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COLUNAS


Francisco Viana
viana@hermescomunicacao.com.br

Jornalista, Doutor em Filosofia Política (PUC-SP) e consultor de empresas.

 

Democracia nas ruas

              Publicado em 19/06/2013
A voz da sociedade ganha as ruas em todo o País, tendo São Paulo como ponto de partida. Onde estão os assessores de comunicação do poder público? Onde estão os assessorados? Há muito, o País vem transitando de uma mera sociedade de consumo para uma sociedade política, marcada por grandes mobilizações. Será que assessores do setor público e assessorados não vêm tal realidade? Quais os caminhos para sair da crise que ganha proporções nacionais e projeta uma imagem de conflitos sociais no exterior, às vésperas de sediarmos a Copa do Mundo?
 
Crise é quando ocorre uma reação em cadeia. Exatamente o que estamos assistindo. Começou com uma manifestação em São Paulo e no Rio de Janeiro contra o aumento de passagens de ônibus, logo estendeu-se contra a repressão policial, contra os problemas do transporte público, saúde, educação, corrupção e tudo isso aconteceu de maneira veloz, envolvendo número crescente de cidadãos. São multidões: 100 mil no Rio de Janeiro, cerca de 70 mil em São Paulo e, assim, sucessivamente em grandes e pequenas cidades.
 
Por quê? Na raiz de tudo, encontra-se uma crise de representação. Criou-se uma espécie de “bala mágica” contemporânea. Ou seja, fala-se em diálogo, em participação, em ouvir a voz das ruas, mas na prática as reformas não saem do papel.  Criou-se um diálogo de surdos. Há 25 anos, nascia a Constituição Cidadã e, a seguir, tivemos a primeira eleição presidencial com voto direto. A partir daí, caminhou-se para o esgotamento do modelo político. Não bastava apenas as eleições. Era preciso reformar o País, fazer mudanças. 
 
É o que a sociedade busca hoje nas ruas. Comunicação não é feita apenas de palavras ressonantes. Comunicação é gestão de qualidade. Assim como uma empresa não pode caminhar na contra mão dos clientes, o poder público não pode caminhar na contra mão dos eleitores. Daí, o significado e o alcance da comunicação pública. 
 
A comunidade política não existe. O que existe é a comunidade social que tem na política a sua forma de expressão e representação. Não são mundos isolados, são mundos que se interligam. Ao debruçar-se sobre a Roma antiga, republicana, Maquiavel fala de uma sociedade “tumultuária” e argumenta com clareza: aqueles que condenam os tumultos entre nobres e plebeus censuram a primeira liberdade romana que é a capacidade de se expressar.   Roma morreu quando morreu a liberdade “tumultuária”.
 
A democracia é isso: é choque, é a busca da perfectibilidade ilimitada dos seres humanos e da marcha irrefreável para o progresso. A crise de representação está a exigir um novo ciclo de gestão da sociedade brasileira e, neste, a comunicação passa a ocupar lugar primordial. 
 
A tirania do nosso tempo é fazer das palavras um escudo contra as manifestações da sociedade. A democracia caminha no sentido inverso: fazer a aliança entre informação e ação um alimento da razão para unir governantes e governados. Não é tarefa fácil, mas é o desafio que a juventude dos tempos exige e vai continuar a exigir até que haja identidade entre emissor e receptor, numa nova forma efetiva de comunicação. 

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