Busca avançada                              |                                                        |                            linguagem PT EN                      |     cadastre-se  

Itaú

HOME >> ACERVO ON-LINE >> COLUNAS >> COLUNISTAS >> Marcos Rogatto
COLUNAS


Marcos Ernesto Rogatto
marcos@vistamultimidia.com.br

Jornalista e Mestre em Multimeios pela Unicamp. Trabalhou na TV Manchete, Revista Veja e TV Globo São Paulo. Foi diretor de Comunicação da Prefeitura de Campinas e colaborador da Gazeta Mercantil. Há 25 anos trabalha com vídeos e multimídias corporativas. Atualmente é Diretor da produtora Vista Multimídia e participa do Grupo de Estudos de Novas Narrativas/GENN.

Cultura, Comunicação e Progresso

              Publicado em 29/03/2011

É senso comum sermos reconhecidos como um país de baixa escolaridade e de reles formação cultural. Mesmo após quatro mandatos, entre FHC e Lula, de presidentes que relevavam a educação e a cultura, avançamos pouco nesses quesitos, tão fundamentais para o progresso econômico e social.

De um lado fica patente que o Estado não consegue atender às demandas sociais. Como conseqüência, ampliou-se o debate sobre a responsabilidade social empresarial, em abordagem que vai além do velho assistencialismo. Do outro lado cresceu a percepção de que os ativos intangíveis são fundamentais na construção e manutenção da marca. Reputação para aferir credibilidade, agregar investidores, funcionários e clientes; para reter talentos e, consequentemente, inovar.
 
Grandes mudanças, novas exigências e boas intenções à parte, o terceiro setor também caminhou a passos curtos no país “gigante adormecido”.

Números divulgados nesse mês de março, pela pesquisa Prova São Paulo, mostram que 23% dos estudantes paulistanos acabam o 2º ano sem ler nem escrever. Dá para imaginar como são os números das localidades com menos recursos. Só recentemente e apenas na população do Sudeste brasileiro atingimos a média de oito anos de estudo, número mínimo segundo a nossa Constituição, que no ano que vem completa Bodas de Prata.

Em plena era da informação, dos livros digitais e das duas décadas da Web, apenas 29% das bibliotecas públicas brasileiras têm internet. E o pior ainda é que muitos municípios ainda nem ingressaram na era dos livros impressos. Em 420 deles não existe nem espaço destinado à leitura. (as informações fazem parte do Censo Nacional de Bibliotecas Públicas Municipais).

Temos menos salas de cinema, bibliotecas, livrarias, teatros e museus que grande parte de nossos vizinhos latino-americanos. E vale lembrar que no IDH 2010 (Índice de Desenvolvimento Humano, do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) o Brasil ocupou a 73ª posição, entre as 169 nações. O relatório aponta educação de baixa qualidade como o principal problema por aqui.

A pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, realizada pelo Instituto Pró-Livro, mostra as dificuldades de leitura que decorrem da má formação das habilidades necessárias e da fragilidade do processo educacional. A última versão (que pode ser copiada, gratuitamente, do site da Imprensa Oficial) confirma que o brasileiro lê pouco e muito devagar. Esses números mostram que 77 milhões, ou 45% da população, são classificados como não leitores e que 17% não compreendem o que lêem. 50% dos leitores são estudantes que lêem livros indicados pelas escolas e 6,9 milhões (7%) dos leitores estavam lendo a Bíblia. Os não leitores estão na base da pirâmide social.

A discussão é mais que oportuna, especialmente pelos dados abismais de todos os estudos e pesquisas realizadas. A Aberje vem pautando o tema não só em seus comitês como em eventos. No Café Aberje Campinas, realizado no espaço cultural da CPFL Cultura, o tema foi A formação e o funcionamento de institutos sociais e culturais nas empresas, em que se discutiu as experiências, o formato jurídico de estruturação e a gestão sobre participações comunitárias das organizações.

Já no I Seminário Aberje de Gestão Cultural: Realidades e Perspectivas, realizado no MASP, os debates foram ampliados. Nesse evento as informações mostraram que ainda são poucas as organizações com a clareza da importância em direcionar investimentos privados para assuntos ligados à cultura. O seminário evidenciou que a gestão cultural é muito mais complexa que o gerenciamento de marcas.

Creio que as ações culturais geralmente estão no guarda-chuva da Comunicação Organizacional, mas passam pela área, sobretudo, como estratégia de organização e divulgação. Isso no sentido de viabilizar o evento e pautar a mídia, fazendo com que tudo saia exatamente como o planejado e se conquiste muito tempo nos veículos eletrônicos e centímetros nos impressos.

A gestão cultural empresarial raramente passa pela área, que acaba tendo pouca possibilidade de opinar nas formas de comprometimento empresarial com a cultura. A visão preponderante ainda parece ser a de patrocínios culturais, aproveitando os descontos das leis de incentivo. É o financeiro em detrimento da Cultura e da Comunicação.

No seminário do MASP, a Aberje apresentou uma sondagem entre as 1.000 maiores organizações associadas à entidade e detectou que apenas 5% apresentam trabalhos consistentes na área. Das 15 empresas que se destacaram, 11 são de origem nacional e apenas quatro são multinacionais. E a maioria delas está em setores politicamente sensíveis aos controles do Estado e da sociedade. Outra constatação é de que as ações culturais das multinacionais são mais de caráter celebrativo.

Positivo é que a cultura é importante para os paulistas, de maneira geral,  independe do nível econômico ou da formação educacional. Isso foi verificado na pesquisa - parceria entre CPFL Energia, Datafolha, Instituto Getúlio Vargas e a consultoria J. Leiva Cultura & Esporte - sobre o perfil cultural dos paulistas. Entre zero a dez, a pontuação foi de 9,4 em relação ao grau de importância da Cultura. Já em relação à satisfação com a cultura a nota foi bem mais baixa: 5,0 com 84% dos pesquisados opinando que suas cidades deveriam ter mais espaços para as atividades culturais.

Logicamente temos excelentes iniciativas e práticas do uso de recursos privados para o desenvolvimento do bem comum. O GIFE, Grupo de Institutos Fundações e Empresas, criado em 1995, é uma rede que reúne organizações que investem em projetos com finalidade pública. O último censo, realizado no momento em que a rede alcançou 134 associados, mostrou que eles investiram R$ 1,9 bilhão em 2009. Para esse ano a projeção é de R$ 2,02 bilhões, aplicados em diferentes áreas sociais, culturais e ambientais.

A Educação se mantém como prioritária das ações (82% dos associados investem na área); em segundo lugar, recebem investimentos, igualmente, as áreas de cultura e artes, e formação para o trabalho (60% dos associados), seguidas por meio ambiente (58% dos associados).

Mas, ainda temos longo caminho pela frente. As políticas sociais e a governança nacional devem fazer a globalização funcionar a favor do desenvolvimento humano. Como dizia Odorico Paraguaçu, em suas impagáveis frases, “A falta de cultura atravanca o progresso” (personagem de Dias Gomes interpretado por Paulo Grancindo, na ótima novela O Bem Amado, da TV Globo).

Progresso é palavra fora de moda, mas de significado fundamental para um país que necessita mudar com urgência.


Os artigos aqui apresentados n�o necessariamente refletem a opini�o da Aberje e seu conte�do � de exclusiva responsabilidade do autor. 484

O primeiro portal da Comunicação Empresarial Brasileira - Desde 1996

Sobre a Aberje   |   Cursos   |   Eventos   |   Comitês   |   Prêmio   |   Associe-se    |   Diretoria   |    Fale conosco

Aberje - Associação Brasileira de Comunicação Empresarial ©1967 Todos os direitos reservados.
Rua Amália de Noronha, 151 - 6º andar - São Paulo/SP - (11) 5627-9090