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COLUNAS


José Eustáquio Oliveira de Souza


Presidente da Editora VEGA Ltda. e membro do conselho da Aberje. Atuou em cargos de destaque na área de comunicação de grandes multinacionais, como o Grupo Gerdau.

O exemplo é o que importa

              Publicado em 30/09/2015

Dizem que uma imagem vale mais que mil palavras. Vale mesmo. A história tem inúmeras provas nesse sentido. Das mais famosas é a foto da garota vietnamita nua, corpo coberto de queimaduras provocadas por bombas de napalm, fugindo de um bombardeio das Forças Armadas norte-americanas na guerra do Vietnã. Mais do que os milhões de artigos, editoriais e discursos, a publicação da foto nas primeiras páginas dos jornais e nas matérias das TVs dos EUA e mundial, foi decisiva para o engajamento do povo americano na luta pelo fim do conflito. É que a imagem sempre vence o blá-bla-lá.

Os velhos sábios dizem também – com convicção – que um exemplo costuma valer mais que um milhão palavras, mais que mil imagens. Concordo com eles, lembrando-me de fatos que ocorrem com frequência nas casas de família, onde os pais tentam, inutilmente, impor regras de comportamento rigorosas aos filhos. Motivo do fracasso: o que exigem dos filhos não são respeitado por eles próprios, no mais hipócrita estilo do “façam o que digo, não o que faço.” E, na vida real, na maioria das vezes, a coisa fica assim: pais fumantes, filhos fumantes; pais corruptos, filhos safados, e por aí afora. Os filhos imitam os exemplos dos pais, não os discursos. Depois, não adianta ficar se perguntando cinicamente: onde foi que errei? Exemplo é tudo. Vale para todas as situações em que os viventes se envolvam.

Simplesmente porque a comunicação mais forte e verdadeira se dá pelo exemplo. Ela está presente em qualquer manifestação ou comportamento humano. Cada ato, cada gesto, cada signo representado integra um processo de comunicação. A linguagem manifesta é apenas parte dos códigos que usamos para expressar nossas ideias e emoções. Mas, deliberadamente ou não, as pessoas se expressam o tempo inteiro pela comunicação não-verbal. Viver é um processo permanente de comunicação com a gente mesmo com o outro, com o meio ambiente. Como?  Por meio de expressões faciais, dos movimentos do corpo (mímica), pela roupa que vestimos (ou não!), pela aparência física, pelo olhar, pelo grito, pela ausência, pela presença, pelo silêncio. E muito pelo que agimos ou reagimos aos efeitos do ambiente ao nosso redor.

A cara fechada de um chefe no início da jornada dá para sua equipe o tom de como será o dia do trabalho. Isso que dizer que toda ação é uma ação de comunicação – expressa ou não.  Nas relações empresariais essa constatação é um fato absolutamente corriqueiro. Passamos a maior parte de nossas vidas no trabalho, conhecemos bem nossos colegas, chefes e patrões. Com bastante acerto sabemos como se sentem e percebemos os significados de sua atitude. Por isso, em tempos de crise, todo mundo sabe quando o passaralho está chegando ou não.

Não adianta a empresa mentir, as pessoas sentem o que está acontecendo, pelo comportamento dos chefes, ou por meio do não dito pelos diretores – é o que está por detrás do tal clima empresarial. Um ambiente de desconfianças é o ideal para o surgimento dos boatos, dos mal-entendidos e do baixo astral. Daí a importância da comunicação face-a-face verdadeira e corajosa da empresa com seus colaboradores para esclarecer as coisas e firmar compromissos sinceros entre as partes. É o que mantém o clima saudável e a produtividade em alta. Do contrário... babau.

Os políticos andam com a popularidade em baixa no mundo inteiro. No Brasil, mais ainda. Também pudera, viraram sinônimo de mentira e corrupção, em sua maioria. Com razão. Depois que descobriram os “milagres,” do marketing acham que a mentira é a melhor forma de governar e enganar o eleitorado tolo. Foi o que fez a presidente Dilma Rousseff na campanha eleitoral de 2014, na qual prometeu o contrário do que está fazendo no atual mandato. Agora, com a popularidade ao rés do chão, o país quebrado por causa de sua “nova matriz econômica” e a vida da maioria dos brasileiros pela hora da morte – inflação, desemprego, derrocada das indústrias, déficit público alto, etc. –, a presidente, sem reconhecer seus erros, quer impor ao povo um plano de ajuste baseado na cobrança de mais impostos. Pior. Quer continuar a gastança perdulária de um modelo de gestão populista, estatal e falido.

Resultado. O país não consegue superar a crise porque há um imenso hiato entre o que quer o governo e os sacrifícios que a população não aceita pagar. O governo diz que vai cortar suas despesas na carne, mas aumenta as mordomias, promete, promete, mas educação, saúde, segurança, respeito ao meio ambiente são apenas quimeras. Mais grave: a corrupção campeia no governo, como demonstram, diariamente, o Ministério Público e a Polícia Federal com a Operação Lava-Jato. Por isso, a presidente corre o risco de perder o emprego, apesar do falatório de seus aliados de partido, do apoio dos banqueiros que lhes devem os lucros astronômicos que têm obtido, e da tentativa de iludir o povo inundando a mídia com comerciais sem credibilidade. Para o povo, o mau exemplo de Dilma Rousseff valeu mais que milhões de palavras, mais do que zilhões de imagens. Não há João Santana que a salve do descrédito. Credibilidade em comunicação se dá pelo exemplo.

O ex-presidente norte-americano Abraham Lincoln dizia que podemos enganar a algumas pessoas durante algum tempo, mas nunca todos durante o tempo todo. A presidente do Brasil não acredita na filosofia de gringos.


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