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COLUNAS


Mônica Alvarenga
monica@monicaalvarenga.com

Coach e consultora em Comunicação e Relacionamentos Organizacionais, graduou-se em Comunicação Social pela UFRJ, Letras (FEUC), especializando-se em Marketing (FGV), Comunicação Corporativa (Syracuse University, NY) e Mídias na Educação (UFRRJ). É diretora da Múltipla Comunicação. Escreve para portais e blogs sobre relacionamento e comunicação. 

www.monicaalvarenga.com

O amor está no ar! Só que não...

              Publicado em 24/11/2014

Já estava com um texto pronto sobre amor e trabalho para a minha coluna da Aberje quando o resultado da eleição presidencial foi divulgado. Acompanhei a apuração pelas redes sociais. Ali mesmo, nas redes sociais, fui me dando conta de que todo o processo eleitoral, incluindo a campanha, refletia o pensamento dos brasileiros. Não há eles, o povo do Norte e Nordeste; e eu, o povo do Sul ou Sudeste. Não há eles, os corruptos; e eu, que me digo ética. Não há eles, do partido eleito; e eu, farta dessa gestão.

Fosse assim, viveria em um lugar onde os recursos naturais seriam preservados, crianças e jovens de todas as classes teriam acesso a sistema educacional adequado à dinâmica de seus interesses e capaz de desafiá-los em seu processo de desenvolvimento, profissionais de todas as áreas – em especial da saúde e da educação – teriam plano de carreira justo e estímulo à educação continuada. E todos que precisassem de atendimento médico, receberiam-no de acordo com sua necessidade.

O meu mundo não é assim. O rapaz que está pintando a minha casa está perdendo os dentes porque não tem acesso à tratamento odontológico. Conseguirá uma dentadura mais tarde. A diarista que me auxilia uma vez por semana aguarda há mais de um ano por uma operação de varizes e convive com dores na perna. Em meu bairro, tenho que ficar atenta às pessoas que se aproximam quando paro em sinais ou estaciono nas ruas, porque aumenta a cada dia o número de assaltos. Meu filho já foi assaltado duas vezes em movimentados pontos de ônibus. E poderia continuar com uma lista infindável de provas reais de como o meu cotidiano está entrelaçado ao dos demais brasileiros, indiferente às diferenças sociais, econômicas e culturais. Como posso acreditar que há “eles” e “eu”?

Ainda acredito que posso fazer muito. Em todos os âmbitos em que atuo como ser humano, desde minhas interações virtuais e meu ambiente doméstico, até o local de trabalho, passando pelas breves interações sociais que faço, mesmo sem me dar conta, no trânsito, no banco, no mercado. Prefiro conviver com a ideia de que nasci para ser o homo sapiens amans, a que se refere o biólogo chileno Humberto Maturana. Sim, eu creio que cuidando das minhas relações – o que inclui todos os seres vivos que passam por minha vida – estarei, mais do que oferecendo o meu melhor ao Mundo, influenciando e colaborando para que este Mundo, que eu crio e recrio, possa se tornar mais são.

Para tanto, fundamento-me mais em minhas percepções, observações e prática do que em estudos. Mas há quem estude os sistemas em que vivemos com muita seriedade e há muito tempo, disseminando pelo Mundos os conceitos que me levam a escrever este texto. Maturana é um desses doutores e escreve: “Nós não somos nem geneticamente predeterminados nem algo do gênero para nos tornarmos o tipo de seres humanos que nos tornamos em nosso viver. Nós nos tornarmos o tipo de seres humanos que nos tornamos de acordo com o modo pelo qual vivemos em uma maneira sistêmica, contribuindo com nosso viver para conservar o tipo de seres que vimos a ser.” Dando um passo a mais: “Além disso, o que pensamos que somos, forma recursivamente parte da dinâmica sistêmica na qual vimos a ser e conservamos a identidade em que nós nos tornamos.”

Grande parte dos comentários que ouvi e li após a eleição – independente de opções partidárias – era, no fundo, uma contribuição à manutenção do Mundo em que vivo, repleto de intolerância, impaciência e desamor. Penso que sempre podemos fazer diferente e melhor. Passado este momento eleitoral, presidente e governadores eleitos, surge uma boa ocasião para rever nossa atuação individual. O desafio começa no primeiro nível de contatos: cônjuges, filhos, equipe de trabalho. Em quais redes podemos influenciar mais e melhor? Que tipo de homo sapiens escolhemos ser: sapiens, amans, aggressans ou arroggans?


Referência bibliográfica:

MATURANA, Humberto. Cognição, ciência e vida cotidiana. Organização e tradução de Cristina Magro e Víctor Paredes. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2001.


Os artigos aqui apresentados n�o necessariamente refletem a opini�o da Aberje e seu conte�do � de exclusiva responsabilidade do autor. 1690

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