O que estamos a semear?
“Saiu o semeador a semear suas sementes. Parte caiu à beira do caminho e foi pisada; parte caiu entre os espinhos e foi sufocada por eles; outra, porém, caiu em terra boa, e, tendo crescido, produziu frutos a cem por um.” (Adaptado de Lucas 8, 4-8)
Foi assim, meio semeadora, que me senti na semana passada, ao palestrar para um grupo de profissionais de Comunicação e Recursos Humanos de indústrias do Rio. O objetivo era apresentar uma alternativa aos modelos tradicionais de planejamentos de comunicação. Nada muito sofisticado, muito pelo contrário: o maior avanço proposto era a percepção do elemento humano não só como alvo do trabalho, mas como agente de todo o processo de criação que resultaria numa série de ações para promover a interação entre os diferentes públicos de uma empresa.
Em dado instante, a gerente de Comunicação de uma das organizações presentes apontou seu maior instrumento de trabalho: “Sou formada em Administração de Empresas, caí de paraquedas na área de comunicação e aprendi a usar o feeling. Estou sempre experimentando e sentindo as pessoas”. Interrompi minha fala, com prazer, para reforçar o que gostaria de deixar registrado para aquele grupo: a oportunidade de resgate do valor humano a partir das práticas de comunicação interna.
Temendo o risco de parecer panfletária, preparei minha apresentação com o embasamento de estudiosos que demonstram, com suas pesquisas, a necessidade premente desse resgate. Também preparei gráficos e estatísticas que comprovam os intangíveis que mais atribuem valor a uma organização. Aquela profissional, no entanto, mostrava, com o simples exemplo da sua prática, o quanto é possível sentir e perceber o outro nas ações de comunicação no ambiente empresarial.
Mas todos percebemos o outro, certo? Errado. Todos temos essa faculdade, mas a grande maioria de nós, imersos em nossos cotidianos, perdeu a capacidade de sentir. Agimos no “piloto automático” e é preciso uma boa chacoalhada para que recobremos os sentidos e a percepção. Sem querer, muitos estamos a serviço de ações de que discordamos, pela necessidade de sobreviver, produzir e atender às muitas demandas que nos são impostas diariamente. Seguimos na tentativa nobre de “dar conta” e de oferecer ao mundo o melhor de nossos potenciais. Sem sabermos, fazemos exatamente o contrário, perdendo grandes chances de realizarmos o grande potencial que temos em nós, a serviço das organizações em que atuamos e do próprio mundo.
Calamos sentimentos, para que possamos agir, cumprir prazos e bater metas, que nem sempre nos dizem alguma coisa. E, se não falam aos nossos corações, os objetivos podem até ser atingidos, mas de forma automática, contando com o potencial parcial daqueles envolvidos em sua consecução. Mas o pior não é manter uma organização em que as pessoas envolvem-se (ainda que por uma opção inconsciente) parcialmente. Ruim mesmo é trabalhar em um lugar em que chegar e sair é uma ação automática e obrigatória, e o dia mais esperado, a sexta-feira.
Penso na minha rotina, meio fora do padrão. Tenho trabalhado muito e uso, às vezes sem querer, o sábado e o domingo. Mas só me permito fazê-lo, porque, muitas vezes, me dou ao luxo de tirar uma terça-feira para ficar de pernas pro ar ou para ir ao cinema de tarde. Ajo assim porque conservo paixão pelo que faço, procuro usar mais do que 100% do meu potencial em todos os projetos com que decido me envolver. E isso não é um privilégio. É o resultado das minhas escolhas.
Aquele grupo de RH e Comunicação com quem conversei pediu-me que apresentasse um projeto para elaboração e implantação de um planejamento de Comunicação Interna no segmento industrial. Mas eu queria ir além. Pecisava mostrar que, através daqueles profissionais, alguma mudança poderia acontecer no seio daquelas organizações. Desejava enfatizar que, sem temperar as ações de comunicação com afetividade, não teríamos chance alguma de mudar os ambientes organizacionais. A mudança teria que começar por ali, por aquele seleto grupo.
Acredito que, quando um profissional sente-se percebido pela empresa em que trabalha, volta para casa com uma tendência maior a perceber o outro, o que se reflete não só no trabalho em equipe, mas também em seus relacionamentos familiares. Estávamos, portanto, falando em plantar sementes, começando pelas ações de Comunicação. Propus que esquecêssemos as regras e partíssemos da ferramenta que a colega, brilhantemente, resgatara: o feeling, também chamado de intuição. Temos muito a aprender uns com os outros e, nesse processo, ganham a empresa – que aumenta as chances de contar com o potencial pleno de seus colaboradores-; o empregado – que se sente acolhido por um ambiente mais fraterno –; e a sociedade – que recebe pessoas mais satisfeitas e confiantes, prontas para “sentirem” o mundo à sua volta, começando, quem sabe, por suas casas.
Pensando bem, talvez tenha sido um pouco panfletária nessa minha “fala”. Mas foi inevitável. Quando me dei conta de que aquele grupo poderia começar a revolução do sentir em suas empresas, empolguei-me. Era uma oportunidade imperdível de lançar sementes e de conquistar novos semeadores.
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