A obsessão pelo "new normal"
Resolvi participar da Conferência Mundial da IABC (Internacional Association of Business Communicators), realizada de 12 a 15 de junho em San Diego, simpática cidade onde meu irmão, sua esposa e seu recém-nascido primeiro filho residem há 10 anos. Pensando em unir o útil ao agradável, lá fui eu cheio de amor familiar para dar e procurando esvaziar a cabeça durante as 17 horas de viagem, incluindo traslados e conexões, para poder absorver ao máximo as novas ideias que a conferência prometia ventilar.
Eu já havia ido a duas conferências da IABC. No evento de 2008, em Nova York, voltei para casa cheio de novos insights, tão poderosos que acabaram me levando uma verdadeira guinada profissional, migrando de diretor de agência a profissional de consultoria. Em minha humilde avaliação, insights são o que, de fato, importa em qualquer atividade de autodesenvolvimento. Se saio com algum insight, a avaliação é positiva, mesmo que outros quesitos deixem a desejar.
Logo que ouvi na abertura da conferência em San Diego a expressão the new normal, já fui logo esfregando as mãos e apostando que os insights começariam a pipocar como pessoas em um flash mob. No entanto, quando o palestrante focou o tal new normal na importância das emoções no processo decisório, fiquei bastante preocupado. Em seguida, outro palestrante apresentou o new normal como sendo o empowerment. Quando mais um apresentou o tema gerenciamento de reputação como uma grande novidade, joguei a tolha. E, na ausência de new normals de qualquer natureza, a conferência acabou indo para o que mais sabe fazer: modelos! Modelos para todos os gostos. Modelo para integrar novas e tradicionais mídias e motivar os empregados; modelo para engajar públicos influenciadores; para comunicar localmente porém agir globalmente; modelo para construir confiança nas organizações; e por aí vai, ou melhor, foi. Pergunto-me de onde vem esse culto aos modelos pré-fabricados, apresentados usualmente em embalagens vistosas e que, como escreveu Margaret Wheatley em seu livro Liderança em Tempos de Incerteza, “fora do lugar onde foram criados, fornecem inspiração e não soluções.”
Quando volto meus olhos para o Brasil e observo que muitas organizações, sejam da nacionalidade, segmento ou porte que for, têm problemas básicos de comunicação – e estou falando de coisas realmente básicas, como, por exemplo, o diálogo -, não consigo entender essa obsessão pela novidade. Mesmo que aparentemente mais atraentes e glamorosas, que tal deixar um pouco de lado as tendências, arregaçar as mangas e cuidar das pendências? Nunca é tarde para começar.
Creio que seja bom destacar que esse relato é baseado em minha experiência pessoal e não reflete o que, de fato, aconteceu na conferência, mas apenas o que eu percebi e como percebi do que aconteceu. Adoraria, inclusive, que algum outro colega que também tenha comparecido ao evento trouxesse suas impressões aqui. Quem sabe eu não tenha perdido o “really new normal” em alguma outra palestra que não pude assistir?
Os artigos aqui apresentados n�o necessariamente refletem a opini�o da Aberje
e seu conte�do � de exclusiva responsabilidade do autor. 1696
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