Outros olhos
A área de comunicação tem lá suas recompensas, mas não espere por pódio de chegada nem beijo de namorada
Em “O tempo não para”, Cazuza canta que é um cara “sem pódio de chegada nem beijo de namorada”. E Marina Lima, na canção “Virgem”, diz que “as coisas não precisam de você, quem disse que eu tinha de precisar?”.
Mais do que dois exemplos da boa música produzida no Brasil nos anos 80*, esses versos, pinçados, poderiam muito bem ser adaptados ao dia a dia do profissional de comunicação. Afinal, essa é uma área que não tem pódio de chegada.
Credibilidade e reputação são pedras que você empurra morro acima todo dia e basta um tropeço para tudo rolar ribanceira abaixo. Todos os dias você está construindo o seu histórico: nos seus atos, no significado, na abrangência, na coerência, na clareza do que escreve, nos seus objetivos estratégicos, na sua base ética, nos seus propósitos. Mas não tem beijo de namorada, porque sempre que você fizer o correto, isso era tão somente o esperado.
Não importa o volume de releases, de eventos externos, de publicidade, de ações institucionais de que você cuida ao longo de um ano. Ao olhar para trás, talvez haja centenas de projetos que você liderou, que sua equipe atuou. Mas, volta e meia, alguma coisa escapa. Num erro de digitação, você se atrapalha e em vez de dizer que o balanço deu 2,7 bilhões sai no comunicado interno 7,2 bi. Ou numa impressão o nome do pintor com um H a mais. Ou o serviço de estacionamento após o evento atrasa, porque a rua estava encalacrada.
Comunicação é uma área que deixa um rastro aqui e ali. Não tem pódio de chegada, não tem beijo de namorada. Nós fazemos por saber qual é a nossa verdade naquela missão, quais os nossos objetivos pessoais e profissionais, qual o objetivo estratégico da empresa e por que queremos chegar lá.
E apesar de toda essa convicção, “as coisas não precisam de você”, como canta Marina Lima. Muito profissional de comunicação acha que a comunicação é por causa dele. Mas ele sai da empresa e a comunicação continua. É claro que existe a personalidade de quem lidera os projetos. Em algumas empresas pelas quais passei, muitos projetos deixaram de existir porque estavam muito vinculados à minha forma de pensar naquele momento. Mas o fato de a empresa ter descontinuado não é motivo de orgulho para mim. Deveria ser até motivo de algumas reflexões. Até que ponto você tem de personificar a sua atuação? Até que ponto você tem de achar que tem de deixar a sua marca? Até que ponto você cria uma situação por idiossincrasia e não pela necessidade do seu cliente, seja ele interno ou externo?
Como já disse no livro “Obrigado, Van Gogh”, essa é uma profissão em que é inevitável lidar com frustrações. As compensações são enormes, muitas vezes pela satisfação de ver realizado algo que você vislumbrou por ter clareza do propósito. Mas é preciso saber de antemão que não tem louro, que não tem festa após o evento. Pelo contrário, quando todo mundo está indo para casa, você está cuidando da desmontagem da estrutura. Quando a revista sai, você já está pensando na próxima edição. Quando está todo mundo lendo, você já pensando dali a dois meses. O ciclo gira muito rápido e você fica com muito pouco tempo para sorver o gostinho do bem-feito. E aí dá saudades dos beijos prolongados da adolescência.
* O Tempo não para, canção que dá nome ao disco, gravado em 1989
* Virgem, canção que dá nome ao disco, gravado em 1987
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