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Francisco Viana
viana@hermescomunicacao.com.br

Jornalista, Doutor em Filosofia Política (PUC-SP) e consultor de empresas.

 

Comunicação na sociedade panótica

              Publicado em 25/03/2011

No século XVIII, logo após a Revolução Francesa, o edifício panótico – no sentido literal e simbólico - tornou-se comum na Europa. Garantia controle secreto e infalível sobre as prisões, casas de trabalho -  autênticas senzalas onde aqueles considerados “vagabundos” eram obrigados a produzir – e nas fábricas. Foi uma invenção do filósofo liberal Jeremy Bentham¹ que acreditava numa sociedade dócil, trabalhadores domesticáveis e aptos para o trabalho servil. Hoje, vivemos uma novamente na sociedade panótica.

Todos vigiam todos. Todos sabem, ou podem saber se quiser, o que todos estão fazendo. A diferença é que na arquitetura panótica dos nossos dias, o controle é aberto e feito pelos meios eletrônicos, a unir o mundo em tempo real. Contudo, a vigilância, como no século XVIII, é infalível e, isso, se pode notar a todo momento no conteúdo, espetaculoso ou não, do noticiário. A vida, pública ou privada, está aos olhos da multidão. Esse um dos grandes fenômenos contemporâneo que precisam ser compreendidos enquanto acontece. A comunicação assumiu tons desmistificadores. Pode-se cultivar a distância entre a palavra e a ação, mas a notícia, a informação, os contextos logo aparecem, logo se tornam públicos.

A diferença é que Bentham procurou legitimar o poder de poucos sobre muitos. O panótico dos nossos dias procura incentivar a participação de todos e o controle da vida pessoal e coletiva pelas multidões. É uma novidade radical. Problematiza nitidamente a fronteira entre a verdade e o falso, a manipulação e a realidade. E, em especial , coloca a questão: quem detém o poder? Sendo assim, a comunicação precisa ser planificada. Como desdobramento, os porta-vozes necessitam ser capacitados dentro de uma nova visão e prática de mundo. A confiança necessita ser renovada e a democracia revelar-se construtiva. Não mais “perigosa” como nos tempos de Bentham.

 

¹ -  (1748-1832). Foi o formulador do utilitarismo radical, desenvolvendo o princípio ético do interesse. Influenciou mais a política do que a filosofia. Definiu a Declaração dos direitos do homem de 1789 como um acúmulo de “sofismas anárquicos”. Em muito influencia na teorização do escravismo colonial (Cf. LOSURDO,  Domenico. Contra-história do liberalismo. Trad. Giovanni Semeraro. Aparecida, SP: Ideias & Letras, 2006)


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