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COLUNAS


José Eustáquio Oliveira de Souza


Presidente da Editora VEGA Ltda. e membro do conselho da Aberje. Atuou em cargos de destaque na área de comunicação de grandes multinacionais, como o Grupo Gerdau.

A Criatividade Brasileira na Economia Criativa

              Publicado em 05/06/2013

 No livro “The Creative Economy” John Howkins aborda algumas das atividades econômicas em que indivíduos exercitam a imaginação. Através de processos que envolvem criação, produção e distribuição, surgem produtos ou serviços que aliam conhecimento, criatividade e capital intelectual como principais recursos produtivos. 


Economia Criativa também pode ser definida como a realização comercializável que incorpora elementos tangíveis e intangíveis dotados de valor simbólico. Ela traz a oportunidade de confluir conhecimento e criatividade no mundo dos negócios. Um conceito novo no Brasil desse tema já considerado entre as grandes estratégias de desenvolvimento socioeconômico do século 21. 

A Austrália e o Reino Unido saíram na frente ao identificarem a indústria criativa como fortemente promissora e oportuna para revitalizar suas economias. Mas a bibliografia costuma resgatar o relatório de 1997, o UK’s Creative Economy - da Secretaria de Cultura Britânica - como o grande marco do processo. A partir desse momento o país passou a inserir Economia Criativa como prioridade na sua política pós-industrial. As profissões foram agrupadas nos segmentos: Publicidade, Arquitetura, Mercado de Artes e Antiguidades, Artes Cênicas e Performáticas, Artesanato, Design, Expressões Culturais, Filme & Vídeo, Mercado Editorial, Moda, Música, Software, Games, TV e rádio. Todas consideradas atividades criativas e com alto poder de geração de negócios sustentáveis. 

Segundo a Conferência das Nações Unidas para Comércio e Desenvolvimento (Unctad) essas atividades encontram-se no cruzamento da arte, cultura, tecnologia e negócios. A entidade estima crescimento de 10% do setor nas próximas décadas e alguns estudos já as consideram líder de negócios em alguns países desenvolvidos. 

No mundo a Economia Criativa já movimenta cerca de US$ 8 trilhões por ano, representando 8 a 10% do PIB global. Aqui, segundo dados do IBGE, em 2010 os segmentos criativos contribuíram com R$ 104 bilhões ou 2,84% do PIB o que aponta para a necessidade de investimento, incentivo e profissionalização do setor no Brasil. 

Outra tendência pouco explorada por aqui é o da “culturalização dos negócios”que inova produtos e serviços, para ampliar mercado e fidelizar clientes, através da incorporação de elementos culturais e criativos na gestão. 

Frente a essa premência foi criada em 2012, a Secretaria da Economia Criativa – ligada ao Ministério da Cultura - que tem como missão “conduzir a formulação, implementação e monitoramento de políticas públicas para o desenvolvimento local e regional, priorizando o apoio e o fomento aos profissionais e aos micro e pequenos empreendimentos criativos brasileiros. O objetivo é contribuir para que a cultura se torne um eixo estratégico nas políticas públicas de desenvolvimento do Estado brasileiro”.O Observatório Brasileiro da Economia Criativa é a instância responsável pela produção e difusão de pesquisas, dados e informações sobre a economia criativa brasileira, bem como pelo estímulo ao debate. 
 
 
Moda made in Brazil
 
A moda é um dos setores de destaque na Economia Criativa do Brasil. Ela agrega criatividade e transborda para outros setores, encadeando cadeias produtivas. O São Paulo Fashion Week é seu grande case ao mostrar inovação, inspiração, qualidade e conhecimento para o mundo todo. Aglutina diversas redes impulsionando a cadeia do setor têxtil. Extrapola o universo da moda, articula a inovação, é ponto de convergência da criatividade e comunica o país e a “Marca Brasil”. 
 
Hoje o portal do SPFW recebe quase 300 mil visitantes todos os meses. O evento se configura na quinta maior semana de moda do mundo e é destaque nas mais importantes publicações do setor, unindo São Paulo a Paris, Milão, Nova Iorque e Londres. 
 
Como afirma artigo da revista Bahia Análise & Dados, da mercantilização da cultura passamos ao fenômeno da culturalização da mercadoria. O vestuário é comportamento, o mobiliário é design, o turismo espetáculo etc. Carros, celulares, eletrodomésticos são apenas alguns dos objetos que congregam moda, design e comportamento. 
 
As brasileiríssimas Sandálias Havaianas são viraram temas de palestras, estudos e teses. Pode-se dizer que a sandália congrega uma imagem associada à identidade brasileira e ao nosso jeito despojado de ser. 
Afinal, trata-se de um legítimo sucesso mundial. Aqui estão nos pés de gregos e troianos e lá fora nos dos artistas e modelos, reforçando o slogan segundo o qual “Havaianas todo mundo usa”. 
 
 
Produções em vídeo para a Web
 
No setor TV e Vídeo as emissoras tradicionais levam seus programas para a internet e, em movimento contrário, empresas online realizam produções exclusivas para a Web. A primeira série produzida pela Netflix, HouseofCards, custou US$ 100 milhões, tem 13 episódios e todos estrearam no mesmo dia. A empresa, que começou como locadora de DVD por correio,evoluiu para o negócio de streaming de vídeos e se tornou gigante com 1/3 do tráfego norte-americano de streaming noturno. 
 
A Amazon Studios é o braço de mídia da mega empresa de vendas online, que agora produzirá comédias e programas infantis. Roteiros para televisão e cinema são submetidos através da web e avaliados por outros leitores de uma forma crowd-source. 
 
Em vários países a imprensa colaborativa, o crowdfunding de experiências e as modalidades de social production / crowdsourcing apontam para crescimento das práticas colaborativas e das diferentes formas de produção da nova economia. Conhecimento a partir do conhecimento, com o coletivo somado ao voluntário. 

A Comunicação organizacional pode aproveitar essas novas experiências potencializando a participação dos funcionários em produções de vídeos que aprofundem relatos, contem histórias e resgatem o conhecimento coletivo. 
 
 
Potencial dos games
 
No ano passado as vendas de games cresceram 60% e transformou o Brasil no quarto maior consumidor de jogos eletrônicos. Esse setor da Economia Criativa tem grande potencial seja para o lazer, a educação, o treinamento ou a publicidade. Advergame, por exemplo, é o nome dado à estratégia de comunicação mercadológica que usa jogos eletrônicos como ferramenta para divulgar e promover marcas, organizações ou pontos de vista. 
 
Por aqui a criatividade e a diversidade brasileira são poderosos fermentos para panificar esses novos produtos e serviços. Do malabar circense, passando pelo repentista até o rapper ou o desenvolvedor de games, temos poderosos talentos dentro da nossa diversidade. As diferentes dimensões simbólicas da produção de conteúdos podem criar estéticas, produtos e serviços com a “cara” do Brasil. O público, ao participar de atividades culturais, de entretenimento e lazer, consome menos “enlatados” e maisprodutos criativos que geram renda aos produtores locais e ao país. 
 
 
Comunicação e criatividade 
 
Outro aspecto interessante da Economia Criativa é que ela contempla a Comunicação Organizacional em vários de seus segmentos. Está presente na Publicidade, Design, Expressões Culturais, Filme & Vídeo, Mercado Editorial, Games, TV e rádio. De alguma forma os profissionais da comunicação fazem parte dos processos de criação, produção e distribuição desses produtos – serviços criativos. E essa participação pode ser bem maior pela capacidade dos gestores em alinhar conhecimento e criatividade, bem como pelo potencial inerente do país.
 
No Brasil das praias ensolaradas, do futebol, da caipirinha e do Carnaval temos uma pesquisa interessante. Ao deixarem o país, mais da metade dos estrangeiros deu como resposta à pergunta “O que tem de mais positivo no Brasil?”: - “O seu povo” (52% das respostas). Em segundo lugar ficaram as praias e o mar (28%); a beleza natural do País (22%) e o sol com o clima tropical (19%). 
 
Como disse o antropólogo Darcy Ribeiro é a alegre alma tropical desse povo mestiço e sofrido, mas generoso e aberto à convivência. 

Os artigos aqui apresentados n�o necessariamente refletem a opini�o da Aberje e seu conte�do � de exclusiva responsabilidade do autor. 4184

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