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Rodrigo Cogo
rodrigo@aberje.com.br

@rprodrigo

Relações Públicas pelo Curso de Comunicação Social da Universidade Federal de Santa Maria , é especialista em Gestão Estratégica em Comunicação Organizacional e RP e Mestre em Ciências da Comunicação pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. Trabalhou por 10 anos com planejamento e marketing cultural para clientes como AES, Bradesco, Telefonica e BrasilTelecom. Tem experiência em diagnósticos de comunicação, para empresas como Goodyear, HP, Mapfre, Embraer, Rhodia e Schincariol. Atualmente, é responsável pela área de Inteligência de Mercado da Aberje, entidade onde ainda atua como professor no MBA em Gestão da Comunicação Empresarial.

E o contador de histórias?

              Publicado em 27/06/2013

A presença do contador de histórias ressurgiu a partir da década de 70 em vários países do mundo. Foi um retorno considerado surpreendente, tendo em vista a industrialização, a urbanização e a tecnologia. O contador de histórias, segundo pesquisa de Busatto, recebeu vários nomes ao longo do tempo: era o ‘rapsodo’ para os gregos; o ‘griot’ para os africanos; o ‘bardo’ para os celtas, todos empenhados na narração oral como via para organizar o caos e perpetuar e 

propagar os mitos fundacionais de suas culturas, como “portador da voz poética.

Contar histórias é uma arte cênica, que portanto modula tom emocional e impacto sobre o público. A efetiva experiência e profundidade do relato é fator preponderante, e então toda a inspiração buscada na trajetória do evocador faz a diferença entre ser um monólogo tedioso ou uma conversa interativa. No cerne da narrativa considerada eficaz estaria ainda uma intenção de reciprocidade, de engajamento do polo ouvinte. O contador de histórias do século XXI apresenta seu trabalho por meio de espetáculos de narração oral, performances artísticas elaboradas, com o domínio de técnicas corporais e vocais e critérios de seleção para escolha de histórias. Performance é a vida dada ao texto pelo narrador, por meio de sua voz. Entre as possibilidades, estaria o uso de música, dança, poesia, declamação, mímica e artes plásticas. 

Todavia, para o ambiente organizacional, vale dizer que o ato de narrar a história deve ser conduzido de forma mais natural possível. Não convém a uma história organizacional que o narrador faça uma performance, modificando seu tom de voz e comportamento usual. A narrativa deve ter credibilidade e, para tanto, os gestos devem ser verdadeiros. Neste caso, vale a posição de Shedlock, para quem “contar histórias é a arte de esconder a arte”.

Os especialistas designaram como arcaica a época em que Hesíodo viveu e compôs seus cantos. Na Grécia dos séculos VIII-VII a.C., sua poesia precisa do aedo, ou poeta-cantor, que representa o máximo poder da tecnologia da comunicação - visto ser pelo poder do canto que o homem comum poderia romper os restritos limites de suas possibilidades físicas de movimento e visão e transcender fronteiras geográficas e temporais para contemplar figuras, fatos e mundos que se tornariam audíveis, visíveis e presentes. Como não possuíam o recurso da escrita, os indivíduos de culturas orais precisavam pensar por meio de padrões mnemônicos que os ajudavam a recuperar ideias e histórias. Neste ínterim, havia uma tendência a construir narrativas como se fossem poesias, empregando muitas repetições e figuras de linguagem.

Os relatos são criações narrativas com espontaneidade. O passado narrado carrega sempre uma opinião, porque a arte do narrar envolve a coordenação da alma, da voz, do olhar e das mãos. A narração é uma prática de linguagem e se renova a cada experiência de recordar, pensar e contar.
 
Um ponto relevante diz respeito à crescente demanda do grande público pela história vivida com a valorização das obras de history makers. A palavra do contador de histórias implica, portanto, uma totalidade e competência no saber dizer (voz), saber fazer (gestos) e saber comunicar (presença) no tempo e no espaço. O público deseja são lembranças de eventos que sejam “narráveis” e em que a contingência da materialidade seja compensada pela invenção da narrativa. 

Alex Pentland, em recentes pesquisas no Human Dynamics Lab do Massachusetts Institute of Technology (MIT), afirma que o teor do discurso pesa menos do que o modo como se expressa. Tudo é pensado a partir dos “sinais honestos, pistas não verbais que espécies sociais usam para se coordenar – gestos, expressões, tom de voz. [Eles] são singulares porque provocam alterações no receptor do sinal”. O estudioso, naturalmente, não dispensa a análise sobre o conteúdo do discurso, que pesaria mais para o sucesso a longo prazo, mas postula a importância de cuidar do formato da narrativa.

Basicamente, a capacitação de um contador de histórias envolve o estilo, a verdade, a preparação e a apresentação. Existem muitos estilos narrativos, e no sempre dinâmico ambiente de trabalho, convêm relatos simples e diretos, impregnados de um tom pessoal, o que Denning chama de ‘voz da conversação’ pela espontaneidade e coloquialidade que afastam da fala ensaiada que soa menos verossímel. Neste formato, não há uma imposição de ponto-de-vista, apenas seu relato que leva a crer estar próximo da lógica e da realidade dos acontecimentos, com certa inevitabilidade de encadeamento de fatos. Neste ínterim, a linguagem não pode chamar atenção para si mesma, mas servir tão somente de suporte para uma ideia muito mais importante.Os maneirismos de fala e as gesticulações em desacordo atrapalham a visualização do cenário e do significado da história. 

Os artigos aqui apresentados não necessariamente refletem a opinião da Aberje e seu conteúdo é de exclusiva responsabilidade do autor. 3769

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