O que é ser moderno em Comunicação?
Recentemente, participei da audiência pública do Premio Aberje, categoria Mídia Audiovisual, e notei que todos os finalistas defenderam seus trabalhos destacando a busca pela modernidade e abordagem diferenciada, através de formato mais condizente com a atualidade. Eram vídeos bem produzidos, que se destacaram pela criatividade e cumpriam bem a sua função.
O que me intrigou foi essa busca pelo moderno e diferente, no momento em que ocorre uma retomada na realização de vídeos institucionais. Como informar, como ser entendido, qual formato utilizar? Cada vez mais usamos, absorvemos, transformamos, produzimos e transmitimos informações. Sabemos definir nossas empresas, conhecemos o seu DNA (como é moda dizer), os preceitos do branding e os detalhas da análise SWOT, com suas oportunidades e ameaças. Mas, não sabemos a fórmula de como ser modernos ao contar o que é a nossa empresa.
O grande desafio é contar essa trajetória, mostrar seu patrimônio, capital humano, ativo intangível, produto, serviço, diferencial e valor agregado. Tudo entre dois e cinco minutinhos de um vídeo institucional. Descobrir, em uma infinidade de informações que bombardeiam a todo instante os sentidos, as que são relevantes e que viram conhecimento.
Em meio a tantas opções, bastaria um apresentador (a) famoso (a) para conduzir o vídeo? (aquele mais caro que o vídeo todo). Olhar para a câmera ou ao léu? Uma voz em off empostada? Melhor feminina e descontraída? Ou, quem sabe, até mesmo sem voz nenhuma? Um vídeo todo realizado em computação gráfica? Ou partir para algo conceitual, que nem mostre cenas da empresa? Adotar a palavra “nós” e não a expressão “a empresa”, ou utilizar comicidade e não o tom professoral? Na área técnica mais perguntas: usar formato DVCam, HDV ou Full HD (o dos tempos atuais)? Mac ou PC? Computação gráfica, vinhetas animadas ou meramente “corte seco”? Com ou sem equipamentos de movimentação de câmera?
No início do século passado, o movimento moderno contestava as formas tradicionais da literatura, artes plásticas, design e, mesmo, organização social. Segundos os críticos, a vida cotidiana não mais se refletia nas expressões artísticas, pois estavam ultrapassadas. No Brasil, a Semana de Arte Moderna é de 1922.
Em 1986, Jair dos Santos escreveu o livro “O que é Pós-Modernismo”, movimento ocorrido entre os anos 50 e 70. A arte pós-moderna era contra o subjetivismo e o hermetismo. Uma certa antiarte que daria origem a Arte Pop, hiper-realismo, Minimal Art, Performance, Arte Conceitual entre outras correntes que procuram expressar seu tempo, fundindo arte e vida.
Segundo críticos, o indivíduo atual é de natureza confusa, indefinida, plural, feita com retalhos, que não se fundem num todo. No mundo pós-moderno, objetos e informações são descartáveis. Na arte a "Crise da Representação" estava ligada à destruição dos referenciais. Então, hoje, será que o registro do real precisa de glamour e fascínio para despertar atenção e interesse, ser um convite para que a audiência permaneça atenta?
Em “Viagem na Irrealidade Cotidiana”, Umberto Eco faz crítica ao falso, à cópia. Aborda aspectos da vida cotidiana do homem moderno pelo viés da Semiologia, em que tudo é comunicação. Ele analisa as coisas não apenas pelo que são ou aparentam ser, mas especialmente o que querem ser e o que comunicam.
Creio que não deva haver cópia de modelos que supostamente funcionem para a realização de vídeos. Evitar padrões ao retratar uma empresa, as características semelhantes e recorrentes. Creio que deva haver articulação com a rapidez dos novos tempos e intercâmbio com outras mídias, que se produza uma estética diferenciada, sem unicidade formal. Agregar novos tópicos, navegabilidade e interatividade em questões como governança, balanço social, ativos intangíveis e responsabilidade sócio-ambiental.
Cada vez mais, as empresas serão influenciadas por bloggers e devem estar abertas às novas idéias e adeptas da interação. Para se comunicar é preciso conhecer as novas plataformas e estar preparado para inovar.
Hardwares, softwares e neurônios devem se unir para introduzir elementos diferenciados nas produções empresariais, exercitando a criatividade, ao invés de cumprirem meramente a específica encomenda. Com isso se conseguem resultados exitosos, evitando a mesmice da locução em off, com o elogio rasgado e o encadeamento linear do processo produtivo adotado pelo cliente.
Mark Zuckerberg, criador do Facebook, foi escolhido pela revista Time como Homem do Ano. A publicação define a personalidade do ano como alguém que, para melhor ou pior, fez o máximo para influenciar os fatos do ano. Ele, uma espécie de cidadão Kane dos tempos atuais que propicia exposição narcísica, a mais de 500 milhões de “amigos”, de que não se sabe quase nada, a não ser o que dizem ser eles.
O professor do MIT, Nicholas Carr, afirma que os congestionamentos das informações da rede nos deixam mais superficiais e menos focados. A internet teria como efeito colateral destruir os fundamentos da nossa atenção.
Realmente é desafiador escolher como proceder, que formato escolher, como ter o tal feedback, ser entendido, diferenciado e memorizado nesses tempos modernos.
Os artigos aqui apresentados n�o necessariamente refletem a opini�o da Aberje
e seu conte�do � de exclusiva responsabilidade do autor. 1503
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