem ouvimos direito o que o outro diz, tão imersos que estamos no que já sabemos.

Na segunda, ouvimos o que o outro tem a dizer, mas tratamos de validar ou não de acordo com o que conhecemos, oferecendo a nossa visão, quando diferente daquela expressada pelo outro. Nesse caso, as diferenças produzem o que chamamos de debate.

Num terceiro modo de ouvir, vai-se além da validação, para refletir e compartilhar o que é dito. Quando conseguimos nos conectar pessoalmente ao outro, de uma maneira empática e compreensiva, chega-se ao diálogo e a um pensar verdadeiramente coletivo.

Mas o que há depois disso? Como exercitar essa presença, em que “descansamos do trabalho” ou, se preferir, nos energizamos para as tarefas cotidianas, mesmo em meio ao ritmo agitado em que vivemos? É isso que acontece no quarto modo de ouvir, didaticamente estruturado por Scharmer. O impulso inicial é o mesmo de todas as demais conversas: a conexão ao contexto. A grande diferença é que, conforme a conversa se desenvolve, a conexão tende a se aprofundar e novas “imagens” começam a surgir. Aqui, intenção e atenção vão além do diálogo para se concentrarem no campo conversacional, ou como Scharmer escreve: “na fonte e no espaço mais profundos que querem emergir”. Nessa forma de ouvir, eu ouço o outro, mas também a mim mesmo e a tudo o que se origina a partir dessa conexão.

Sei que ir além do diálogo, às vezes, pode parecer impossível, mas a estrutura do “ouvir” que Otto Scharmer nos oferece ajuda a compreender um pouco do processo e anima a arriscar um passo a mais em direção a essa inesgotável fonte de energia. Afinal, a linguagem é criadora, mesmo que não percebamos seu poder criador no cotidiano, é por meio dela (e do pensamento, claro), que vamos criando o mundo na forma como o experimentamos. Quando, por meio dela, nos conectamos à nossa fonte profunda de criação, estamos também nos conectando à nossa essência e a quem realmente somos. E aí, além de mais energizados, aumentamos muito o nosso potencial criativo-criador.


Os artigos aqui apresentados n�o necessariamente refletem a opini�o da Aberje e seu conte�do � de exclusiva responsabilidade do autor. 1577

O primeiro portal da Comunicação Empresarial Brasileira - Desde 1996

Sobre a Aberje   |   Cursos   |   Eventos   |   Comitês   |   Prêmio   |   Associe-se    |   Diretoria   |    Fale conosco

Aberje - Associação Brasileira de Comunicação Empresarial ©1967 Todos os direitos reservados.
Rua Amália de Noronha, 151 - 6º andar - São Paulo/SP - (11) 5627-9090