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COLUNAS


Carlos Parente


Graduado em Administração de Empresas pela UFBA, com MBA em Marketing pela FEA USP, possui um sólido histórico de experiência em Comunicação Corporativa e Marketing, com participações e lideranças em processos de comunicação estratégica, inclusive internacionais. Também atua como professor de Comunicação e Responsabilidade Corporativa e de Marketing no MBA de Marketing da FGV, e nos cursos de pós-graduação da ESPM e Anhembi Morumbi. Publicou o livro Obrigado, Van Gogh, sobre comunicação empresarial, pela Editora Peirópolis.

Nessa longa estrada da vida...

              Publicado em 04/11/2010

Muitas vezes a soberba corporativa embaça a visão de que o fornecedor também é um stakeholder


Estava eu em Marília, no interior paulista, para prestar serviço de consultoria, atividade que exerci durante um período de minha carreira. Os trabalhos haviam se encerrado e eu me preparava para voltar ao hotel, tomar um banho relaxante. Ao cair da noite, o celular tocou. No visor: “Ligação privada”. Era uma empresa-cliente. “O presidente quer falar com você amanha às 7h30”. Eram 8 da noite, não havia mais voo de Marília para São Paulo. Solução: aluguei um carro e viajei 445 quilômetros durante toda a madrugada para estar no café da manhã com o cliente.

Passado o estresse de responder rápido à demanda repentina, comecei a refletir sobre aquela situação, enquanto as placas de quilometragem iam ficando para trás.

Em nenhum momento, sequer fui perguntado se a minha agenda comportava aquele compromisso. E percebi, com a autocrítica na bagagem, que também já havia agido daquela maneira quando estava na posição de cliente.

Isso não acontece por algum arroubo de maldade. Mas, de fato, reflete a soberba corporativa, o deslumbramento de quem está por trás de uma marca renomada. Já cheguei a ouvir de colegas de trabalho, de pessoas da minha equipe, “eles [os fornecedores] deveriam agradecer por estar trabalhando para a gente”. Menos, menos...Corta o salto 15 e bota e chinelinho da humildade.

Com essa visão dos dois lados do balcão, me dei conta de como o fornecedor muitas vezes é tratado. Pior que ele, só a nota que ele entrega. Essa aí, coitada, ou não é cadastrada no sistema ou fica esquecida em alguma gaveta ou é vitimada pela falta de algum número e o contas a pagar não pode liberar. E, por vezes, o prestador de serviço sequer é avisado da pendência, (o follow up se dá pelo extrato bancário). Quando ele liga é que comprova a existência do problema: “Ah é, a sua nota... Sabe o que aconteceu?...”

Problemas pontuais à parte, o que algumas empresas ainda deveriam perceber é que fornecedor também é um stakeholder, portanto também um formador de opinião. E não seria exagero dizer que 50%, no mínimo do seu resultado vêm da parceria com o fornecedor. Porque, por mais multidisciplinar que seja a sua equipe, você não tem todas as competências instaladas.

E de uma maneira mais filosófica, tratar o fornecedor com respeito é praticar os valores da empresa. Até porque ele tem outros clientes, família, equipe, precisa pagar os impostos, precisa honrar os compromissos com os fornecedores que ele mobiliza.

E aqui vai uma dica de ordem prática. Não se iluda, quando você sair da empresa, quem vai lhe ajudar não são os seus colegas que ficaram lá dentro, não serão seus gestores que, por contingência ou necessidade, não precisam mais de você. Quem lhe acolhe – até porque também têm interesse que você vá para outra organização – são seus fornecedores. Os mesmos que você deixou 60 dias sem pagar. Os mesmos que você não cadastrou as informações, os mesmos com quem você às vezes trabalhou de uma forma imperial.

Tudo bem, não vamos esquecer que essa é uma relação de natureza comercial, mas ninguém sai perdendo ao humanizá-la. Se ele lhe envia uma agenda de final de ano, por que não mandar uma agenda para ele? Por que ele é que tem de oferecer um brinde como se você fosse o grande imperador, detentor do poder, por você ser o provedor da remuneração dele? Por que não convidá-lo para almoçar e pagar o almoço? Por que não pode existir uma relação um pouco mais equilibrada nesse processo?

Na virada de 1999 para 2000, quando havia a ameaça de pane nos computadores (o famigerado bug do milênio), a empresa em que eu trabalhava precisava gravar um vídeo destinado ao público interno para registrar o funcionamento do sistema. E os funcionários de uma produtora, em vez de estourar champanhe à meia-noite, estavam no Centro de Processamento de Dados gravando a virada do número de quatro dígitos e o andamento das operações. É claro que cobraram por esse trabalho extra num horário um tanto quanto inusitado, mas a dedicação deles foi fundamental para a qualidade do programa exibido na TV corporativa à época. Uma parceria assim só se viabiliza se houver respeito mútuo e não pela presunção de uma parte se achar a dona do cofre.

O organismo vivo da empresa inclui o fornecedor. Se uma parte não está bem, o todo será impactado. Eu tive de viver os dois lados do balcão para perceber que precisava ser um ser humano melhor.


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