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COLUNAS


Francisco Viana
viana@hermescomunicacao.com.br

Jornalista, Doutor em Filosofia Política (PUC-SP) e consultor de empresas.

 

O mídia training, hora da política

              Publicado em 02/02/2011

“De todas as coisas existentes, algumas estão sob o nosso poder, outras não.
Debaixo do nosso poder estão o pensamento, o impulso, a vontade de adquirir
e a vontade de evitar, enfim, tudo o que resulta das nossas ações. As coisas
sob nosso poder são, por natureza, livres e não são nada limitadas. As
coisas que não estão sob nosso poder são fracas, servis, sujeitas a
limitações, dependentes de outros fatores”.

Epiteto¹

 


 
Sim, o mídia training não é mais o mesmo. Há uns 10 ou cinco anos, a questão básica era como dar uma boa entrevista.  E dar uma boa não era difícil. Bastava ter os dados objetivos, dar informações novas,  evitar contradições. Enfim, ter foco e ser preciso.
 
Hoje, a questão política entrou em cena. A pergunta que mais ouço, partindo de pessoas de todas as correntes ideológica, é: como lidar com a manipulação da mídia? A temática é nova, novíssima. Isto implica numa mudança radical do roteiro de treinamento, a começar pelos exercícios.
 
Primeiro, é imprescindível resgatar aquilo que chamo os elementos objetivos da comunicação: o quê, quem, como, quando, onde, por quê, em que contexto. Em síntese, recuperar a face factual da entrevista. Tudo deve nascer dos fatos: opinião, análise, informação.  Devemos seguir o caminho apontado por Epiteto: controlar os fatores da comunicação que estão no nosso alcance. Fatos são eloquentes, falam por si. Sobretudo, quando estão inseridos em um contexto amplo.
 
Segundo,  o porta-voz precisa ter mais do que credibilidade e capacidade de falar bem. Precisa ter visão política. Não basta coletar materiais e decidir. É imperativo ter discernimento para decidir. Usar a observação para ver, avaliar, prever. Em resumo, ser racional - no sentido de que é preciso argumentar com coerência - e compreender as correlações de força em jogo.
 
Terceiro, o porta-voz (a empresa, a organização pública) não pode esquecer de que  o cidadão não se ilude facilmente, nem se deixa manipular. Daí, a necessidade de se guiar pelos fatos, nunca brigar com os fatos. Mas nunca esquecer a questão essencial: quais os interesses em jogo?
 
Por que tudo isso está acontecendo? Por que os fatos passaram a merecer múltiplas interpretações. E no centro das interpretações está a questão candente dos interesses. Mas a ideia seminal é: se quem dá entrevista fala de fatos e seus contextos, certamente tomará a iniciativa, estará no comando das informações. Se a mídia distorcer os fatos, é outra questão. Se questiona os interesses em cena, também. O importante é saber defendê-los.

O mídia training, portanto, precisa focar os fatos, focar os fatores da comunicação que estão sob controle de quem dá a entrevista,  de quem é a fonte da notícia. Torna-se imperativo treinar, mas treinar com visão política. Isto muda tudo. Ser fonte deixou de ser um ato apenas técnico, passou a ser sobretudo uma atitude política.

A política, em definitivo, entrou no cotidiano brasileiro. Quem governa o Estado, quem comanda as empresas, quais as reações da sociedade, quais os interesses em questão? Eis algumas incógnitas a espera de respostas, mas que passam a fazer parte do relacionamento com a mídia. O tempo do mídia training apenas técnico passou. Soou a hora da mudança.
 

¹ Epiteto foi um estóico. O estoicismo foi uma das três principais correntes da filosofia helenística, fundada por Zenão de Eléia (334-262 a.C), que deu base ao cristianismo nos tempos primeiros da nossa era. As outras duas correntes foram o epicurismo e o ceticismo. O mundo estóico está impregnado do culto à razão e do desprendimento. Sua ética está fundada na virtude das boas ações. O caminho do estóico é a justiça, o fazer o bem, a sabedoria da reta razão, livre de paixões. Epiteto viveu na época do chamado estoicismo romano (55-135 d.C). À época os estóicos destacavam-se como professores, ensinando, em particular, os filhos das famílias ricas e preeminentes em termos políticos. Epiteto enfatizou, sobretudo a ética prática e pessoal, além da necessidade do conhecimento da dialética. Pregou uma doutrina de liberdade que parecia imitar a serenidade de Cristo.
Considerava o mal uma ilusão, um erro. Ensina: “Quem deseja ser um Deus não pretende não morrer, mas morrer como um Deus e mesmo doente será um Deus. E esse Deus certamente fará bom uso da sua doença”. Escravo a maior parte da sua vida, tornou-se um dos grandes filósofos do império romano. Fez carreira como soldado sob as ordens de Adriano e Marco Aurélio, também filósofo, Autor de uma monumental história de Roma (que viria a inspirar os famosos Discursos de Maquiavel no Renascimento). Os ensinamentos de Epiteto influenciaram a Idade Média e, também, a Idade Moderna. O estoicismo foi influente até meados do século XIX.


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