Você está pronto para a comunicação colaborativa?
Há uma nova lógica de concepção e exercício da comunicação organizacional. Cada vez temos menos espaço para centralidade nas decisões sobre ações de informação e relacionamento e para abordagens unidirecionais. O nível crítico e propositivo desta nova sociedade, em muito incentivado pelas interações potencializadas via informática, telefonia e internet, requer uma outra postura dos gestores de comunicação em suas tomadas de decisão. Afinal, é tempo de participação, do exercício efetivo do conversacional e do dialógico – para além das tantas teorias que povoam este já tão evidente e necessário panorama de compartilhamento de autoria e de responsabilidades.
Mais do que nunca os comunicadores servem como pontes que ligam interesses, mesmo os antagônicos - aqueles que, no conflito, fazem vibrar o conhecimento, a maturidade e a alteridade. Hoje o ambiente de trabalho reflete bastante a diversidade da população e, sem o desenvolvimento da tolerância, é fato que divergências surgirão. Nada mais antigo que propalar estes conflitos como originados tão somente de diferenças etárias – são, isto sim, decorrentes de questões geracionais. Ao recorrer a dicionários, vê-se que geração diz respeito a “cada uma das fases que demarcam uma mudança no comportamento humano”, e neste sentido pode-se perfeitamente agrupar pessoas de diferentes idades por similaridade de ação numa mesma geração. Isto se comprova de maneira muito fácil nas redes digitais.
Foi no livro “Growing Up Digital: The Rise of the Net Generation” que Don Tapscott divulgou o termo “N-Geners” lá em 1998. Ainda que tivesse fazendo referência a jovens que tinham entre 2 e 22 anos naquela época e nos Estados Unidos, e que entravam em contato de forma mais ou menos intensa com a tecnologia digital (em casa, nas escolas), o pesquisador já assinalava que o interesse deveria recair sobre o comportamento. E este grupo teria como valores o direito à privacidade, a valorização da família, do bem-estar comum e da participação em comunidades, a descrença nos governos e nas elites e o direito de agir individualmente. De lá pra cá, várias terminologias surgiram para designar então esta nova geração de pessoas altamente conectadas (os nomes não constituem o escopo deste texto, apesar de serem muito interessantes), que gosta de ambientes flexíveis, muda de ideia sem culpa, experimenta antes de usar, é imediatista, valoriza forma e conteúdo, exige ter controle sobre a própria vida e suas práticas e prefere a personalização. São coletivos que cultivam relações por afinidade, independente de delimitações físicas, e entendem a importância do netweaving – como processo de animação e articulação de redes e de seus atores que, ao contrário da noção de networking, não é egocêntrica, centrada no indivíduo, mas sim focada na comunidade como um todo.
Com isto, fica claro que a criação e a distribuição de conteúdo (informação, relacionamento ou publicidade) são afetados diretamente pela perspectiva de vida desta geração digital. Aí que entra a noção de comunicação colaborativa – que venho tratando em palestras, da maneira mais ilustrada possível para evidenciar que já é uma prática nas organizações pelo mundo em suas interrelações com públicos estratégicos: um formato de comunicação que envolve processos de produção de informação e entretenimento, por meio de sistemas informatizados em plataforma web ou em formato presencial, desde que com ativa gestão e participação de cidadãos, que atuam em diferentes papéis e intensidades de acordo com seus objetivos. A pergunta que já vem é: estamos prontos para compartilhar processos, produtos e resultados – em ações motivacionais, eventos, promoções de venda, campanhas institucionais, edição de periódicos, design? Conhecemos de maneira suficiente a relevância e pertinência de blogs, podcasting, RSS, publicidade co-criada, redes sociais digitais de relacionamento e compartilhamento (Facebook, MySpace, Orkut, LinkedIn, Flickr, YouTube, MSN, GoogleTalk, SlideShare), social bookmarking, ambientes digitais em nuvem, micro-blogging, wiki’s, mundos virtuais (Second Life, games, RPG), sistemas de rating, jornalismo cidadão?
Na era da transparência radical, o comunicador que não compreender o poder da inteligência coletiva pode estar arriscando sua sobrevivência profissional. O pensamento de Pierre Lévy, que levantou o tema em obras como “A inteligência coletiva: por uma antropologia do ciberespaço” e “As tecnologias da inteligência: o futuro do pensamento na era da informática”, justamente se fundamenta no reconhecimento de que, cada ser humano sabe alguma coisa, mas ninguém sabe de tudo, e por isto é preciso exercer a inteligência da liberdade, que valoriza cada ser humano e compreende em si os saberes de todos em direção a um mundo mais justo. Neste cenário com tantos protagonistas e tantos apelos comunicativos, são naturais a sobrecarga cognitiva e a premência de agentes que estudem e proponham soluções para uma certa ditadura da relevância – o que não cativar a atenção está fadado à morte imediata, entrará na evanescência da vida em velocidade que se auto-consome. Devido a isto que se fala com tamanha frequência na inovação como principal ativo.
Pra entender melhor o que eu desejo expressar como “comunicação colaborativa”, visite os sites de Fiat Mio, Dell, Starbucks, Battle of Concepts, Pepsico e Zooppa . Você está preparado para isto?
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