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Marco Antônio Eid


Jornalista, escritor e executivo da área de comunicação, é Diretor de Conteúdo da RV&A (Ricardo Viveiros & Associados - Oficina de Comunicação).

Quem paga o pato dos ruídos na comunicação?

              Publicado em 25/07/2011

O competente e premiado publicitário paulistano Ruy Marum  enviou-me interessante texto, de autoria, creio, desconhecida, que revela insólito diálogo de um homônimo seu, o antológico Barbosa, e um ladrão que tentava furtar patos no quintal da casa do emérito brasileiro.

Na história, provavelmente uma ficção, Rui Barbosa surpreendeu o gatuno e lhe disse: "Oh, bucéfalo anácrono! Não o interpelo pelo valor intrínseco dos bípedes palmípedes, mas sim pelo ato vil e sorrateiro de profanares o recôndito da minha habitação, levando meus ovíparos à sorrelfa e à socapa. Se fazes isso por necessidade, transijo; mas se é para zombares da minha elevada prosopopéia de cidadão digno e honrado, dar-te-ei com minha bengala fosfórica bem no alto da tua sinagoga, e o farei com tal ímpeto que te reduzirei à quinquagésima potência que o vulgo denomina nada”. O ladrão, confuso, apenas perguntou: "Dotô, eu levo ou deixo os pato?"

Bom humor à parte, a narrativa ilustra muito bem o quanto os ruídos na comunicação podem ser nocivos para empresas, entidades de classe, ONGs, governos, organismos multilaterais e nações. Evidencia, ainda, a importância dos serviços especializados de assessoria de imprensa e Relações Públicas, internos e/ou terceirizados, bem como a atuação dos profissionais do setor.

São frequentes os exemplos de graves equívocos na área de comunicação, nos setores público e privado, cujas consequências invariavelmente prejudicam as organizações envolvidas, seus dirigentes, colaboradores e, conforme a gravidade e extensão do problema, seus fornecedores, clientes e toda a rede de relacionamento. O comprometimento da imagem corporativa ou governamental, muitas vezes advindo de erros comunicacionais e não de fatos efetivamente concretos, sacrifica empregos, derruba bolsas de valores e desencadeia ondas de desconfiança no mercado, dentre outros problemas, de maior ou menor gravidade.

Observando o cotidiano das empresas, do mercado e do noticiário nacional e internacional, é possível verificar que os principais erros de comunicação acontecem no chamado gerenciamento de crises, e normalmente atrelados à falta de transparência. Assim, é preciso que se dissemine a definitiva consciência de que, na era da internet e das mídias sociais, não se consegue esconder a verdade ou parte expressiva dela. A Web é inconfidente, indiscreta, patrulheira e fiscal!

Quando uma organização, pública ou privada, tem um problema real, a melhor maneira de extirpá-lo de modo rápido e eficaz da mídia é admiti-lo publicamente, informar as providências tomadas para resolvê-lo e restabelecer os direitos das pessoas eventualmente prejudicadas. Ao agir assim, a empresa, órgão governamental ou entidade coloca um ponto final na questão e sai com a imagem valorizada. Ao contrário, se tenta dissimular e se esquivar, continuará sendo atacada na Web e alvo dos repórteres e meios de comunicação, no cumprimento de sua importante e indispensável missão, nas nações democráticas, de elucidar os fatos que afetam a sociedade. 

Nunca se deve esquecer algo inexorável: nesta civilização complexa e compulsivamente geradora de informações, conhecimento e notícias, a comunicação é o ponto de referência dos indivíduos em relação ao mundo, ao país e ao bairro em que moram, à empresa em que trabalham e às instituições que regem sua interação com o Estado e a comunidade. Por essa razão, os equívocos nessa área têm consequências cada vez mais graves. Afinal, quando são muitos os ruídos comunicacionais, quem paga o pato é a sociedade, que fica tão desnorteada quanto o ladrão da casa de Rui Barbosa.


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