Contribuição para a teoria das crises I
Platão e Aristóteles: a matemática e o homem na origem das crises
Difícil são as belas coisas,
Platão, O grande Hípias1
Os bens externos têm um limite
Aristóteles, Política
Cf. Política, 133b 7
O mundo sem as matemáticas seria como um mundo sem estrelas ou sem cosmos. Mas as matemáticas são de fato precisas ou refletem a imprecisão da sociedade? São o espelho de um mundo ordenado ou refletem a desordem natural desse próprio mundo que nunca segue o curso natural do rio, enfrentando suas águas turbulências imprevisíveis?
Lembra Michel Serres que a geometria, por exemplo, surgiu para responder, de maneira prática, à justeza e justiça na distribuição das terras, no Antigo Egito. A população ficaria com seus lotes, o trigo seria plantado e colhido, parte ficaria para os camponeses, parte para o faraó. Os funcionários reais, os primeiros geômetras, quebraram as regras: separavam uma quantidade maior e de melhor qualidade do que a devida, deixavam o menor quinhão com quem trabalhava. Estava nascendo os primeiros conflitos entre a sociedade e o Estado e, com eles, as primeiras crises. Nascia o uso da força como forma de coerção.
Platão e Aristóteles irão buscar inspiração nas matemáticas para discutir a sociedade. Platão considerava que a catástrofe estava em ferir as regras do Demiurgo, a inteligência suprema, isto, é a rigidez das matemáticas deveria corresponder à rigidez da organização política. Um mundo hierarquizado, com papéis definidos, seria um mundo infenso a crises. Boas leis, bons governantes, boa educação, uma classe superior, a classe dos guardiãs e o povo: tudo isso seria pensado em interesse da sociedade. Ordem e convergência de propósitos, ordem e o fascínio pela não negação. A ordem como sinônimo do Bem.
Uma tal teoria se projetaria até os dias atuais, com influências à direita e a esquerda, na organização das corporações e do Estado. Os utopistas, do Renascimento ao pós-revolução platônica, de algum modo, sorveram da fonte de Platão e da sua consciência moral, que tem como referência primeira o ideal de “conduzir a vida nas pegadas da virtude divina”, idealizada pelos pitagóricos. Foram eles a matriz platônica, foram eles os idealizadores da política regida pela matemática e a estática da não negação.
Como Platão, todo interesse, no dizer de Aristóteles, encontra-se na comunidade política, isto é, a sociedade organizada. Era preciso evitar, acima de tudo, uma vida alicerçada nas ambições individuais ou mesmo social. O Estado bom era aquele que tenha uma boa divisão do trabalho no sentido geral da palavra. A divisão do trabalho despontava como o pressuposto necessário para a definição de justiça.
A diferença é de forma. Se para Platão, todo o movimento encontrava-se na dependência do divino, Aristóteles entendia que o homem era uma potencialidade e, portanto, todo o movimento dependeria da sua concepção de mundo. Combateu o pitagorismo. Via a política como o real, jamais o idealizado.
Não considerava as matemáticas como a inteligência primeira, mas como produto da inteligência humana. Sendo assim, a sociedade não renunciaria jamais à ação prática. A sociedade era o princípio e o fim do movimento. Divino era o movimento, não o Demiurgo. Visto à luz de hoje o que se vê são tentativas de avaliar o real – a coincidência entre o discurso e a realidade -, deixando-se de lado a sociedade. Isto tem produzido reações crescentes e crises sucessivas.
Nas gestões de crises, a prática parece ser tudo, mas não é. É uma parte que, como os números, só expressam algo se considerados como um todo. A pura prática é pura intuição. E o método? Teoria e prática caminham lado a lado. Por que não se trata de uma gestão divina dos obstáculos, mas de uma realidade em movimento da qual a sociedade e o cidadão nunca estão excluídos.
Leituras recomendadas:
ARISTÓTELES. Metafísica. Trad. Marcelo Perine. 2ed. São Paulo: Edições Loyola, 2004.
HAHN, Charles. Pitágoras e os Pitagóricos: uma breve história. Trad. Luís Carlos Borges, São Paulo, Loyola, 2007.
PLATÃO, A República.
SERRES. Michel. Les origines de la géométrie. Paris: Flammarion, 1993.
REALI, Giovanni. Para uma nova interpretação de Platão. Trad. Marcelo Perine. São Paulo: Edições Loyola, 1994.
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