A lição do estadista
Para variar o Brasil meteu-se, novamente, em um enorme embrulho político que esfacela a economia e traz em seu bojo uma crise social que se agrava a cada dia. Os números da crise são terríveis, e as consequências, trágicas. O aumento do desemprego e da violência urbana denuncia a tragédia.
O mais grave, porém, é que o governo da presidente Dilma Rousseff – que faz qualquer negócio para não sair do poder – não consegue implementar o necessário ajuste fiscal apresentado como forma de arrumar a economia. A presidente não estabelece pontes de comunicação verdadeira (diálogo) com os diversos atores da economia e da política, dentro e fora no Congresso Nacional, para criar consensos que possam solucionar a crise no curto, médio e longo prazo.
Em outras palavras, fazer política como ela deve ser feita, em alto estilo. O que significa discutir com toda a sociedade quem pagará o pato, e como os rombos causados pelo governo nas contas públicas serão pagos. O Estado cortará seus custos? Haverá aumento de impostos? A máquina pública finalmente começará a funcionar sem corrupção? O problema é que faltam disposição e credibilidade da parte de um governo que, como se sabe, venceu as eleições com um discurso e, guindado novamente ao poder, faz exatamente o contrário do que prometeu.
Até aí se aceita. A vida é assim mesmo, diriam os velhos sábios. Errar é humano, contemporizariam. Porém acrescentariam: permanecer no erro é burrice. Há, ainda, outra situação que meu avô achava o pior dos mundos: a tal paralisia que ele chamava de “síndrome do burro empacado”. Aquela em que o burro não anda nem para frente, nem para trás. Cofiando a barba, meu avô Eduardo, boêmio e violeiro contumaz, aconselhava: a vida é um moinho. Se a gente não atua corretamente diante dos desafios, ela tritura nossos sonhos tão mesquinhos e reduz nossas ilusões a pó, como ensina Agenor de Oliveira, o mestre Cartola.
No caso no governo Dilma Rousseff – e sua forma de encarar a crise – as causas do “empacamento” podem ser várias: apagão de inteligência, cegueira ideológica, incompetência administrativa e política, falta de humildade para fazer autocrítica. Ou todas elas ao mesmo tempo, como penso que sejam. Por isso é impopular e não lidera o país para superar a crise, apesar de gastar bilhões de reais dos cofres públicos com propaganda e marketing, atender às demandas mais mesquinhas da base aliada no Congresso e conceder benefícios aos montes para sindicalistas, ONGs companheiras e empresários amigos.
Sangue suor e lágrimas
A lição que países e empresas bem-sucedidas aprenderam para superar crises foi envolver as pessoas com a estratégia do país (ou da companhia) como fator crítico de sucesso fundamental. A estratégia deve ser clara e fácil de entender, além de ser sistematicamente compartilhada com todos os seguimentos da sociedade (ou da empresa) que deverão definir o papel de cada um deles no processo de superação da crise. Como isso sempre envolve sacrifícios e perdas para todos, o diagnóstico da situação tem que ser verdadeiro, rigoroso e minimamente consensual, mesmo que trágico. Para tanto, o líder – do país ou da empresa – tem que aceitar o que foi diagnosticado, fazendo autocrítica de seus erros e comprometendo-se com os rumos traçados para enfrentar a crise.
Foi o que fez o estadista britânico Sir Winston Churchill ao se tornar primeiro-ministro do Reino Unido no começo da Segunda Guerra Mundial – quando os ingleses estavam sendo sufocados pelos nazistas. Depois de organizar um governo de unidade nacional, com participação dos líderes dos partidos Trabalhista e Liberal, Churchill (Conservador) apresentou-se na Câmara dos Comuns com um discurso que se tornou célebre.
O trecho mais importante: – Perguntam-me, qual é o nosso objetivo? Posso responder com uma só palavra: vitória. Vitória a todo custo, vitória a despeito de todo terror, vitória por mais longo que possa ser o caminho que a ela nos conduz. Porque sem a vitória não sobreviveremos. Só tenho a lhes oferecer para conquistarmos a vitória sangue, sofrimento, lágrimas e suor, conclamou Churchill da tribuna. Deu certo. A Inglaterra, sob sua liderança, ajudou o mundo a espantar o terror nazista.
Não temos as tropas nazistas batendo nas nossas portas, mas um enorme conjunto de crises (econômica, ética, política, social, cultural e moral) que pode implodir todos os avanços conquistados nos últimos 20 anos. Pior. Ele nos ameaça com uma nova década perdida pela frente, como ocorreu nos anos 1980 de triste memória. O que implica muito sofrimento, lágrimas, suor, sangue e vidas a serem inutilmente perdidos. É dever dos líderes – e é o que se espera da presidente – unir a nação para superar as crises por meio do diálogo sério, corajoso e humilde. Isto é, colocando a verdadeira comunicação a serviço do bem comum. O Brasil merece mais uma chance.
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