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Mônica Alvarenga
monica@monicaalvarenga.com

Coach e consultora em Comunicação e Relacionamentos Organizacionais, graduou-se em Comunicação Social pela UFRJ, Letras (FEUC), especializando-se em Marketing (FGV), Comunicação Corporativa (Syracuse University, NY) e Mídias na Educação (UFRRJ). É diretora da Múltipla Comunicação. Escreve para portais e blogs sobre relacionamento e comunicação. 

www.monicaalvarenga.com

"Walk the talk": palavras que o vento não leva!

              Publicado em 01/10/2010

Escutei, pela primeira vez, a expressão “walk the talk” numa roda de conversas formada por pessoas interessadas nas tradições nativas dos índios norte-americanos. Isso foi há muito tempo e lembro-me do impacto que me causou. Aprendi que “colocar as palavras para andar” significava realizar o discurso ou, simplificando muito, falar a verdade. Honrar o que se fala por meio de atitudes é uma versão do inglês e o motivo do meu encantamento à época. Descobria, na ocasião, uma cultura que vivia o sagrado no cotidiano, considerando divino tudo que a cercava: as pessoas em sua diversidade, a natureza, o trabalho, as relações e, entre outras tantas coisas, a palavra. Para aquele povo, o que saía da boca do homem era a expressão da divindade existente nele. Profano seria, portanto, não viver de acordo com o que se dizia.

Retomo um pouco da cultura indígena porque tenho ouvido, com alguma frequência, no mundo corporativo, a frase “walk the talk”. Causa-me estranheza por que verifico que, entre muitos daqueles que a repetem, seu significado não é honrado e, muito menos, a sua origem. A expressão está ficando banalizada. Há líderes que se lembram do “talk” mas não do “walk”, esquecendo-se de que “um exemplo vale mais do que mil palavras”.

Tudo muito comum num mundo em que a palavra perdeu seu valor. As campanhas políticas tornaram-se símbolos dessa realidade que promove a desconfiança e a insegurança. Há exceções, mas, de uma forma geral, a fala transformou-se em falácia. Mais do que reações indignadas, a falta de ética tem provocado a desesperança daqueles que a percebem, que seguem suas vidas acreditando cada vez menos em seu próprio potencial de mudança. Essa lógica (?) reproduz-se em nossas vidas pessoais, onde nem sempre preocupamo-nos em alinhar nossas “falas” às nossas crenças e valores e, claro, nas organizações onde atuamos.

Analisando crises e a consequente perda de reputação nas corporações, pode-se verificar que, em grande parte das vezes, bastaria ter dito a verdade para evitar grandes danos. Simples? Acho que não, porque por conta dos problemas gerados pelas incoerências das empresas surgiram os planejamentos, os departamentos e os responsáveis por sua reputação. O assunto é estratégico e depende de fatores como qualidade de produtos e serviços, performance financeira, liderança e responsabilidade social entre outros. Seu maior lastro, no entanto, é a confiança dos stakeholders. E isso só se consegue com honestidade.

Sendo assim, “walk the talk” é mesmo um princípio fundamental, desde que seu significado seja honrado, como dizem os nativos. Quando o empregado percebe unidade entre o que ouve e o que experimenta numa empresa é o primeiro a brigar por sua reputação. Afinal, quem não quer vestir a camisa e defender com paixão a companhia onde passa a maior (e talvez a melhor) parte de seu tempo?

Como ninguém desiste de ser brasileiro diante de políticos mentirosos, empregados nem sempre pedem demissão por saber que o discurso da empresa não é coerente com suas ações; mas a continuidade, em ambos os casos, promove a descrença. É o pior efeito do esvaziamento das palavras. Quem desacredita acaba generalizando e desconfiando de pessoas, empresas e políticos que merecem crédito. Nesse cenário, o resgate de expressões como “walk the talk” pode ser um bom sinal. Cabe aos “donos” dos discursos a responsabilidade de cumprir o que prometem (ou de prometer apenas o que podem cumprir). Podemos aprender com nossos ancestrais a honrar as palavras, restabelecendo a confiança em todas as nossas relações.


Os artigos aqui apresentados n�o necessariamente refletem a opini�o da Aberje e seu conte�do � de exclusiva responsabilidade do autor. 3100

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