O Rio de Janeiro está doente; algumas empresas, também!
“Por fora, bela viola; por dentro, pão bolorento.” É um dito popular, que ouvia muito das irmãs da minha avó. Especialmente quando me encantava, na adolescência, com o menino mais bonito da escola. “Beleza não é tudo”, elas diziam. Está bem, já aprendi que não é mesmo. E lembrei-me disso quando visitei uma empresa que está crescendo, ampliando quadro de colaboradores e volume de negócios; conserva uma boa imagem no mercado; mas amarga um índice alto de turnover, resultado de insatisfação em todos os níveis da operação. Para lidar com um problema até então desconhecido, que compromete as taxas de crescimento da organização, a diretoria pesquisou e decidiu tentar o que ainda não havia tentado: programas de desenvolvimento e transformação baseados em tecnologias sociais inovadoras.
Com base em pesquisas internas, embora bastasse aqui a observação, optamos por começar o processo pelo desenvolvimento da comunicação - entendida, aqui, como a criação de um ambiente favorável ao diálogo e à colaboração. A estratégia, que começou com uma imersão na operação sem planejamento prévio, senão o de perceber a empresa, foi desenhada para abraçar todos os níveis de liderança numa proposta de facilitar o surgimento de soluções a partir do próprio grupo. É a busca do “saber que vem de dentro”, numa referência às tradições ancestrais que reflete a crença de que o poder de transformar o que nos incomoda e nos adoece reside em nós mesmos.
Esse trabalho e toda a sua dinâmica têm muito a ver com o que acontece no Rio de Janeiro hoje. Acordei angustiada, lendo os jornais, vendo as imagens. Minha assistente, para mudar um pouco o assunto dominante, começou a me contar o périplo da irmã para conseguir uma internação na rede pública de saúde. Não há vagas nos hospitais; cirurgias são marcadas e desmarcadas, depois que o paciente se interna; setores importantes em grandes unidades são fechados por falta de recursos humanos ou materiais. Na educação, não é diferente: os resultados de provas e pesquisas não me deixam mentir. Estamos em meio ao caos.
O que une a empresa que busca soluções pra seus problemas internos e a crise no Rio é a decadência de uma estrutura social. Aumento da taxa de turnover e onda de ataques criminosos são igualmente símbolos do esfacelamento de um padrão diante das demandas de um novo cenário mundial. Em ambos os casos, a melhor pergunta, aquela que pode impulsionar mudanças reais, é: “Para que estamos aqui?” É a ela que tento responder todos os dias, não só como profissional de comunicação, mas também como mãe, mulher, amiga, cidadã, filha, entre tantos outros papéis que assumo.
O momento exige de todos uma nova maneira de pensar. Não se pode mais analisar um fenômeno (ou um problema) com a crença de que se pode isolar dele. Estamos todos envolvidos nessa aldeia global, pertinente conceito cunhado por Mc Luhan. Para lidar com a complexidade, talvez a melhor forma seja a simplicidade: acessar o conhecimento interior, buscando novas perspectivas para os conflitos que experimentamos. Perguntar-nos a que viemos, pode ajudar nesse processo de resgate de nós mesmos. Íntegros em nossas missões pessoais, podemos buscar uma compreensão mais ampla do outro e do contexto em que estamos inseridos e aí, então, acessar soluções antes inimagináveis.
Há um grito no ar. Muitos querem falar, poucos querem escutar. Quem sabe não seja esse um bom momento para o silêncio? Um tempo para repensarmos o caminho adotado até então, as estratégias e os resultados alcançados. “Para que estamos aqui?” A Comunicação Social ampliou de tal forma a sua área de atuação que tenho dificuldade em defini-la. Diante desse imperativo, para exercer minha atividade de comunicadora, percorro tantas fontes diferentes de conhecimento, que, às vezes, me obrigo a parar para juntar tudo o que vou “catando” por aí. Nesses momentos, recolho-me e aquieto a mente, certa de que é preciso apurar todas as direções do olhar, inclusive daquele que temos para conosco.
Certezas? Tenho poucas. Uma delas é a de que, em meio aos excessos, precisamos silenciar. Assim, talvez sejamos capazes de abandonar os padrões que já não nos servem mais, permitindo o surgimento de alternativas que possam compor uma nova estrutura social e organizacional. Não importa por onde as mudanças começam, o importante é que comecem. As empresas podem contribuir muito para alavancar esse processo, abrindo-se ao novo, ao que emerge de seu próprio coração, que pulsa na batida daqueles que a constroem diariamente. A comunicação pode abrir e/ou manter o caminho para manifestações do pensar, do sentir e do agir das pessoas que formam o corpo da organização. A cadeia da “cura” começa em cada um de nós, mas passa pelas organizações de toda sorte para chegar às cidades adoecidas, como o Rio de Janeiro, que, por sinal, continua lindo!
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